Um lançamento de Blut Aus Nord não costuma ser nenhuma ocasião rara, uma vez que costumam sair múltiplos EPs no espaço de um ano e, por norma, um longa-duração entre eles. A fartura pode ser muita, mas também o é a qualidade já muito bem reconhecida destes mestres franceses e o 3º álbum da saga Memoria Vetusta não é excepção à regra, mas conseguirá estar ao nível dos outros dois clássicos desta linha?
Para os que acompanham o projecto de Vindsval, certamente que já sabem que este é um álbum de black metal atmosférico que se irá aproximar às raízes escandinavas do género e não um registo da onda mais experimental onde figuram álbuns como “The Work Which Transforms God” e a recente trilogia “777”. É também o álbum que marca uma mudança de line-up na banda: Ghöst e W.D. Feld já não perfazem os seus serviços de baixista e baterista de Blut Aus Nord, dando lugar ao italiano Thorns (Frostmoon Eclipse e ex-Glorior Beli) na bateria e Vindsval ocupando-se dos restantes instrumentos e, como sempre, de toda a composição do disco.
Quando se põe “Saturnian Poetry” a rodar e se ouve os primeiros dois minutos de “Paien”, tem-se a confortável sensação de se encostar na cadeira e dizer para nós mesmos:”isto vai ser bom.” E é bom, sim, muito bom! Numa onda flamejante de imparáveis blastbeats e riffs vorazes que se recusam a abrandar até que o último segundo do álbum toque, o ouvinte é raptado de onde quer que esteja para uma dimensão bela e estranha, cheia de harmonias etéreas e intensas como uma erupção solar; é só ouvir qualquer um dos temas, desde o poder inegável de “Henosis” às mais contemplativas “Metaphor Of The Moon” e “Tellus Matter”.
Em comparação com os seus antecessores, “Saturnian Poetry” revela-se um disco bastante linear, não se diversificando como “Dialogue With The Stars” nem procurando a grandiosidade de “Fathers Of An Icy Age”, se bem que partilha da mesma intensidade e mestria de hipnotizar o ouvinte. Um álbum que não deve ser posto de lado e que se revela mais uma das grandes propostas musicais do ano.
Review por Tiago Neves