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Reportagem: Artilharia Pesada II @ República da Música, Lisboa - 13/09/2014


Na tarde de 13 de Setembro, Alvalade foi alvo de mais uma peregrinação das hordes à República da Música, desta vez para homenagear um cartaz exclusivamente português.


O local, que parecia preparado para acolher uma multidão, viu acontecer o primeiro concerto por volta das 17h30, infelizmente com poucos presentes. Mas isso não impediu os Deadly Force de mostrar o seu Heavy Metal. O vocalista Flávio surpreendeu com uma voz poderosa e impressionante, atingindo uns agudos impressionantes. Com uma boa técnica e um cardápio consistente, os meninos das cordas estiveram muito à vontade em palco, juntando-se a certo ponto numa threesome de riffs a um canto. Ficou prometido pelos Deadly Force, um novo EP para finais deste mês ou início de Outubro.


Os Toxic Room começaram às 19 horas, com um estilo menos Iron Maiden e mais Hard Rock. O guitarrista Leander, conseguiu arrancar umas melodias bastante boas e sem exageros nos solos. Excelente combinação da voz de Alex, também guitarrista da banda (e novo vocalista de Midnight Priest), com a voz da cabeleira farta de Antim (baixista). Alex, com um estilo muito 70s, de uma rouquidão soft a fugir para uns screams mais agudos, e Antim, com um toque de gutural, mais grave e profundo, criam uma harmonia que completa a música dos Toxic Room e os puxam para uma originalidade rara dentro deste género.

Como pontos menos positivos, destaco o som da guitarra de Alex, que estava consideravelmente mais baixo do que o dos outros instrumentos, o que fez com que se perdesse algumas notas. Apesar da qualidade do concerto, o espaço ainda não estava muito composto.


Os Mass Disorder tocaram até ao intervalo para jantar. Com uma energia contagiante, desde saltos em palco, passando por abraços motivacionais aos bandmates e ainda uma grande interacção com o público, Bruno fez a festa toda. Tecnicamente, destaque para as guitarras e para a boa conjugação com o baixo criando um bom ritmo, embora a música pedisse uma bateria mais marcada, para puxar um pouco mais pelo headbang. Tocaram uma "música fresquinha", com direito a cábulas e tudo, sendo que foram um excelente aperitivo para abrir o apetite para as bandas da noite.


Os Cruz de Ferro mostraram bem a definição de Heavy Metal à 'Tuga. Com um som espectacular, tocaram os temas do seu único lançamento até à data - o EP "Guerreiros do Metal" - com mestria e uma excelente presença em palco. O vocalista Ricardo, com a sua voz vibrante e humor contagiante, foi o primeiro do festival a conseguir arrancar reacções mais efusivas do público. Tocaram uma música nova, "Santiago", que constará do álbum que prometem apresentar ao público, mas cuja data de lançamento está ainda no segredo dos Deuses do Metal. Ricardo abençoou a nova música com um "Mas antes, um vinho do Porto", mostrando como aquele era o ponto alto da noite para a banda. Com letras em português e que encarnam perfeitamente o Heavy Ghost do Metal, "Defensores" marcou o concerto, assim como o final com "Guerreiros do Metal", que incluiu um toquezinho particular de um verso mudado para "Se não és do Metal, vai pó caralho!". 



Os Cruz de Ferro foram a entrada perfeita para a noite de música pesada cantada em português que se seguiu com os grandes Holocausto Canibal. Mesmo sem as suas batas de talhante sujas de sangue ou carne crua a rolar pelo ar ("já nos deixámos disso há um ano atrás"), a putrefacção Grindesca continua. Quase sem conversas, os Holocausto estavam ali para tocarem o seu som grotesco, impenetrável para a maioria do público. Mas, alheios a isso, os Holocausto Canibal tocaram mais uma vez com paixão e brutalidade, dando aos fãs aquela oportunidade de catarse de todas as raivas e frustrações que só um concerto deste calibre permite.


Deram então o palco ao veneno dos Mata-Ratos, banda que não precisa de apresentações. Apesar do contraste da atmosfera densa de Holocausto com o espírito rebelde e provocatório de Mata-Ratos, o público parecia ter estado realmente à espera da banda para se divertir. Newton e companhia mostraram como após 30 anos de carreira se consegue pôr aquele público apático a berrar "Cona, Cu e Mamas!" e até a fazerem uma espécie de mosh. Os fãs agarravam-se às grades em pulos e êxtase, o que acabou por ser a salvação do vocalista, que se desequilibrou por momentos e foi agarrado pelos fãs mais próximos. Newton acabou por sair do palco e mostrar a sua energia no chão, a cantar directamente para o público. O concerto acabou com o microfone a ouvir muitas vozes diferentes a chamar nomes à Sogra, à medida que ia rodando de boca em boca. Foi o final perfeito de um dia dedicado à música pesada portuguesa.


Como notas finais... A maior "desilusão" foi mesmo o público, que infelizmente não encheu o espaço e que perante o esforço e dedicação de bandas nacionais de qualidade esteve sempre demasiado bem-comportado. O melhor desta noite, é que continua a haver quem acredite na música que se faz neste país, sejam produtoras, organizadores, músicos, repórteres, fãs ou simpatizantes. E desenganem-se os cépticos, temos realmente Artilharia Pesada em Portugal, e da boa!


Texto por Inês Sobreira
Fotografia por Liliana Quadrado
Agradecimentos: Metals Alliance