Meses antes de o grupo regressar a Portugal para duas datas que se esperam inesquecíveis, a Metal Imperium esteve à conversa com Guðmundur Óli Pálmason, baterista de Sólstafir, acerca do novo lançamento da banda, “Ótta”.
M.I. - Passaram 12 anos desde que lançaram o vosso primeiro álbum, e quase 20 desde que começaram enquanto banda. O que podem retirar desta experiência, e quais as principais mudanças?
Aprendemos a nunca tomar nada por garantido e que o sucesso é apenas conquistado a partir de muito esforço e trabalho, por ainda mais trabalho árduo e dedicação. A principal mudança foi que deixamos de ser uma banda de garagem e passamos a ser uma banda que anda em tours por vários pontos do mundo. Passamos de lançar umas quantas demos que passavam praticamente despercebidas, para álbuns que são antecipados e aguardados pacientemente pela nossa legião devota de fãs no mundo inteiro.
M.I. - As vossas letras sempre tiveram muitas referências a temas como a natureza, paganismo e emoções humanas. Isso é algo que está intrinsecamente ligado com a cultura e folclore islandês?
Sim, eu creio que isso é uma grande parte da nossa identidade enquanto banda, e até mesmo como indivíduos. O facto de sermos islandeses dá-nos uma visão muito própria do mundo, mas sem chegarmos a ser excessivamente patriotas e mente fechadas.
M.I. - Passando agora ao vosso mais recente lançamento, “Ótta”. Há algum conceito em particular por detrás do álbum?
Os nomes das músicas são baseados na forma antiga islandesa de dizer as fases do dia, chamada Eyktir. Isto é, antes de as pessoas terem relógios faziam estimativas da altura do dia em que se encontravam olhando para o sol. Nesses tempos antigos na Islândia dividia-se o dia em 8 fases distintas, sendo que cada uma corresponde a aproximadamente 3 horas de duração. O álbum começa em “Lágnætti”, ou noite baixa, e continua pela noite fora. “Ótta” é o período entre as 3 e as 6 da manhã, aproximadamente. O nascer do sol é “Rismál”, e “Dágmal” é quando o dia já começou em pleno. “Miðdegi” é o meio dia, e “Nón” é tarde, aproximadamente entre as 15 e as 18 horas. Depois vem o “Miðaftan” que é o fim da tarde, e por fim “Náttmál”, ou anoitecer/noite. As letras por sua vez são inspiradas nos diferentes sentimentos que advêm das diferentes alturas do dia, no entanto estas diferem com as estações do ano, por isso algumas têm um sentimento mais invernal, enquanto que outras poderão ser mais associadas ao Verão.
M.I. - O que oferece de novo este álbum, quando comparado aos anteriores?
A meu ver o “Ótta” é muito mais holístico e sólido no seu todo, em comparação com os anteriores. Este não é um álbum que fiques a compreender se apenas fores ouvir uma música no youtube. Eu pessoalmente fiquei bastante surpreendido, porque tanto os fãs como a crítica foram capazes de compreender isso muito bem, o que é algo a valorizar bastante, tendo em conta que vivemos num mundo em que o spam de atenção das pessoas é cada vez mais reduzido e em que muitos parecem sofrer surtos de hiperactividade e défice de atenção.
M.I - Como é que descreves o “Ótta” a alguém que ainda não o tenha escutado ou que não conheça a banda?
Rock’n Roll atmosférico movido emocionalmente.
M.I. - Falando agora da capa do álbum. Aquela fotografia do senhor idoso tem algum significado em especial?
A foto é da autoria de Ragnar Axelsson (RAX), um fotógrafo islandês do qual somos grandes fãs já há alguns anos. Desde que lançamos o “Köld” (2009) que quisemos usar um dos trabalhos dele num álbum nosso, mas nunca nos atrevemos a perguntar. Entretanto, depois de termos lançado o “Svartir Sandar” (2011), ficamos a conhecê-lo pessoalmente quando ele nos fotografou para a publicação onde trabalha, e acabamos por nos tornar próximos, e é uma das melhores pessoas que conhecemos, tanto que ele se sentiu bastante confortável em deixar-nos utilizar um trabalho dele no “Ótta”. A capa é a fotografia de um velho agricultor que o RAX conhecia, chamado Guðjón Þorsteinsson, que faleceu em 2006.
M.I. - As críticas ao vosso álbum têm sido bastante positivas no geral. Estavam à espera de uma reação tão boa?
Não, de forma alguma! Eu pensei que as reacções fossem mais mistas, mas ainda não vi nenhuma crítica negativa ao álbum, tanto que acabamos por perder um bocado a noção e o rasto a todas as boas que temos recebido, tanto nas publicações, como nas redes sociais. Estamos completamente encantados com tudo isto e extremamente gratos por esta incrível reacção ao álbum.
M.I. - Qual a razão de terem feito todo o álbum em islandês?
É muito mais sincero cantar coisas mais emocionais e pessoais na nossa língua materna. A meu ver desta forma parece que vem muito mais do fundo do coração quando nos expressamos no nosso idioma. É pena que 99% dos nossos fãs não perceba as letras por causa disso, porque eu creio que estão bastante bem escritas e são muito profundas. Nós dedicamo-nos muito a elas.
M.I. - Nos outros álbuns têm algumas músicas em inglês. Isso é algo que vai voltar a acontecer futuramente?
Não sei, possivelmente. Nós chegamos a um determinado ponto, eu especialmente, em que ficamos um bocado fartos de ver as bandas islandesas a cantar em inglês, embora a grande maioria do seu público alvo fosse islandês. Eu acho que isso é algo pouco sincero e obsoleto.
M.I. - Qual é a vossa opinião acerca da cena islandesa de rock e metal nos últimos anos?
Tem andado a evoluir como nunca. Bandas como Skálmöld, Momentum, Kontinuum, Beneath, Ophidian I, Wormlust e Brain Police estão actualmente a lançar álbuns com projecção internacional, e bandas como Dimma estão no top de vendas na Islândia (juntamente connosco e com os Skálmöld). Não esquecendo também o festival Eistnaflug que tem demonstrado ser um grande impulsionador de tudo isto, tem sido um local onde as bandas nacionais têm a oportunidade de actuar num grande festival.
M.I. - Que bandas/artistas é que consideras que são as maiores influências musicais de Sólstafir?
Nenhuma em particular. Todos ouvimos muitas coisas diferentes e variadas. As nossas influências são muito mais introvertidas, e vêm das nossas vivências e sentimentos pessoais. Mas obviamente que há algumas bandas que de uma forma ou outra sempre nos influenciam, mas isso difere muito de música para música.
M.I. - Estão prestes a começarem uma tour europeia. Quais são as vossas expectativas?
Dominar o mundo! (risos)
M.I. - Para todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de vos ver a tocar ao vivo, o que podem esperar dos vossos concertos?
Acho que posso prometer com alguma certeza que será uma experiência inesquecível. O sítio onde sempre nos sentimos mais à vontade foi em palco.
M.I. - Para terminar, onde é que se imaginam daqui a 10 anos? Quais são os vossos planos a longo prazo?
Isso é praticamente impossível de dizer. Nós levamos uma etapa de cada vez. Um álbum e uma tour de cada vez, não vamos mais longe que isso. Mas se daqui a 10 anos ainda estivermos no activo enquanto banda espero que já sejamos capazes de termos um melhor sustento a partir disto (risos).
Entrevista por Rita Limede