Em véspera de feriado municipal, do santo António, foi noite de celebração profana na República da Música, com duas bandas nacionais a acompanharem a primeira visita de uma banda clássica do underground australiana ao nosso pais.
Os primeiros a subir ao palco, já com algum tempo de atraso ao previsto foram os Machinergy, de Arruda dos Vinhos, de regresso aos palcos após três anos de ausência, com um som forte a lembrar os velhos e bons tempos dos Sepultura, sem guitarra solo - provavelmente o maior handicap da banda. Com um novo álbum, o segundo, nas mãos, foi o tema título do mesmo que iniciou a sua actuação, "Sounds Evolution" e ao longo de dez temas foram percorrendo toda a sua carreira discográfica como "Rhythmotion", tema título do primeiro trabalho, "1988" e "Machinevil" (esta estranhamente dançante e algo repetitiva) do EP "Rhythm Between Sounds" e em modo de estreia do novo trabalho, "Cada Falso" e "Antagonista". Uma actuação segura e que a banda se mostrou muito humilde, muito grata pela oportunidade e pela presença das pessoas que apesar de poucas (iam chegando aos poucos), estavam totalmente inseridas no som que a banda debitava.
Seguia-se outra banda nacional, desta feita os Martelo Negro, uma banda mais próxima daquilo que são os Hobbs' Angel Of Death, com uma carga blasfema apenas comparável com os papas da blasfémia nacional, Filii Nigrantium Infernalium e foi um festim das sonoridades extremas profanas durante nove temas ora cantados em português ora em inglês. Com já mais algumas pessoas em frente ao palco, a banda alternou temas do primeiro álbum com da novidade, ainda não lançada, "Equinócio Espectral", do qual se destacaram o tema título, "Ouroboros Constrictora" (dedicada à velha guarda presente na sala), "Liturgia de Excremento" e "Culto Hermético". Do primeiro álbum tivemos direito a "Servos da Cúspide" e à incontornável "Hierofonte Em Chamas" sem esquecer a cover dos Paralisis Permanente, "Un Dia En Texas". Com uma presença muito própria em palco e a cada vez a ganhar mais fãs e interesse, os Martelo Negro revelaram-se o aquecimento ideal para o que aí vinha.
Hobbs' Angel Of Death é um nome de banda estranho mas também é sinónimo de metal clássico de um país que não tem muita tradição no género. Lançaram a estreia auto-intitulada no já longínquo ano de 1988 e acabaram pouco tempo depois. Reuniram-se sete anos depois para um segundo álbum "Inheritance" que passou despercebido praticamente. Com uma longa ausência, voltaram já no novo milénio com uma compilação a assinalar esse facto e assinaram um contrato de quatro álbuns, dos quais ainda não se viu nenhum. Com uma formação estabilizada e com uma série de concertos às costas, a banda vem ao nosso país pela primeira vez, uma visita que segundo o vocalista já andava para ser feita à vinte cinco anos. Se é conversa que se tem a cada novo país visitado não se sabe, o que se sabe é que a banda australiana arrasou e mostrou-se realmente contente por estar na República da Música, mesmo com uma sala longe de estar cheia. A intro do filme "Omen" mostrou ter o espírito macabro necessário para abrir um set de thrash metal profano como o que se ouviu. Temas clássicos como "House Of Death", "Satan's Crusade", "Crucifixion" e "Marie Antoinette" foram intercaladas com novidades que vão surgir no próximo álbum de originais, tais como a "Final Fight", "Heaven Bleed Off", "Son Of God". Uma grande noite do underground mais uma vez trazida pela Metal Alliance que apesar de todos os riscos e contrariedades, não desarma a luta pela sua paixão, a paixão de todos nós. Hobss agradeceu-lhes, nós também.
Fotografia por Liliana Quadrado
Agradecimentos: Metals Alliance