Na última edição da revista britânica Metal Hammer, Vinnie Paul Abbott, ex-baterista dos Pantera, recorda o desmembramento da banda no meio do seu maior sucesso, depois do vocalista Philip Anselmo começar a consumir heroína para combater a dor nas costas:
Vinnie Paul: "Isto ocorreu quando surgiu a questão das drogas, e tudo lhe começou a correr mal. Foi quando a banda e ele começaram a separar-se, e ele começou a exigir o seu próprio autocarro da tour. Víamo-lo antes do espectáculo e, depois, ele ia embora, e nunca sabias qual o Phil que te ia aparecer. Podia aparecer o pitbull que todos nós conhecíamos e amávamos, ou podia aparecer um tipo completamente pedrado de heroína, e não fazer o que era suposto fazer.
"Ele tornou-se difícil naquele ciclo de tours, mas também nunca fizemos uma pausa, por isso nunca podíamos estar longe dele.
"Começaram a surgir vários elementos, principalmente para ele. Quer dizer, todos lidámos com alguma dor. Eu tive de lidar com tendinites, mas nunca consumi drogas para aliviar isso.
"Nenhum de nós fazia qualquer ideia de que ele pensava sequer em consumir heroína - costumávamos ser os tipos mais anti-drogas do mundo - e quando ele teve uma overdose em Dallas, quando tocámos para 18 mil pessoas no nosso grande espectáculo de regresso a casa, a primeira coisa que me veio à cabeça foi que ele tinha desmaiado por causa do calor. Quando o vi deitado no chão, azul, fiquei, tipo, 'Que merda é esta?' Se não fosse o Kat, o nosso técnico de bateria, a perseguir alguns paramédicos, o Anselmo já não estaria entre nós. E teria sido realmente um choque, porque nenhum de nós fazia a menor ideia.
"Deixou decididamente de estar tudo bem para dar muito mais trabalho, e sem sabermos o que iria acontecer.
"Continuámos a trabalhar, e, na verdade, a nossa intenção não era parar. Até o Phil decidir que preferia sair e juntar-se aos Down e Superjoint Ritual, nós nunca parámos. Senti realmente que iríamos ser os Rolling Stones do heavy metal, e poderíamos ter sido."
Vinnie e Anselmo não se falam desde a separação dos Pantera em 2003. Mas a relação ficou ainda mais amarga, quando o Vinnie culpou indirectamente o Philip pela morte de Dimebag, sugerindo que algumas observações, feitas na imprensa pelo vocalista em relação a Dimebag algumas semanas antes, poderiam ter encorajado o assassino de Dimebag.
Quando questionado se achava que o Vinnie Paul estará sempre receptivo a fazer as pazes, Anselmo respondeu à Artisan News: "Sabes, essa será uma questão para o Vinnie Paul; eu não sei. Mas, mais uma vez, direi que o amo. Sinto a sua dor todos os dias. Dime era como um irmão para mim, e para o Rex [ Brown, baixista dos Pantera] também."
Ele continuou: "Nesta vida, aprendi que não é necessário sangue puro para fazer a família; é o relacionamento e o quão forte manténs esse laço. E mais uma vez, a minha porta está sempre aberta para o Vince."
Rita Haney, namorada de longa data de Dimebag, pediu a Vinnie e a Anselmo para resolverem as suas divergências de forma a homenagear Dimebag, dizendo aos produtores de "Behind The Music Remastered: Pantera" que perdoou o cantor, depois de se terem visto inesperadamente frente a frente num concerto, na Califórnia.
Na biografia de Rex Brown, "Oficial Truth, 101 Proof: The Inside Story Of Pantera", Haney refere: "O meu caminho abrandou ao longo dos anos desde a morte do Darrell, porque provavelmente sinto um elemento de perdão e um desejo de que todos se dêem bem. Não importa o que aconteceu, ninguém fez isso ao Darrell. Quero dizer, eles - Rex e Philip - não fizeram isso. A pessoa que o fez, fê-lo, e qualquer que fosse o motivo que o assassino - se ainda hoje estivesse vivo - pudesse apresentar para justificar isso, não mudaria nada. Mas quando passas por algo assim, queres logo deitar as culpas a alguém. É óbvio que tive ressentimentos do Rex e do Philip, porque tive de assistir à tentativa do Darrell de salvar a sua banda. Eu queria resolver isso por ele. Quanto ao Philip, pelo menos comunicamos, ainda que num nível bastante superficial. Não falámos sobre coisas profundas como ressentimentos, porque eu disse-lhe que ainda guardava algum ressentimento em relação à forma como ele lidou com as questões da banda, e como isso causou impacto no Darrell, e eu deixei isso muito claro. E é difícil para mim confiar nele. Mas veremos. É um começo e vamos provavelmente encontrarmo-nos frente a frente na devida altura."
Ela continuou: "Apesar de todos os problemas, eu vou dizer isto: vender a mercadoria para o Darrell todos os Veróes, deu-me uma perspectiva completamente diferente. Quando estás com todas as pessoas que a música dos Pantera tocou, e ouves as histórias que elas têm para contar sobre como uma determinada canção as ajudou, mesmo que nunca os tenham visto, faz-te perceber que está a ser egoísta, e que os teus problemas são insignificantes e falsos. Eu não sou importante. Elas são. Estou muito grata por todas as coisas que aprendi com o Darrell, e quero tentar ser aquele tipo de pessoa que conheces. Melhor."
Ela acrescentou: "Gostava que o Vince fosse mais parecido com o irmão, quando se trata de acolher pessoas novas no seu mundo, em vez de se sentir preso ou achar que isso é um problema ou um inconveniente. É claro que pode ser avassalador. Eu costumava observar o Darrell todos os dias, e ficava maravilhada com a forma incrível de ele lidar com isso, mas gostaria de ver mais disso no Vinnie. Eu sei que ele nunca conseguiu lidar realmente com a morte do irmão, e, em vez disso, escolheu afastar-se disso e esperar que nunca tivesse de falar nisso. Se ele estivesse receptivo em partilhar algumas das suas histórias com as pessoas, ele poderia encontrar a paz, e se deixar as pessoas aproximarem-se, também pode ver aquilo de que realmente estou a falar."
Questionado sobre os rumores persistentes de uma reunião dos Pantera com Zakk Wylde (Black Label Society, Ozzy Osbourne) em substituição de Dimebag na guitarra, Vinnie respondeu: "Só posso dizer que rumores são rumores.
"Não estou interessado, porque o Dime não está presente, e, para mim, se não há Dime, não há Pantera.
"Essa é a minha razão. Está ultrapassado. Segui em frente.
"Toco numa banda chamada Hellyeah e estou a adorar.
"Estou ansioso por seguir em frente; não quero viver no passado".
Por: Bruno Porta Nova - 10 Fevereiro 14