Sensivelmente dois anos depois do último concerto em Portugal, os franceses Alcest voltaram ao Hard Club, Porto, com o novo álbum “Shelter” na bagagem. Com eles vieram os britânicos The Fauns e os finlandeses Hexvessel.
Os The Fauns, que andam a promover o novo disco “Lights”, abriram a noite com o seu shoegaze / dream pop algo estático e sem patada. Os temas bem executados nunca atingiram nenhum tipo de clímax e o baixista dava-lhe no fretting apenas com um dedo, o que poderá mostrar bem a simplicidade das composições. Com uma presença tímida, os últimos três temas lá atingiram um patamar mais energético – muito à custa do baterista – e despediram-se de um público ainda pouco entusiasmado.
Seguiram-se os Hexvessel numa uma sala mais bem composta e com alguns efusivos aplausos que pautaram o entre-músicas. Numa mistura de folk nórdico com passagens doom comandadas pela distorção bem fat das duas guitarras, a banda finlandesa podia ter dado um espectáculo bem mais interessante a nível musical se não fossem os problemas sonoros que esconderam o violino. Kimmo Helén lá andava de um lado para o outro em cima do palco, mas a sua alegre energia não era transmitida através do seu instrumento de cordas. Noutro departamento, também problemático, as guitarras apenas se ouviam com poder quando a distorção era activada e nos levava de um folk bem florestal e místico até ao doom mais tradicional dos 1970s. A profunda presença vocal de Mat McNerney é um ponto de referência para a condução das músicas e que não deixou ninguém indiferente.
Mas o que a malta queria mesmo era Alcest! Como seria de esperar, os franceses entraram em cena com o single “Opale”. Seguiu-se “Summer’s Glory” que me colocou instantaneamente outra vez em 2012, na mesma sala, quando cá actuaram nessa altura. A setlist alternou entre o novíssimo álbum “Shelter” e a obra-prima “Les Voyage de l’Âme” (2012), sendo que cada vez mais é notório o distanciamento do passado – contudo, não faltaram os growls de “Percées de Lumière” e uma incursão ao primeiro “Souvernirs d’Un Autre Monde”. Zero continua exímio nas suas vocalizações secundárias ao atingir um nível bem mais agudo do que Neige e Winterhalter pareceu-me estar em belíssima forma devido à primazia com que se ocupou da bateria. Neste concerto viram-se menos metaleiros do que em 2012 visto que “Shelter” não foi assim tão bem recebido pelos que têm o ouvido mais duro. No entanto, os novos temas tocados nesta noite de 4 de Fevereiro soaram mais fortes ao vivo do que em estúdio – o que já vinha sendo prometido por Neige. “Delivránce” terminou o espectáculo assim como termina o próprio álbum e, um a um, os músicos foram abandonando o palco sob o ternurento coro celestial que fecha o tema. A chuva podia estar forte na rua, mas a chuva de aplausos também não foi nada fraca, antes pelo contrário. Mas desta vez, os Alcest já não voltaram. Até breve!
Texto por Diogo Ferreira
Fotografias por Daniel Lopes
Agradecimentos: SWR Inc