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Entrevista aos Undecimber


Os Undecimber são uma banda sueca prestes a lançar o seu segundo álbum “Dead Inside”… o lançamento está previsto para o Dia de S. Valentim, 14 de fevereiro. Para ficarmos a saber mais sobre esta banda de metal gótico e o seu novo álbum, a Metal Imperium teve uma conversa deveras interessante com Patrik Snakes, vocalista da banda.

M.I. - Começaste esta banda sozinho… foi muito complicado?

Dito assim parece algo majestoso. Sim, comecei sozinho mas já foi há tanto tempo que não posso ficar com todos os créditos da banda ser o que é hoje. Não quero soar pretensioso mas, apesar da ideia original ser minha, a banda não seria nada sem os restantes membros. A parte mais difícil foi encontrar pessoal com quem partilhar as ideias e que me ajudassem as transformá-las em fogo. Estou mais que grato por os ter nos Undecimber. Eles é que fazem o verdadeiro trabalho!


M.I. – Undecimber é o nome que se refere ao 13º mês de um calendário que, normalmente, só tem doze meses. Porque escolheste este nome?

Foi principalmente por causa do fascínio que sinto pelo ocultismo e por todos os conceitos sobre o número treze. É uma superstição mundial pois esse número aterroriza muita gente por esse mundo fora. Undecimber é uma palavra latina, o que lhe confere um toque mais antigo e assustador, para além de soar muito bem. 


M.I. – Achas que Gótico é a melhor definição para o vosso som? Como surgiu o teu interesse neste género?

Bem, qualquer banda dirá que o seu estilo é tão único que não são capazes de encaixar num género e os Undecimber não são excepção. Mas acho que gótico soa bem, porque não? Funciona para nós. Torna-se estúpido quando as bandas tentam ser criativas e se começam a definir como Industrial Jazz Stoner Folk Pop, por exemplo. Que género é esse afinal? Eu sempre gostei de rock gótico clássico mas nunca era suficientemente pesado para o meu gosto. Eu queria agarrar no drama do gótico e misturá-lo com riffs de heavy metal, que eu considero ser a essência do metal gótico. Mas fazemo-lo ao estilo dos Undecimber, claro!


M.I. – Os críticos musicais têm referido que o vosso som é uma mistura de sons antigos tipo The Damned, The Sister Of Mercy, Bauhaus, Joy Division, Killing Joke, Concrete Blond, Gene Loves Jezebel, The Cult, Depeche Mode, N.I.N. e sons recentes como H.I.M e Linkin Park. Está correcto?

Uau, há tantos nomes pesados nessa lista! Sinceramente espero que esteja correcto. A beleza dos Undecimber prende-se com o facto de todos os membros terem gostos musicais completamente diferentes uns dos outros, que eu considero fundamental numa banda. Se todos os membros quisessem soar como os Beatles, a banda soaria como os Beatles e não seria nada interessante. Todos contribuímos com os nossos gostos pessoais para o som da banda e isso é Undecimber. É isso que nós pretendemos… não queremos soar como mais ninguém. Tendo disso isto, é evidente que me sinto feliz por as pessoas nos associarem às bandas que referiste… 


M.I – Chateia-te que o metal gótico esteja frequentemente associado a bandas mais comerciais e com tempo de antena nas rádios?

Claro que não! Se as bandas que tocam na rádio aumentam o interesse pelo metal gótico, melhor! Compreendo que haja bandas que têm de ser extremas e underground porque o género delas é assim mas eu não partilho essa ideia. O meu ego é demasiado grande para tal… eu quero que a minha banda passe na rádio tantas vezes que as pessoas fiquem fartas de nos ouvir. Se há bandas que não querem a atenção das rádios e que só querem tocar em caves, eles que se divirtam. Se essa atitude faz de mim comercial, se calhar significa que estamos no bom caminho!


M.I. – O álbum “Dead Inside” será lançado no dia dos Namorados, apesar do título ser o contraste perfeito com o sentimento desse dia. O título e data de lançamento são meras coincidências ou foram escolhidos cautelosamente?

(Risos) Poderíamos ter escolhido lançar o álbum uma semana mais tarde ou mais cedo se quiséssemos. Mas não resistimos à ironia de o lançar no dia dos namorados exactamente por as pessoas não estarem nada à espera de algo assim num dia desses. Portanto não foi uma coincidência… foi mais uma piada gótica!


M.I. – O que te inspira para escrever letras tão melancólicas? As letras são biográficas ou inventadas?

Penso que as nossas canções são o oposto do que eu sou, pois sou eu que escrevo as letras. Penso que a maioria das vezes passo a ideia de que sou um completo otário. Quando escrevo canções, é o meu outro eu que fala, que se preocupa, é aquele que está constantemente num sítio obscuro. As minhas letras são muito na linha daqueles filmes de Hollywood que são baseados em histórias verdadeiras. Talvez a história tenha mesmo acontecido mas é necessário adicionar-lhe algum drama para a tornar mais interessante. Todos os temas têm algo da minha vida mas claro que eu já estaria morto se tudo acontecesse como acontece nas letras. Talvez eu afinal esteja um pouco “Dead Inside”.

M.I. – O álbum foi masterizado no Fascination Street Studios. Como correu?

Foi surreal mesmo, não poderíamos ter imaginado que eles conseguissem um som tão espectacular. O Tony dos Fascination Street Studios compreendeu muito bem a nossa visão. Acho que ele é mágico. Ele demorou o seu tempo a ouvir o que nós pensávamos e queríamos e tornou tudo realidade mas melhor ainda. Estes tipos têm reputação por algum motivo! É melhor parar por aqui antes que comece a delirar com tudo isto…


M.I. – A tua voz dá um toque mais dramático às letras… tiveste algum treino vocal? Que cuidados especiais tens com a voz?

Na realidade nunca tive nenhum tipo de treino vocal. Estou constantemente a pensar que deveria arranjar um treinador vocal mas ainda não arranjei. Para ser sincero, a minha voz é o resultado de muito whisky e dois pacotes de Malrboro por dia. Só comecei a cantar nos Undecimber porque ninguém o queria fazer. Nunca antes tinha cantado nem treinado, era para ser uma cena temporária  mas por razões muito estranhas as pessoas apreciaram a minha voz, acabamos por nunca arranjar um vocalista e eu fiquei com essa função. Com o passar dos anos comecei a cantar melhor por causa da prática e da experiência mas é só isso. Não tenho grandes cuidados mas deixei de fumar. Um copo de whisky antes dos concertos também faz maravilhas pela minha voz!


M.I. – Qual a evolução dos Undecimber desde o álbum “Seven nights of sin”  até “Dead inside”? Qual a maior diferença entre ambos?

A maior diferença é provavelmente que “Dead Inside” é muito mais obscuro e compacto. “Seven Nights of Sin” era mais dançável. No “Dead Inside” saímos um pouco da nossa zona de conforto e tentamos obter o som mais obscuro possível em cada nota. Queríamos contrastar com o primeiro álbum. O som também é mais orgânico e há mais cenas a passarem-se nestes temas do que nos temas do primeiro álbum. Queríamos mostrar um pouco mais de nós e é bom ver que a banda adquiriu confiança desde que lançamos o primeiro álbum.


M.I. – A capa dos álbuns tem sempre uma mulher sexy. A beleza deve ser valorizada?

(Risos) Acho que esta questão é uma ratoeira e vou-me sair mal independentemente do que diga! (Risos) Deixa-me dizer que, a verdade pura e crua é que nunca pretendemos que as capas dos nossos álbuns fossem sexy. Penso que a culpa do palhaço no álbum “Seven Nights of Sin” é minha já que eu tenho pavor de palhaços, por isso o conceito parecia perfeito. Um palhaço masculino dar-lhe-ia um toque estilo Pennywise, por isso optamos pela mulher palhaço. Agora que falas disso, ela é de facto muito atraente. A estátua feminina no “Dead Inside” também é atraente, apesar de representar uma lápide.


M.I. – Porque é que tens medo de palhaços? 

(Risos) É algo completamente bizarro por causa da maquilhagem que usam para parecerem divertidos. Como é que uma maquilhagem psicótica pode ser divertida? Há uma razão para o joker do Batman ter uma maquilhagem de palhaço! Ele é o vilão! Os palhaços não me assustam propriamente mas deixam-me desconcertado. Sinto que eles me vão apontar uma arma no momento em que eu desviar o olhar. O que mais temo? Nada mais. Quando era criança, receava que o caixote do lixo que o meu avô tinha no quintal me comesse vivo. Anos mais tarde, vinguei-me desse caixote! 


M.I. – Qual a relação entre o anjo praticamente nu da capa com o título e o álbum em geral?

A capa é representativa das letras do álbum. Todos os detalhes que observas estão relacionados com algo do álbum. O anjo é uma estátua gótica de uma lápide. A capa centra-se nele porque está numa campa que representa a morte, daí a ligação com o título “Dead Inside”. De qualquer maneira, o primeiro esboço tinha um anjo completamente nu, o que era lógico já que nas campas os anjos estão nus mas pedimos para tapar o anjo para não sermos associados a capas com personagens nus. Acho que não nos excedemos muito nesse sentido! (Risos)


M.I. – O tema “Aiming low” é sobre sexo louco. Sexo é muito importante para ti? Pareces ser fascinado pelos prazeres carnais… certo ou errado?!

Bem jogado! (Risos) Tens razão claro! Diria que sou fascinado por todos os tipos de prazeres, não somente os carnais. Fico facilmente fascinado, para melhor ou pior. Adoro sexo e escrever sobre ele. Mas pelas minhas letras diria que sou mais fascinado pela morte… o que é um pouco assustador. Vamos voltar ao sexo outra vez… (Risos)


M.I. – Vives a tua vida pela máxima “sexo, drogas e rock n’ roll”?

Existe muito disso na indústria musical e acredito que muitos pensem que sigo essa máxima mas os bonzinhos é que fazem essas máximas e não eu. Sigo-a, até um certo ponto, e seria estúpido negá-lo mas não quero promover um estilo de vida totalmente marado ou uma máxima descabida. É preciso ter cuidado e perceber que vais dar vida à máxima e não ao contrário. E tal levar-te-á a lugares obscuros e tramados.


M.I. – Na vossa página do facebook escreveste que “É difícil ser vampiro numa terra onde o sol nunca se põe durante o verão”. Consideras-te vampiro? Tem algo a ver com os prazeres carnais mencionados anteriormente?

Isso foi mais uma boca relacionada com as piadas de vampiros na banda. Se as pessoas se referem a nós como vampiros, porque não? Admito que é divertido mas se me considero um vampiro? Uau! Sinto-me muito tentado a dizer que sim para ver onde íamos parar com esta entrevista! (Risos) Mas não! Aprecio o folclore vampírico e acho que daria um vampiro do caraças mas, infelizmente, não sou vampiro!


M.I. – És fã de séries televisivas e filmes com vampiros? Se sim, qual o teu preferido?

Sou um grande fã de True Blood, que está cheio de prazeres carnais. O meu vampiro de televisão preferido tem de ser o Gary Oldman em Drácula. A atmosfera vitoriana era espectacular e o filme não envelhecerá! O Kiefer Sutherland em Lost Boys também fez um excelente papel de vampiro. Todos queriam ser um vampiro californiano depois de verem esse filme. Mas o meu preferido de todos é mesmo o Stuart Townsend que fez de Lestat em Queen of the Damned… um vampiro vocalista gótico… eu gosto! 


M.I. – Também no facebook escreveste que tinhas acabado de gravar um tema para o novo livro de Åsa Schwarz. Como é que a oportunidade surgiu? E um tema para um livro… como funcionará?

O primeiro marco da banda foi há uns anos quando ganhamos um concurso para escrever um tema para um livro. Ficamos um pouco confusos a pensar como é que funcionaria uma banda sonora para um livro mas mandamos-lhes um tema na mesma. É muito simples pois os livros estão a ser comercializados como qualquer outro produto e o tema vencedor seria utilizado em todo o tipo de publicidade para o livro. Ganhamos com o tema “Demon my Love” e, desde aí, a autora Åsa Schwarz pede-nos para escrever um novo tema sempre que ela tem um livro novo pronto a ser lançado.


M.I. - Stephen Campbell de A&R fez um grande elogio aos Undecimber ao dizer que o Slash pode ser o último herói da guitarra mas os Undecimber são a última verdadeira banda de rock que se sabe comportar como deve ser. Como te sentiste?

O que é que eu posso dizer? O facto de ele ter mencionado o Slash e os Undecimber no mesmo contexto já foi um grande elogio para mim! Fiquei babado! Acho que o Stephen não podia ter feito um elogio maior mas a ironia é que ele nem estava a comparar as nossas qualidades como músicos. Mas também como é que podia? O Slash é uma lenda! O Stephen estava a comparar os nossos estilos de vida pois nós assinamos um contrato e festejamos durante semanas. Lembro-me que algo estava a arder numa determinada altura mas nem me lembro o quê. O Stephen já estava a ficar farto de nós mas, ao mesmo tempo, admirou-nos por estarmos excitados tanto tempo.


M.I. – O Slash foi uma grande influência para ti. Seria um sonho tocar com ele um dueto de guitarra? Se tal acontecesse, qual seria a faixa que escolherias e porquê?

Claro que seria um sonho tornado realidade. Tocariamos o “Sweet Child O’ Mine” e depois a nossa “Poison Within”. Obviamente nada seria mais adequado do que o “Sweet Child O’ Mine”… esse tema transpira Slash! “Poison Within” é o nosso único tema em que eu consideraria a hipótese de ter um solo e o Slash é o único capaz de o fazer!


M.I. – Qual seria o melhor cartaz para os Undecimber? Porquê?

Undecimber, Rob Zombie e Fields of the Nephilim. Rob Zombie toca fast paced techno metal, os Fields of Nephilim tocam slow doom goth e os Undecimber seriam o perfeito elo de ligação.


M.I. – Patrik, foi um prazer conversar contigo! Deixa uma mensagem final para os leitores da Metal Imperium!

O prazer foi todo meu. Esta foi de longe a entrevista mais interessante e divertida que alguma vez fiz. E não se esqueçam de comprar o nosso álbum “Dead Inside” no dia 14 de Fevereiro! 


Entrevista por Sónia Fonseca