Os Chrome Division começaram por ser simplesmente o projecto do Shagrath, vocalista dos Dimmu Borgir. Em 2004, quando entraram em cena, surpreenderam os fãs de metal com o seu rock duro e puro… agora quatro álbuns depois, o projecto já é mais sério. Com o mais recente álbum “Infernal Rock Eternal”, a banda continua a deixar a sua marca no rock n’ roll. Foi numa noite de tempestade que a Metal Imperium esteve à conversa com o vocalista Shady Blue.
M.I. – Boa noite Shady. Como tens passado e como correu o ensaio de hoje?
Olá! Estou muito bem, obrigado. O ensaio correu bem. Temos ocupado o tempo a tocar uns com os outros enquanto não temos concertos e festivais programados.
M.I. – Deixa-me perguntar, onde arranjaste o nome Shady Blue? Tem alguma coisa a ver com a cor dos teus olhos?
(Risos) Não! Por acaso é uma história idiota. Quando me juntei à banda, todos os membros tinham nomes com uma cor qualquer… Tommy White, Ricky Black… e eu perguntei qual seria o meu e disse Shady Blue em jeito de brincadeira… eles começaram a rir-se e disseram que era isso mesmo. Portanto, começou como uma piada e o nome ficou mesmo…
M.I. – Os Chrome Division formaram-se em 2004 mas desde 1999 que o Shagrath andava a planear a banda. Qual foi o teu primeiro pensamento quando te convidaram para ser membro em 2009?
Eu não tinha grande conhecimento da banda mas, um dia, recebi uma chamada deles a dizer que tinham um grande concerto na Alemanha e que o Eddie Guz não podia ir mas eles estavam desesperados para tocar lá já que era o primeiro concerto deles no estrangeiro. Basicamente perguntaram-me se eu era capaz de ficar preparado para actuar com eles, pois só tinha 3 semanas para aprender 15 temas. Eu fiquei reticente mas aceitei. Tive 3 semanas para me preparar mas fomos lá e tocamos um concerto espectacular que foi mesmo considerado o melhor do festival pela imprensa. Depois voltei para casa e fiquei com saudades e queria voltar a repetir o que tinha feito mas estava consciente de que o acordo era tocar só naquele concerto em particular. O que vale é que seis meses mais tarde eles me ligaram novamente a dizer que o Eddie tinha saído definitivamente da banda e queriam saber se eu estava interessado no lugar e eu aceitei de bom grado.
M.I. – Portanto não eras fã da banda?
Eu não era fã porque não conhecia a música mas acabei por me tornar fã. Quando tive de tocar com a banda aprendi as músicas e achei-as fabulosas portanto foi muito fácil ficar fã e querer fazer parte da banda.
M.I. – O facto dos Chrome Division serem tão diferentes dos Susperia, teve algum peso na tua decisão de aceitar o convite?
Eles são diferentes de facto. Apesar de eu já tocar com uma banda de metal há tantos anos, sentia a necessidade de tocar rock porque as minhas raízes estão no rock. Sou um roqueiro de gema e ter a oportunidade de cantar temas clássicos de rock em vez de estar a gritar e a fazer grunhidos, foi perfeito!
M.I. – A adrenalina também deve ser bem diferente, não?
Sim, aliás é tudo diferente e por isso é que uso nomes de artista diferentes nos dois projectos em que estou envolvido porque são dois mundos completamente diferentes. Eu adoro ambos os mundos e gosto de andar a deambular entre eles.
M.I. – Mas alguns ainda consideram este o projecto do Shagrath. E tu, como o vês?
No início era mesmo mas há cerca de dois anos que já é uma banda a sério com membros que a levam tão a sério como qualquer outra banda. O Shagrath está tão dedicado aos Chrome Division como aos Dimmu Borgir, até porque os Dimmu Borgir não têm feito nada nos últimos 2/3 anos e esta banda já não é um mero projecto, é uma banda real. Para o público ele é o nome mais conhecido e famosos portanto é natural que se diga que o projecto é dele… de facto foi ele que criou a banda mas já não somos um projecto, estamos muito dedicados a isto.
M.I. – Eu acredito que, hoje em dia, os metaleiros têm a mente mais aberta e já não consideram “ofensivo” o facto de alguns músicos de culto começarem projectos de rock e cenas mais comerciais… agora os músicos já podem assumir que ouvem rock sem serem criticados por isso.
Achas? Sei ao que te referes, porque aqui na Noruega há muitos anos a cena underground era muito mais pequena e o pessoal que tocava em bandas de black metal só podia ouvir black metal e tudo o resto era uma merda. Hoje esses mesmos músicos olham para trás e sabem que era uma estupidez. Somos uma grande família e tocamos música diferente hoje em dia. Sem o rock n’ roll não haveria black metal porque o rock n’ roll é o começo de tudo. Hoje já se aceita que se toque música diferente e nós fazemos tournées com bandas de metal e somos uma banda de rock… tudo é permitido agora e está tudo em harmonia.
M.I. – O título do álbum é “Infernal Rock Eternal”. Este título descreve bem o vosso som, não achas?
Sim e esperamos mesmo que o nosso rock seja eterno e dure para sempre, daí termos escolhido este título.
M.I. – O novo álbum tem elementos dos anos 70, 80, rock e metal. És fã da música produzida nessa época?
Sim, muito mesmo. Sou um grande fã das bandas clássicas como os Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Ronnie James Dio e Rainbow, porque foram eles que começaram todo o movimento rock n’ roll. O nosso novo guitarrista é espectacular porque tem um estilo diferente do estilo do Shagrath e os dois conseguiram compor um álbum muito variado com elementos de rock clássico, anos 80 e stoner rock. Há muitos elementos neste álbum e todos se complementam de forma harmoniosa e agradável. Acho que o álbum está muito bom e espero que os fãs também o apreciem.
M.I. – Inicialmente o álbum estava previsto para Outubro/Novembro mas só saiu em Janeiro. O que correu mal?
Bem, há muito tempo tínhamos planeado lançar o álbum em finais de 2013 mas, à medida que a produção do álbum decorria, verificámos que era impossível cumprir com o prazo estabelecido e adiámos o lançamento para Janeiro para nos certificarmos que todos os temas estavam 100% acabados e que estava tudo perfeito, tal como pretendíamos.
M.I. – Para além da forma de compor do novo guitarrista, existem mais algumas diferenças entre este álbum e os anteriores?
Sim, nós temos dois novos membros. O baixista Ogee já está connosco há algum tempo porque é ele que tem substituído o Shagrath sempre que o Shagrath não está disponível, portanto ele já era nosso membro de sessão. Ele já conhecia todos os temas e, quando o Luna saiu, convidamo-lo pois ele é um baixista muito dedicado e talentoso. Todos tocamos e fazemos os temas em conjunto na sala de ensaios… somos uma banda muito energética e unida.
M.I. – Os vídeos que já estão disponíveis têm recebido boas críticas mas há quem se queixe que os temas são muito lentos… estás satisfeito com as reacções? Costumas ler os feedbacks?
Presto muita atenção mesmo e ando sempre a verificar os feedbacks e entrevistas que fazemos. Faço parte disto e este é o meu trabalho portanto tenho de estar a par do que se passa. Já vi essas reacções ao vídeo e de facto o tema é lento mas foi o primeiro que escrevemos em conjunto com este novo line-up e achamos que era o tema perfeito para representar a banda actualmente.
M.I. – Sobre que tema estás a falar? “Endless Nights”?
Sim, sobre o Endless Nights!
M.I.- Mas o pessoal queixa-se mais do “You’re dead now”!
Esse também é lento! (Risos) Mas esse tema é o lyric video que a editora escolheu e nós concordamos.
M.I. – A Nuclear Blast dá-vos liberdade ou controlam os vossos movimentos?
Não, não, eles dão-nos liberdade total e penso que estão satisfeitos com os resultados! No ano passado eles disseram que não havia orçamento para fazer uma edição em vinil mas, quando receberam a versão final do álbum, ficaram tão felizes que ligaram a dizer que iam fazer três versões em vinil: uma branca, uma cinzenta e uma preta! Muito fixe mesmo!
M.I. – Parabéns! E qual é a tua faixa favorita?
Muito obrigado! A minha favorita “Lady of Perpetual Sorrow” é a mais lenta! (Risos) É quase como uma balada e ficou espectacular! Divertimo-nos imenso a escrevê-la. Por ser tão especial será também o próximo vídeo e acho que o pessoal vai queixar-se mais ainda pois é mesmo o tema mais lento do álbum! (Risos)
M.I. – Vocês compõem todos os temas em conjunto mas quem escreve as letras?
Sou eu quem escreve as letras.
M.I. – Todas as capas, à excepção da do 3º álbum, têm uma caveira. Porque optaram novamente pelas caveiras, dados e armas?
A caveira é a nossa imagem de marca, tal como o Eddie é a imagem dos Iron Maiden. Ela não está na capa do 3º álbum por alguma razão mas agora está de volta. O nosso desenhador habitual fez alguns desenhos mas faltava-lhes algo. Então chamamos o Carlos, o tatuador do Shagrath, e os dois trabalharam em conjunto e o resultado final ficou espectacular com o vermelho, o preto e o branco… quando vimos, soubemos de imediato que aquela era a capa ideal.
M.I. – Sempre que lançais um álbum novo, costumas ouvi-lo vezes sem conta ou já estás tão cansado dele que nem o consegues ouvir?
(Risos) Depois das sessões de gravação, fico cansado e não pego nele durante uns tempos mas, quando chega a versão final, gosto de me sentar no sofá, apagar as luzes, fechar os olhos e ouvi-lo enquanto bebo um copo de whisky.
M.I. – Mas tens tendência para criticar a tua voz e pensar que poderias ter feito diferente aqui e acolá?
À medida que o tempo passa já não tenho tantos momentos desses em que me martirizo com o que poderia ter feito. Eu passo muito tempo no estúdio a dar o meu melhor e preparo-me sempre muito bem para poder dar sempre o meu melhor. Se eu não fiz melhor foi porque não me foi possível! Faço sempre o melhor que posso e estou completamente feliz. Prefiro estar mais tempo em estúdio e fazer um bom trabalho do que apressar as coisas e depois me lamentar.
M.I. – Os Chrome Division pretendem fazer uma tournée para promover este álbum. As coisas estão bem encaminhadas nesse sentido?
É complicado porque, apesar de não sermos um projecto, é difícil conciliar tudo e ainda por cima os Dimmu Borgir estão a preparar alguns espectáculos o que dificulta as coisas. Mas estamos em conversações com uma agência de espectáculos europeia e um novo manager, pelo que esperamos tocar cada vez mais no futuro.
M.I. – Então os Chrome Division nunca serão uma prioridade?
Bem, eles são a minha prioridade!
M.I. – Estás actualmente a trabalhar com os Susperia?
Sim, estou. Eles têm estado à minha espera mas eu tenho andado tão ocupado que não me tenho dedicado como devia e tenho a consciência pesada. Eles já têm muito material pronto. Agora que o álbum dos Chrome saiu, vou focar a minha energia e tempo nos Susperia. A minha prioridade agora é lançar o novo álbum dos Susperia.
M.I. – Já agora, porque é que todos os membros da banda usam óculos de sol nas sessões fotográficas? Sois patrocinados por alguma marca?
(Risos) Não! Tem tudo a ver com parecermos cool e cheios de estilo. Nunca lhes perguntei porque o fazemos. Quando me juntei à banda e íamos fazer uma sessão, o Shagrath disse-me para levar óculos de sol e eu levei. Tem a ver com o modo com a banda quer ser vista e a imagem que quer projectar… usamos casacos de cabedal com a caveira nas costas e óculos de sol… é só uma imagem!
M.I. – Há alguns anos atrás, os roqueiros eram vistos como homens tatuados, feios, com cabelos e barbas longas… mas agora essa ideia mudou e vocês até se vestem todos janotas nos vídeos. O que mudou afinal de contas?
O que mudou? Nos anos 80 os membros das bandas de rock pareciam raparigas com os lábios pintados de vermelho e os olhos pintados… isso não resultaria para mim. Acho que nos tornamos mais sofisticados e queremos mostrar que sabemos o que estamos a fazer. Se tocamos rock n’ roll porreiro, temos de ter uma imagem condizente. Não sei bem como explicar mas gosto de me aperaltar para os vídeos e sinto-me bem em vestir umas calças de cabedal, uma camisa branca, pentear o cabelo bem penteado, aparar a barba e pôr os óculos de sol… tenho de parecer bem para agradar às mulheres e, mesmo assim, parecer um homem! (Risos)
M.I. – Explica lá como é que te mantens concentrado durante a gravação de vídeos já que estás rodeado de mulheres semi nuas e jeitosas? Quantas vezes tendes de repetir a cena?
(Risos) Boa pergunta! É interessante ter o espaço cheio de mulheres semi-nuas já que não é algo que aconteça diariamente. Talvez para alguns homens seja difícil manter-se concentrado mas nós já fazemos isto há muito tempo e estamos focados somente na nossa actuação. Posso estar rodeado de pessoal mas bloqueio tudo o que me rodeia e olho para a câmara, concentro-me em mover os lábios ao som da música… é tudo uma actuação e nós somos os actores, temos de estar preparados. Não tenho o menor problema em bloquear a mente e fazer o que tenho a fazer!
M.I. – O Patrick Ullaes tem sido o produtor de todos os vossos vídeos e eles realmente transpiram rock n’ roll. Porque trabalham sempre com ele?
Ele é fã da banda e tornou-se nosso amigo e gostamos de trabalhar uns com os outros. Ele já produziu 4 vídeos nossos e é uma sensação agradável… é quase como regressar a casa porque já o conhecemos e sentimo-nos bem e confortáveis. Por acaso o vídeo “Lady Of Perpetual Sorrow” foi produzido por um tipo norueguês. Foi a primeira vez que trabalhamos com ele e o resultado é satisfatório, portanto será bom ver as reacções dos fãs, pois o vídeo está diferente dos anteriores.
M.I. – Quando eras mais novo querias ser uma estrela do rock ou jogador de futebol como todos os miúdos?
É estranho que perguntes isso porque eu fui mesmo jogador de futebol. Joguei futebol desde os 6 até aos 20. Quem sabe se eu não teria sido um excelente jogador?! Eu era bastante bom e marcava muitos golos e, nos últimos anos em que joguei, jogava em equipas das divisões mais altas mas, aos 20 anos, decidi abandonar o futebol para me dedicar ao rock e ao metal. Foi nessa altura que conheci os Susperia e começamos a tocar juntos. Sempre tinha sonhado com o rock mas nunca imaginei que se fosse tornar realidade. Quando tinha uns 11/12 anos, ouvia os álbuns dos Manowar e pensava que era exactamente aquilo que eu queria fazer.
M.I. – Agora há a moda das bandas criarem o seu próprio vinho ou cerveja. Os Chrome Division também têm vinho. Qual o melhor prato para acompanhar um copo do vosso vinho? É bom?
Eu diria que acompanha na perfeição um bife grelhado, porque é muito bom mesmo.
M.I. – Achas que a cena musical está sobre-lotada?
Sim tenho de admitir que sim. Qualquer puto de 13 anos pode compor música num computador e partilhá-la no youtube. Há tantas bandas tão estranhas e algumas até conseguem ter temas de sucesso mas é impossível estar a par da cena porque está sobre-lotada. Às vezes, perguntam-me se ouvi isto ou aquilo e eu nunca ouço nada de novo porque é impossível acompanhar tudo o que se passa. A cena explodiu e há demasiadas bandas, na minha opinião. Gosto do espírito de antigamente quando não havia internet nem downloads, era só folhetos e cartas. Naquela altura o pessoal estava mais focado, agora é demais!
M.I. Apesar de ainda seres bastante novo, já sofreste um ataque cardíaco. Este ataque mudou a tua vida e a tua perspectiva do mundo?
Sim e muito mesmo! Não é algo que eu deseje que as pessoas experienciem aos 31 anos!! Já passaram 5 anos e a minha vida mudou radicalmente… deixei de fumar e tive de pensar o que poderia ter levado àquele problema. Tive de repensar a minha vida, o que comia, o exercício que fazia. Depois do que aconteceu, deixei literalmente de dar importância aos pequenos pormenores que antes tanto me irritavam. Simplesmente aprecio a vida, vivo-a sempre como se fosse o último dia e tento manter-me positivo. É muito estranho que o ser humano precise dum abanão deste género para realmente mudar o seu estilo de vida e perceber que as drogas e o álcool fazem mal, mas ninguém quer saber. Depois acontecem estas coisas e aí é que eles acordam! Posso dizer que o ataque me mudou para muito melhor.
M.I. – Podes partilhar uma mensagem final com os fãs em Portugal? Esperamos ver-vos aqui em breve.
Bem, fãs de Portugal, obrigado por terem lido esta entrevista e temos pena de ainda não termos ido a Portugal mas é algo que queremos fazer em breve. Esperamos arranjar uma tournée ou concertos por aí. Por favor comprem uma cópia do álbum pois trabalhamos com muita dedicação e queremos partilhá-lo com todos vocês. Espero que o apreciem e obrigado por serem nossos fãs!
Entrevista por Sónia Fonseca