Os britânicos Voices são uma banda nascida das cinzas dos respeitáveis Akercocke, encabeçada pelos ex-membros dos deathsters de fato e gravata Peter Benjamin, David Gray e Sam Loynes. Ao ter isto em conta, um dos primeiros pensamentos que devem vir à cabeça de muitos é o de Voices serem os sucessores dos Akercocke, o que em parte é verdade, contudo, que não se pense numa situação idêntica a Celtic Frost – Tryptikon, pois podemos ter aqui um sucessor espiritual da máquina britânica de death metal, mas, no que toca à sonoridade temos uma banda que pega no lado mais experimental de Akercocke e explora-o bem mais a fundo.
Os blast beats quase constantes do princípio ao fim deste álbum, alguns dos tremolos e os gritos presentes no pano de fundo em quase todas as faixas contribuem para, não só, apimentar a agressividade geral do som de Voices, como também adicionam um elemento black metal que se funde na perfeição com a espinha dorsal de death metal do disco, concebendo temas furiosos e muito bem executados. Mal seria se não o fosse; não esqueçamos de que todos os membros dos Voices menos o baixista Dan Abela já foram membros dos Akercocke e, como já foi dito e não é de surpreender, a maior influência de Voices é, sem qualquer dúvida, a falecida banda de death metal inglesa e tal é mais que óbvio logo nos primeiros momentos de “Eyes Become Black”: aquele primeiro minuto é tão Akercocke que qualquer um pensa que a banda não acabou e apenas quis trocar de nome, porém o tema vai-se desenvolvendo para uma sonoridade bem mais experimental e com um carácter próprio que confere aos Voices a sua autonomia sonora, a qual é bem explorada ao longo desta estreia, especialmente em temas como “Creating The Museaum Of Rape” ou na espectacular “This Too Shall Pass”. Mas nem tudo é assim tão bom quanto parece: “Sexual Isolation” tende a perder a atenção de quem a ouve e faz pensar se realmente a banda não está ali apenas a prolongar o tema para chegar aos 10 minutos, o que é completamente desnecessário uma vez que o próprio tema anterior – “Unawareness Of Human Emotion” – comprova que os Voices podem facilmente fazer temas com uma estrutura bem variada em menos de 4 minutos; ou mesmo “Endless” (o outro tema longo do disco) mostra que a banda consegue dominar o que faz independentemente da duração da faixa. “Everything You Believe Is Wrong” surge quase no final e não é tão cativante como pretende ser, especialmente quando tudo o que se ouviu anteriormente sugere que o tema podia ser mais forte.
A estreia discográfica dos Voices é uma criatura violenta e interessante. O grupo mostra claramente a sua ligação à banda de origem ao mesmo tempo que se distancia o suficiente dela para mostrar que é um monstro diferente. O resultado é um bom disco de death metal que vai garantir múltiplas visitas dos ouvintes.
Nota: 8.3/10
Review por Tiago Neves