Os Cathedral, banda emblemática do slow pace doom, lançaram em 2013 um álbum ainda mais sinistro que os anteriores.Os laivos de prog que pautaram alguns dos últimos álbuns desapareceram por bruxaria e deram espaço ao doom da sua época mais negra. Neste The Last Spire os ritmos chegam a ser lentos de forma excruciante como sempre se exigiu ao género.
Em 1989, Lee Dorrian estava cansado de punk e o doom reaparecia com força. Os Black Sabbath, uma das coisas mais míticas que a Terra conheceu, estavam cansados e falhos de ideias, mas algumas bandas revitalizaram o género numa altura em que a rapidez e a insanidade campeavam. Terão de ser destacados, obrigatoriamente, os suecos Candlemass, que no final da década nos ofereceram alguns dos melhores álbuns de metal da história. E Lee Dorian converteu-se à ronçaria, abandonando os Napalm Death e formando os Cathedral. Em muito boa hora, acrescente-se!
Vinte e poucos anos de carreira é muito. Os Cathedral lançaram, metodicamente, 10 álbuns com o espaçamento temporal devido. E conseguiram o feito de nenhum deles poder ser considerado uma obra menor! Algumas concessões, aqui e ali, algum experimentalismo que nunca chegava a aborrecer e doom a rodos, sempre e em toda a parte.
Temos, portanto, The Last Spire: doom do mais negro que existe. Mas o álbum começa mal: Entrance To Hell é isso mesmo: um desastre infernal de três minutos. Quem ouve fica desencorajado. Mas segue-se Pallbearer. Recomenda-se a sua audição, mesmo que não se escute o resto do álbum. É uma daquelas músicas que torna difícil a arte da adjectivação. Um conselho: ouçam-na. Se vos arrebatar de forma sublime, experimentem o resto do álbum. São apenas sete faixas, como convém num álbum de ritmos lentos e fúnebres. O pico foi atingido logo na segunda música, mas o embalo permite ouvir com deleite sinistro as restantes cinco. Parece ter sido um jogo de luzes (ou de sombras, visto estarmos a falar de doom: a primeira música, do tipo “mas o que é que é isto?”, faz-nos baixar a guarda para a murraça que levamos com força na segunda. É bem feito para não sermos preconceituosos nem julgarmos os livros pela capa! Cathedral Of The Damned é um pouco menos extraordinária, mas, ainda assim, uma música dos diabos! Tower Of Silence é outra explosão de doom, com um riff que chega a ser perverso! Infestation Of Grey Death é mais doom do melhor. Sem o brilhantismo da faixa 2 ou da 4, compõe o álbum. Gravidade, sempre. An Observation é outra coisa forte. Talvez tenha uma sonoridade um pouco mais moderna, mas pode ser impressão do ouvinte. O fecho com chave de chumbo é feito com This Body, Thy Tomb. Prego no caixão e nada mais mexe… Em todo o álbum, as guitarras de Gaz são perseguidas sem piedade pelo baixo de Carlson. A bateria de Dixon não tem outro remédio que copular com eles sob o olhar atento de Dorrian.
Ao ouvir o álbum pesamos como se estivéssemos em Júpiter: 300 quilos sobre o nosso corpo. É bom, é deveras bom, e a experiência de alteridade fica quase consumada. Mais que isto é pouco menos que impossível. Resultado: talvez o melhor álbum de doom dos últimos anos!
Nota: 8.9/10
Review por Pedro Cotrim