São considerados, por alguns, a melhor banda da Croácia, a sua terra natal. É assim que estes Ashes You Leave se apresentam: como sendo uma banda lutadora que persiste no seu sonho musical. "The cure for happiness" é o recente álbum da banda e sobre o mesmo a Metal Imperium conversou. Mas não só: estes croatas, durante os seus 18 anos de carreira musical, viveram algumas experiências sobre as quais igualmente nos falaram.
M.I. – Depois de 2 demos gravadas e 5 álbuns, os Ashes You Leave voltam com “ The Cure for Happiness “. O que aborda este vosso novo trabalho?
O novo álbum aborda o mundo de hoje. A perda de empatia e de simpatia e emoções no geral. O tomar decisões erradas e viver com as consequências e o facto de que nos tornámos uma raça que está agarrada à tristeza. É uma observação ou uma crítica à sociedade moderna.
M.I. – Desde o vosso primeiro trabalho até a este mais recente, a fasquia esteve sempre muito elevada. O primeiro álbum foi, inclusive, considerado um clássico no que toca ao doom metal e depois disso, continuaram a evoluir, sendo o penúltimo álbum considerado o mais maduro. Sentiram algum tipo de pressão ao criar “The cure for happiness” face à percepção de tantas altas expectativas?
Não o vejo como pressão, vejo-o mais como uma inspiração e motivação para fazer melhor. Quando o primeiro álbum se torna um clássico, o público irá ter sempre altas expectativas por isso, a principal questão que se coloca é: fazemos um álbum semelhante ou tentamos ignorar isso e fazemos algo que não seja afetado por esse facto. Não é que não estejamos cientes da importância do primeiro álbum, mas não queremos que este marque toda a nossa carreira.
M.I. – Como definem o vosso novo trabalho, quer em termos de composição, da performance de cada um, das letras e da sonoridade?
O novo álbum é mais único, porque neste nós fomos mais espontâneos. Não queríamos pensar demasiado em cada nota musical e crescemos muito como músicos e escritores. Em termos de sonoridade, queríamos voltar às raízes mais antigas. Liricamente, o álbum foi feito para deixar um certo sentido de inquietação.
M.I. – Na vossa biografia, classificam os britânicos My Dying Bride como os vossos “ heróis de infância “, sendo que o vosso primeiro álbum, segundo li, é-lhes dedicado. Já tiveram oportunidade de os conhecer?
Sim, conhecemo-los em várias ocasiões. Partilhámos o mesmo palco duas vezes e já os vi algumas vezes noutros festivais. Eles são muito simpáticos, muito "terra-à-terra". Bebemos cerveja juntos e falámos sobre música e passámos um bom bocado.
M.I. – Os Ashes You Leave já tocaram em diversos festivais, como o festival de Summer Breeze, Metal Female Voices, Wave Gothic Treffen, entre outros, e já pisaram o mesmo palco de bandas igualmente conceituadas, como Paradise Lost, Nightwish, Epica e, inclusive, Moonspell e My Dying Bride. Como é que descreveriam todas essas experiências?
Da perspectiva de quem é fã, é simplesmente fantástico tocar em festivais como esses e partilhar o palco de bandas que ouvimos desde pequenos. Somos grandes fãs de música, por isso, nos festivais em que tocamos, tentamos ver o máximo possível de bandas e andar com o máximo possível de fãs que conseguirmos. Tentamos estar presentes em todos os dias do festival e senão estivemos presentes o festival inteiro, é somente porque o nosso horário não nos permite.
M.I. – Lembram-se de algum episódio em particular que vos tenha marcado durante estes 18 anos com algum dos vossos fãs, alguma situação durante um concerto ou durante as gravações dos álbuns?
Há tantos que eu levaria dias a responder. Um dos momentos que mais me impressionou foi quando eu vi um primeiro fã com uma tatuagem de Ashes You Leave. Foi quase surreal! Há também imensas pessoas que nos enviam e-mails, dizendo que a nossa música os mudou e os ajudou em ocasiões complicadas. Para mim, não há recompensar maior do que essa.
Um dos momentos mais divertidos que tivemos na estrada foi definitivamente o Brutal Assault! Nós dissemos mesmo ao promotor que ele poderia dar os nossos quartos a quem os quisesse e acampámos no backstage durante 3 dias. Foi tão divertido, porque nós não queríamos perder nada enquanto nos deslocávamos entre o hotel e o local do concerto. Ele disse que éramos das pessoas mais malucas que ele já tinha conhecido e nós encarámos isso como um elogio (risos).
M.I. – Quando os Ashes You Leave se formaram, o cenário do vosso país era um cenário de guerra. Na vossa biografia dizem, inclusive, que se formassem uma banda naquela altura eram considerados lunáticos. Contudo, não desistiram desse sonho e ainda bem. Mas como é que foi, para vocês, gerir tal situação?
Foi, de facto, um tempo calamitoso. Eu acho que a banda e o tocar doom foi, de certo modo, uma forma de não pensarmos demasiado na guerra e o que fazia às nossas vidas e famílias.
Desde pequenos que queríamos estar numa banda e estar em cima de um palco a actuar e basicamente continuamos a querer isso. Eu sou abençoado por estar numa banda com amigos verdadeiros e por continuarmos a fazer isto durante estes anos todos.
M.I. – Alguma das vossas letras está relacionada com essa época?
Na verdade, não. Nunca quisemos explorar a nossa situação de forma a que as pessoas que nos ouvissem, pudessem ouvir-nos só por causa disso ou sentissem pena de algum modo. Muitas pessoas tiveram dificuldades na sua infância, nós tivemos mais uma, mas acho que isso apenas afectou o estilo musical que tocamos. Agora, 18 anos depois, desde que a guerra acabou, tempo suficiente passou para começarmos a escrever sobre isso numa outra perspectiva e creio que, no futuro, escreverei algo sobre isso.
M.I. – Querem deixar alguma mensagem a todos os que vos têm apoiado?
Eu gostaria de agradecer esta entrevista e a oportunidade de apresentar a nossa banda. Para todos os nossos fãs e os vossos leitores. eu gostaria de estender a nossa gratidão e convidá-los a ouvir o nosso álbum, " The Cure for Happiness".
Entrevista por Daniela Freitas