Os Amorphis já têm uma longa carreira recheada de álbuns e êxito. Prestes a lançar o seu novo álbum “Circle” pela Nuclear Blast, Tomi Joutsen conversou com a Metal Imperium para revelar mais pormenores.
M.I. – Tomi, apesar de já estares na banda há oito anos, és o mais recente membro dos Amorphis. Como é que a oportunidade surgiu?
Aconteceu por acaso. Eu sabia que eles andavam à procura de um novo vocalista mas não tinha planos para me juntar a eles. Nessa altura eu era o vocalista dos Sinisthra e um membro dessa banda que era amigo do Tomi Koivusaari dos Amorphis descobriu que eles precisavam de alguém e falou-lhe de mim. Um dia, o Tomi ligou-me e pediu-me para ir ao local de ensaios. Ao início ainda fiquei indeciso mas depois disse que iria. Uns dias mais tarde, apareci por lá, tocámos alguns dos clássicos e senti-me muito bem... a história é esta!
M.I. - Foi o realizar de um sonho?
Claro porque eu era fã da banda antes de me juntar a eles e conhecia bem a sua história. Estava um pouco receoso, não por os considerar uns heróis, mas por estarem há tanto tempo nestes meandros da música. Foi um grande desafio mas achei que eles eram todos muito simples e, evidentemente, eu estava disposto a trabalhar com eles.
M.I. - A tua vida mudou muito desde que te juntaste aos Amorphis?
Penso que sim, porque antes de entrar na banda eu tinha um emprego e não tocava numa banda muito conhecida. Fazíamos concertos em cidades que ficavam a cerca de 60 kms da nossa. Hoje em dia, dedico-me somente à banda, viajo por todo o mundo e tento manter-me simples e fiel a mim próprio. Tento ser a pessoa que era antes e até é fácil porque já não era assim tão novo quando entrei, já tinha 30 anos, e tinha vida antes dos Amorphis. Isto tem sido uma grande aventura para mim! Como tinha família e emprego, sei que se algo correr muito mal com a banda, posso sempre voltar para a minha vida antiga. (risos) Mas tem sido fabuloso e espero que continue durante muitos anos.
M.I. Já que falaste dos Sinisthra, aproveito para perguntar como está o projecto?
Não temos estado muito activos porque os Amorphis são a minha prioridade número um. Nos meus tempos livres ensaio com eles e temos material novo preparado. Temos feito poucos concertos porque eu não me posso dedicar a eles a tempo inteiro por estar sempre em tournée ou em trabalho com os Amorphis.
M.I. - “Circle” é o 11º album dos Amorphis e todos os mais recentes têm atingido o ouro. Acredito que as expectativas para este sejam muito elevadas?!
Não sei, acho que não temos esperança de nada. Tentamos fazer o nosso melhor mas não nos preocupamos com as vendas quando compomos música, tentamos ter uma mente aberta e criativa. Temos tido sucesso aqui na Finlândia e até já recebemos uns prémios mas não sei como será com o novo álbum, é um mistério. Até ao momento, as críticas que li têm sido muito positivas e estou muito optimista. Espero que corra tudo bem com “Circle”.
M.I. – O Esa recentemente disse que este era o melhor álbum de sempre dos Amorphis. Concordas? O que torna este tão especial?
Não sei! (risos) Eu adoro os álbuns “The Karelian Ishtmus” e “Tales from the Thousand Lakes” e é muito difícil superá-los! (Risos) Se o Esa disse isso é porque acredita que seja assim mas eu não sei! Estou muito satisfeito com o resultado. Como já disse, eu era fã da banda antes de me juntar a eles e adoro os álbuns antigos e esses, na minha opinião, são clássicos do metal.
M.I. – Quanto ao título do album, disseste que “Circle” representa integridade. Este é um álbum conceptual? Usaste histórias do folclore Finlandês?
Por acaso não. Desta vez queríamos que fosse diferente do “Kalevala”. O Pekka foi a pessoa que escreveu as letras dos outros álbuns e também escreveu as deste e pedimos-lhe que usasse algo diferente e ele baseou-se numa história muito antiga escrita por ele. Ele inspirou-se no “Kalevala” e também na música. É a história de um homem que sofre um acidente na sua vida e não consegue superá-lo sem ir ao passado buscar poder, conhecer-se melhor e arranjar motivação para avançar.
M.I. - Esta é uma história de sobrevivência… achas que este tipo de histórias são importantes para dar esperança à humanidade?
Penso que sim porque todos temos uma história pessoal. A história pessoal, as pessoas que conhecemos e mesmo as histórias e lendas do nosso país são importantes para compreendermos as nossas raízes e a nossa história. Não se pode prestar atenção apenas às coisas materiais, porque as raízes são extremamente importantes. Quando compreendemos isso, ficamos mais poderosos.
M.I. - Este álbum é mais obscuro e pesado do que os últimos e tem maior uso de guturais e guitarras, não é?
Sempre que começámos a compor um álbum e a ensaiar, a música flui. Nós grávamos quinze temas, portanto temos cerca de 4 ou 5 canções extra… acho que as lançaremos como faixas extra. São muito pesadas e talvez seja por isso que as pessoas acham que o álbum é mais obscuro. Quanto à minha voz, não faço muitos guturais, talvez só em 3 temas. Talvez seja por desta vez fazer voz tipo black metal. Foi ideia do Peter e eu fiquei muito assustado mas foi divertido e fácil fazer essas vozes. Ás vezes é stressante concentrar-me porque tenho de estar relaxado e senti-me muito relaxado quando fiz isso, portanto correu muito bem.
M.I. - Na capa tem a cara de um homem cujos olhos estão cegos… cegos porquê?
É uma boa questão porque nem eu sei. (risos) Tenho de perguntar ao tipo que a desenhou. Penso que ele é uma pessoa mística e pôs os olhos assim para dar um toque mais místico à capa. Mas na história não faz referência a cegueira deste guia espiritual, seja ele quem for, portanto penso que esse aspecto foi adicionado para lhe dar uma certa atmosfera.
M.I. - Na mão dele tem uma nó celta… há alguma relação com a cultura celta?
É um colar porque é um símbolo muito popular na Finlândia. Também usámos este símbolo na capa do “Tales from a thousand lakes”. Voltámos a usá-lo para criar a mesma vibração e os mesmos sentimentos. É um símbolo com história.
M.I. - Peter Tägtgren foi o produtor de “Circle”. Ele tem influência no som do álbum e nos arranjos?
Yeah, o Peter dá muitas ideias e é muito bom com as guitarras e os sons no geral. Ele queria que o som da bateria fosse majestoso e isso nota-se quando se ouve o álbum e isso acrescenta uma atmosfera poderosa à música. O Peter adiciona pequenos detalhes em determinados casos. Quando gravámos as vozes, ele deu muitas ideias e ajudou-me com os arranjos. Ele foi uma grande ajuda no estúdio e foi bom trabalhar com ele. Ele é muito rápido, tem muitas ideias e deu a sua opinião quanto à nova direcção para a nossa música. Quando ouvires o álbum, vais detector a marca do Peter e isso é inovador para a banda.
M.I. – Já estão disponíveis 3 vídeos do novo álbum. Como tem sido a reacção dos fãs?
As pessoas estão a apreciar os novos temas. Muitos dizem que há elementos novos na nossa música. Tem sido muito positivo. Acho que tem de se esperar que o álbum seja lançado para podermos saber.
M.I. - Como banda vocês estão sempre “condenados” porque há quem adore o novo álbum e quem deteste. As críticas que li não são unânimes. Prestas atenção às críticas?
Eu tento seguir as críticas porque é importante ter feedback. Antes de tudo nós somos uma banda porque adoramos criar música e queremos criar boa música e lançar álbuns que os fãs apreciem. A banda tem um conceito próprio e uma longa história, portanto temos uma grande margem do que podemos fazer e isso é muito bom. Não somos só uma banda de death metal nem só uma banda de progressive metal, somos uma mistura dos dois estilos. Claro que é espectacular ler boas críticas em revistas e online mas, por outro lado, temos de aceitar que nem toda a gente gosta do nosso som e isso é normal porque eu também não gosto de toda a música! (Risos) A única coisa que eu espero, quando leio uma crítica, é que a pessoa que a escreveu tenha ouvido o álbum atentamente, porque, às vezes, apercebemo-nos logo que tal não aconteceu! É complicado quando lemos críticas que não têm fundamento, porque investimos muita energia, tempo e dinheiro e gostamos que o crítico dê valor ao nosso trabalho.
M.I. – Os Amorphis vão andar em tournée neste verão. Aprecias a vida na estrada ou cansas-te facilmente?
Eu gosto de andar em tournée e adoro fazê-lo na Europa porque é fácil e os espaços são muito bons. Quando vamos para os Estados Unidos, tocamos em cada buraco… é impressionante! (Risos) Na Europa todas os espaços são bons e aqui conseguimos ter sempre um autocarro confortável. Tento sempre que as coisas corram bem, relaxo, tento ter a minha privacidade e ser simpático com todos. Andar em tournée faz parte do meu trabalho mas é algo que adoro!
M.I. – Em Novembro tocareis novamente em Portugal. O que pensais do nosso tempo, comida, pessoas?
Para ser honesto, não conheço muito bem Portugal. Lisboa é uma cidade bela com grande monumentos e edifícios. Adoro ir para o sul da Europa porque o tempo é muito melhor do que aqui na Finlândia! Agora estamos com 3 graus negativos e eu já estou mortinho que chegue o verão porque este inverno já está a ser demasiado longo! Adoro o verão e os festivais europeus, conhecer novas pessoas e novas cidades… adoro o verão!
M.I. – O primeiro álbum que gravaste com a banda foi “Eclipse” mas quando tocais ao vivo, tocais músicas de todos os álbuns. Quais as que preferes cantar?
Depende do público! Ás vezes, prefiro os velhos clássicos porque vejo pessoal com t-shirts de “Tales from a thousand lakes” e quando tocamos esses temas, eles quase choram. É muito emocionante, é bom ver essa reacção, receber esse feedback! Por outro lado, é bom tocar temas novos porque são novos e ainda estão frescos. Já tocámos o “Black winter day” aí umas 5000 vezes e é óptimo tocar outros temas! Mas nós temos tantos temas, tantos álbuns que é quase impossível escolher uma setlist que agrade a todos. Portanto, tentamos tocar músicas mais antigas e músicas mais recentes!
M.I. – Tocas bateria e guitarra... a música está-te nas veias. Quando descobriste esta paixão?
Eu comecei a tocar bateria quando tinha 13 anos, foi o meu primeiro instrumento. Mas quando eu andava na escola e havia festas, as professoras diziam sempre “Tomi tens de cantar!”... era aterrador e eu não queria fazê-lo mas fazia. Depois comecei a ouvir death metal e queria cantar assim, por isso tornei-me cantor. Comecei como cantor porque queria ter poder e isso acontece quando usas guturais e a música é poderosa... eu gosto mesmo disso! Não me considero um músico talentoso, sou apenas um tipo com muita sorte! (Risos) Mas tento ser fiel a mim mesmo e tento apreciar tudo isto!
M.I. - Usas diferentes tipos de estilos de voz. Tiveste aulas de canto ou aprendeste sozinho?
Basicamente aprendi sozinho. Tive 3 ou 4 aulas de canto par ver se me ajudaria mas cansei-me porque não tinha paixão. É uma aventura, sabes?
M.I. - A tua voz é o teu instrumento de trabalho. Que cuidados tens com ela?
Tento fazer as coisas com calma quando ando em tournée… não fumo nem bebo, vou ao ginásio, corro e mantenho o corpo em forma… é basicamente isso. Antes dos concertos faço exercícios de aquecimento de voz e garganta e tento preparar-me bem para entrar em palco relaxado, porque se não estou relaxado é mais fácil perder a voz. É stressante andar em tournée pois temo adoecer. O meu conselho é: tentem fazer o vosso melhor e levem as coisas com calma.
M.I. – No vosso site tem um molho “Hopeless Bourbon Sauce” à venda. Quem teve a ideia?
(Risos) É bom para alguns tipos de comida mas ainda não o experimentei. Foi ideia do Esa porque ele gosta de comida e aprecia experimentar comidas e sabores diferentes. Foi uma coincidência pois um dia tínhamos um concerto e estava lá um tipo dessa marca e falou com o Esa e ele adorou a ideia. A história é esta! Não é que o produto vá vender muitas unidades mas é divertido tê-lo disponível.
M.I. - Esta pergunta talvez te pareça estranha mas estou curiosa: como é que tratas do teu cabelo? Dá-te muito trabalho?
Nem por isso. Deve ser o corte de cabelo de mais fácil tratamento. Eu deixo-o estar e lavo-o, não faço mais nada, sou demasiado preguiçoso para isso.
M.I. - Os Amorphis têm fotos divertidas online para os fãs verem. Acreditas que o sentido de humor é fundamental para conseguirmos enfrentar as adversidades da vida?
Claro que sim. Quando somos música somos sérios mas estar numa banda não é só compor e tocar. É bom rirmo-nos de nós próprios porque quando nos levamos demasiado a sério, está tudo estragado. Devemos gostar de nos divertir, rir e pregar partidas aos outros!
M.I. – Tomi, muito obrigada pelo teu tempo! Partilha uma mensagem final com os fãs Portugueses e leitores da Metal Imperium.
Eu só estou à espera do verão porque já estou farto do inverno. Estou doente e na próxima semana vamos tocar em Israel e estou preocupado com a minha condição física. Estou ansioso que o álbum saia porque quero tocar os temas novos que são fantásticos… espero que os fãs de Amorphis também gostem deles!
Entrevista por Sónia Fonseca