Os tempos em que existia uma tremenda dificuldade em uma banda se afirmar por vir de uma localidade remota, ou mesmo menos central que uma grande cidade, já lá vão. Com os meios que hoje existem para difundir informação, há também boas oportunidades para bandas vindas de quase todo o lado mostrarem o seu valor, porém existem tantas bandas que o meio está sobrelotado e talvez demasiadas bandas que tenham algum talento digno de se ouvir passam completamente despercebidas. Os açorianos Anomally devem estar familiarizados com este cenário. Não digo que tenham passado despercebidos, uma vez que já lançaram um álbum e que já andam por aí desde 2005, mas sabem que é necessário mérito e uma boa dose de determinação para conseguirem chamar a atenção num meio já tão explorado como o death metal melódico.
“While The Gods Sleep” demonstra que esta é uma banda que aposta forte no seu trabalho e isso nota-se não só na garra dos 6 temas aqui apresentados (ou 5 se considerarmos que no duo final “From Lust” e “…To Screams”, a primeira é a introdução à seguinte faixa e que ambos foram construídos para se ouvirem em conjunto); mas também nos restantes elementos da produção do EP: foi misturado pelo conceituado produtor Fredrik Nordström, o qual produziu os álbuns da era de ouro de Dark Tranquillity e In Flames, mais At The Gates, Opeth, Soilwork e Arch Enemy, só para mencionar alguns, e masterizado por Peter In De Betou, outro veterano que já trabalhou com Unleashed, Meshuggah, Borknagar e Necrophobic; ou seja, os Anomally conseguiram recorrer a quem sabiam que lhes iria dar o som que pretendiam, até porque a produção de “While The Gods Sleep” está bem mais cristalina do que a do álbum de estreia. Cada minuto deste EP não é deitado ao desperdício, vindo ao de cima momentos como o acompanhamento de piano no refrão de “Redrum” que o tornam catchy o suficiente para ficar a vaguear pela nossa cabeça durante alguns dias, e a influência da silhueta mais recente de Moonspell nalguns riffs de “Cold”.
Os Anomally querem com “While The Gods Sleep” ensinar, ou relembrar, que com perseverança é possível contrariar os obstáculos e avançar no caminho, algo que se aplica não só no meio musical como no meio pessoal de cada um, mas, neste caso aqui, os Anomally deixam-nos a aguardar por um auspicioso segundo álbum.
Nota: 7.7/10
Review por Tiago Neves
