Segundo concerto da tour arrancada na Segunda-Feira, dia 7 no Hard Club (Porto), com o TMN Ao Vivo como palco escolhido para o espectáculo que ia invadir a capital por parte dos Enter Shikari e os seus companheiros de tour, Cancer Bats.
O antigo Armazém F, como era conhecida a sala, estava um pouco longe de encher quando os Cancer Bats iniciaram um concerto, que mexeu com os presentes de forma bastante positiva. De início, a ideia de que a banda de Toronto não era muito conhecida entre o público ficou no ar, mas rapidamente desapareceu quando ao longo da actuação, constatava-se que o público, apesar de ligeiramente escasso, estava a reagir muito bem ao Post-Hardcore praticado por estes canadianos. Foram cerca de 45 minutos de concerto, com momentos de boa disposição como a tentativa de Liam Cormier de falar português além do “Boa noite”, do “Obrigado” e do “Tudo bem?”. A actuação do colectivo esteve longe de desapontar, e o som estava aceitável para aquilo que se podia exigir. Assim se aqueceu bem uma plateia que se ia compondo aos poucos, deixando na segunda visita a Lisboa na sua carreira, uma boa impressão. Tudo estava pronto para a entrada da principal atracção da noite.
Se os Cancer Bats tinham deixado uma boa imagem, então nos primeiros segundos de “Meltdown” após a introdução “System”, deu para perceber bem o impacto que a entrada dos Enter Shikari teve. Traduz-se este impacto por uma festa total na plateia, com um circle pit que esteve bem presente. Movimento nunca faltou nesta hora e um quarto. O que também não faltou foi boa disposição, que tocou a todos, especialmente à própria banda. Roughton Reynolds estava mesmo em forma, pois não falhou em nada, actuando de forma irrepreensível e digna de bons elogios. Revelando-se um homem ocupado (afinal, andar ‘dali para aqui’ entre o seu equipamento e o público, para quem se dirigiu o máximo que podia, não é uma tarefa fácil), também se revelou um homem com uma boa disposição invejável. Sem parar um segundo que seja, arrancou tudo de bom que se podia esperar do público, como se comprovou em imensos momentos, sendo um deles “Return To Energiser”, que contou com o refrão cantado a pulmões cheios pelo público. As reacções ao álbum mais recente – “A Flash Flood Of Colour”- foram de facto, excelentes; esta observação comprova-se com a entrega do público a músicas que em pouco tempo tornaram-se hinos da banda – “Destabilize” e “Warm Smiles Do Not Make You Welcome Here”. “Arguing With Thermometers” também foi uma malha “das novas” que teve um efeito ao vivo que se revela ainda melhor do que em estúdio. Com um concerto sublinhado pela sua energia, e aproveitando-se do facto do TMN Ao Vivo não ter grades nem nada que separe o palco do público, o stage diving foi uma característica bem presente, e a banda não se importou de maneira nenhuma com isso, sendo que era algo que até arrancava grandes sorrisos ao baixista Chris Batten, que se revelou mesmo muito satisfeito com a visita à capital. O tempo passava a correr, e com isso, pareceu que “Mothership” chegou mais depressa do que o esperado. Na verdade, já lá iam doze músicas, e com esta música se despediram. Após o “we want more!” que a plateia gritava, os Enter Shikari voltaram num registo mais suave e “Constellations” revelou-se um dos momentos da noite. A seguir, “Pack Of Thieves” despertou os fãs com um refrão que se destaca (e de que maneira!) de tão catchy que é. Mas a ideia de que faltava alguma coisa mantinha-se, e a banda também sabia disso. Em resposta a essa lacuna, explodiu “Zzzonked” que marcou a despedida da banda do público, um grande sorriso na cara de todos, e um concerto para recordar. Em suma, foi um concerto onde a música não teve limites, e onde foi possível usufruir ao máximo dessa arte sem rótulos. E assim, as coisas tornam-se mais fascinantes, sendo que os Enter Shikari comprovam aqui o que dizem: “Abusing music's worthless genre boundaries since 2003”.
Texto por Diogo Marques
Fotografias por João Cavaco
Agradecimentos: Everyting Is New