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The Gathering - "Disclosure" Review

Como amantes da divina arte denominada de música, é normal termos que conviver com aquele fantasma desagradável da desilusão, ainda mais para quem não se resume a venerar uma banda, mas duas dezenas delas. De facto este pode-se manifestar-se das mais variadas formas, suavização ou endurecimento do som, mudança de lineups, comercialização / plastificação da atitude…enfim apenas alguns factores de entre uma vasta gama capazes de nos fazes franzir o sobrolho a quem já foi motivo da nossa admiração.

Serve isto para dizer que desde que os The Gathering lançaram em 1992 o seu segundo álbum Almost a Dance (um fiasco que quase significou o fim da banda), não só parece que ficaram imunes a tudo isso, como fazem questão de se reinventar a cada álbum que lançam, quase que brincando com algumas dessas condicionantes.

Talvez numa de suavizar o choque que foi a mudança de vocalistas, no anterior The West Pole, decidiram trazer de volta as guitarras, e um pouco de distorção, ausente quase desde If_Then_Else. Algo que apanhou sem duvida desprevenido quem nunca conseguiu digerir as viagens hipnóticas de Souvenires, ou o delicadeza de Home. Três anos depois, surge Disclosure, e com ele todo um novo mundo criado por uma banda que insiste em nos deliciar ao mesmo tempo que nos surpreende. Um disco que vai ao baú buscar muita da complexidade e ecletismo de How To Measure A Planet, mas que ao mesmo tempo não abdica de continuar a explorar ambiências post rock, algo que já vinha sendo hábito nos discos anteriores.

É especialmente incrível como os The Gathering continuam a experimentar desenfreadamente, mas ao mesmo tempo conseguem manter uma enorme sobriedade, que os impede de entrarem no campo do nonsense. A primeira parte de Meltodown, por exemplo, traz-nos uma certa aura alternativa, muito devido à (pela primeira vez) presença das vozes do teclista Frank Boeijen num dueto com Silje Wergeland no mínimo curioso, para depois nos entregar os momentos mais pesados e serenos do disco. Já Gemini, dividido em duas partes separadas, cativa pelo seu forte refrão, no fundo quase que a repetir a experiência In Motion de Mandylion.

Numa outra toada, Paralized exala uma atmosfera muito dreamy, reforçada pelo uso da trompa, quase como se nos conseguisse transportar para um qualquer cenário etéreo, numa acalmia próxima do sufocante. Um tema que serve também para reforçar a cada vez maior sintonia entre a banda e a sua nova vocalista. Anneke é única, que não haja dúvidas disso, mas felizmente Silje mostra que tem atributos mais que suficientes para arcar com este difícil fardo.

Mas o grande destaque deste disco vai sem duvida para I Can See Four My Miles, uma composição simplesmente genial, com um daqueles clímaxes capazes de ombrear com clássicos como Black Light District ou mesmo Travel, e a mostrar o porquê dos The Gathering serem uma das mais geniais bandas que alguma vez existiram.

No fundo é isto, se realmente conseguem despistar o tal fantasma da desilusão, por outro não conseguem evitar que o do exagero hiperbólico se apodere de quem disserta sobre eles, como foi devidamente mostrado nesta review.

O que interessa se já não tocam metal, ou se a vocalista já não é a mesma? Tudo isso ao lado de Disclosure não passam de pormenorezinhos de treta.

Nota: 9.5/10

Review por António Salazar Antunes