About Me

Storm Corrosion - "Storm Corrosion" Review

Steven Wilson (Porcupine Tree, Blackfield, No-Man) e Mikael Akerfeldt (Opeth), dois dos mais conceituados músicos da atualidade, juntos num projeto!

Poder-se-á dizer que a concepção de Storm Corrosion remonta à colaboração de S.Wilson na produção do Blackwater Park dos Opeth em 2001. Desde essa altura, para além do desenvolvimento de uma estreita relação de amizade - complementada pela troca de convites mútuos para pequenas participações nas respectivas bandas, ao que se acrescenta novamente a produção de S.Wilson para o Deliverance e Damnation - que ambos músicos vinham afirmando publicamente o intento de encetarem um projecto conjunto ex-novo.

Portanto, desde há muito tempo que se aguardava pacientemente o momento em que tais ilustres e singulares músicos se reuniriam na criação de uma obra que tinha tudo para ser magnífica mesmo antes de nascer. Os músicos, porém, foram alertando para o facto de que a existir tal projecto, não tencionavam ajustar-se nem aos moldes de Porcupine Tree nem de Opeth.

Em 2012 surgiram as notícias de que Wilson e Akerfeldt estavam juntos em estúdio, tendo dado finalmente a conhecer ao mundo um nome: Storm Corrosion!

A jornada sonora do álbum homónimo, em sentido contrário ao que inicialmente Wilson e Akerfeldt afirmavam, não é de todo estranha ao universo musical em que os Opeth (os actuais Opeth, note-se!) e Wilson (principalmente a solo) se situam. De facto, a própria descrição da editora (Roadrunner) expõe este álbum como se tratando de um lado de um triângulo, em que os outros dois lados são Heritage, e Grace for Drowning, álbuns de 2011 de Opeth e de Steven Wilson, respectivamente. E a descrição é, de certo modo, adequada.

A música que aqui encontramos pode-se descrever como um rock progressivo orquestral e ambiente, numa construção sonora profundamente densa. As faixas – omitindo propositadamente o termo músicas – desenvolvem-se sem pressas e sem constrições estilísticas, exigindo ao ouvinte uma dedicação quase absoluta.

E a âncora é levantada ao som da música mais emblemática do álbum “Drag Ropes” (para a qual, aliás, desenvolveram um belíssimo videoclip!). São nestes cerca de 10 minutos, que encontramos condensadas todas as paisagens sonoras que nas restantes 5 músicas serão explorados mais detalhadamente. Os génios criativos de Wilson e Akerfledt misturam-se numa simbiose alquímica, depositando lenta e consistentemente tudo aquilo porque são conhecidos: ouvem-se os sintetizadores e pianos de Wilson – imenso oboé - criando uma espécie de base musical ambiente onde os restantes elementos são depositados, sejam os solos e os dedilhados de guitarra “blues/jazz” tipicamente Akerfeldt (sem grandes malabarismos técnicos, apelando mais ao sentido melódico, ao low finger, como ele próprio apelida), sejam elementos de percussão minimalistas, sejam ainda as vocalizações profundamente melódicas de ambos. Conseguem nesta música o equilíbrio e o brilhantismo que não voltam a repetir nas restantes.

As 5 músicas seguintes, como que exploram com mais pormenor paisagens que a “Drag Ropes” inicialmente propôs, sendo um álbum que nesse aspecto, acaba por perder um certo dinamismo e equilíbrio (veja-se, chegamos a sentir a falta da voz de Akerfeldt que quase não volta a fazer-se ouvir em primeiro plano).

Encontramos de facto argumentos de um brilho incomum: as sublimes melodias vocais de Wilson na música “Storm Corrosion”, o súbito surgimento de uma bateria de segundo plano na “Hag” (única faixa onde na realidade aparece bateria), desaguando nuns fantásticos jogos vocais entre ambos, o cativante complexo de guitarras com que inicia e se vai desenvolvendo a “Lock Howl” … tudo apontamentos brilhantes e geniais. Contudo, o toque de alquimia que permitiria transformar esses ingredientes isolados numa obra com sentido e equilíbrio semelhante à “Drag Ropes” aparenta dissipar-se à medida que os músicos vão cedendo à criação, sem limites, contudo sem rumos!

Como seria de esperar, o álbum dividiu os media e os fãs. E se uns apelidam o álbum de obra de arte majestosa e vanguardista, outros falam de um lamacento e desinspirado experimentalismo sem grande sentido.

Da nossa parte, cremos que tudo dependerá ora das expectativas que os ouvintes tenham em relação ao álbum, ora do tempo que se resolvam a dedicar-lhe.

Não haja dúvida que esta proposta musical, nos pode transportar para longe, numa espécie de oceano musical infinitamente profundo e calmo, onde se escondem segredos maravilhosos a cada pequena onda. Mas também não deixa de ser verdade, que fora de um concreto número de circunstancialismos (estado de espirito ideal, tempo de dedicação, envolvência) o álbum pode perder-nos no meio, e quando damos por nós, falta o interesse para continuar a viagem.

De um modo natural (porque é quem se faz ouvir mais vezes, porque as músicas têm os seus ambientes característicos) somos compelidos a acreditar que os Storm Corrosion navegaram mais ao sabor da bússola de Wilson, e por isso, o percurso saiu um pouco viciado, no sentido de que não parece tanto uma obra uniforme de dois compositores, quanto uma obra de um compositor que vai acatando sugestões do outro. E não podemos deixar de pisar ligeiramente a linha óbvia e cliché do: “talvez fosse exigível mais e melhor” de duas figuras tão imponentes da música actual, e isso talvez seja desleal para os músicos, e um fardo demasiado pesado para transportar.

Seja qual for o entendimento que se tenha de Storm Corrosion, a verdade é que o navio levantou finalmente a âncora pela primeira vez, e conquanto não nos leve a todos a um destino concreto - deixando-nos ficar pelo caminho a alguns, enquanto outros prosseguem a viagem - sabe-se lá a que fantásticos portos nos poderá levar, caso haja inspiração para novas viagens.

Nota: 7/10

Review por Sérgio Carvalhais Correia