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Entrevista aos Enslaved

Há vinte anos no activo, os Noruegueses Enslaved não param e continuam a arrastar uma legião de fãs atrás de si e dos seus magníficos álbuns. Estiveram recentemente no Vagos Open Air e, no final de Setembro, lançarão o novo álbum intitulado “RIITIIR” que promete continuar a surpreender! A Metal Imperium teve uma interessante conversa com Ivar Bjornson, um dos mentores desta banda nórdica.


M.I.- Olá Ivar! Como estás? Como têm corrido as entrevistas?

Eu estou bem, obrigado! As entrevistas têm corrido bem. Começámos em julho a fazer alguma promoção e é entusiasmante verificar que tem havido um grande interesse no álbum.


M.I.- Os Enslaved têm estado muito activos no que concerne a lançamentos... em 2010 lançaste o Axioma Ethica Odini e no ano passado lançaste 2 EPS (“The Sleeping Gods” e “Thorn”), por isso já há três anos consecutivos que lançais material novo... não receais que os fãs fiquem um pouco cansados?

Não, nem por isso. Acho que temos tido o mesmo interesse dos fãs e notaríamos caso as coisas mudassem. Se algo é novo e fresco para nós, também funciona assim com os fãs, acho eu. Se os EPs tivessem tido o mesmo tipo de produção que têm os álbuns, admito que talvez fosse um pouco demais mas tem sido um período muito especial. Penso que se as pessoas achassem que é demasiado, já teriam deixado de manifestar interesse em nós. Para além disso, nós estamos neste planeta por um tempo limitado e mais vale divertirmo-nos a criar e a tocar música mesmo que ninguém a queira ouvir.


M.I.- RIITIIR será lançado este mês... quais são as expectativas?

São boas pois o álbum tem muita informação musical, é longo e inclui muitos aspectos dos Enslaved. Não espero que toda a gente goste dele mas sei que todos terão uma opinião sobre o mesmo... alguns poderão pensar que é exagerado mas é um álbum muito pessoal e mostra que nós tentamos tirar o máximo do nosso potencial. É um bom exemplo da nossa música após 21/22 anos no activo. Sei que as pessoas reagirão, só não sei é como!


M.I.- O título RIITIIR é uma capicua. Foi intencional?

(Risos) Obrigada... Capicua! Finalmente encontrei a palavra! No outro dia estávamos a discutir e nenhum de nós se lembrava da palavra. Mas podes repetir a questão? É que fiquei tão entusiasmado por encontrá-la que não ouvi o que perguntaste! (Risos)


M.I.- O título RIITIIR é uma capicua. Foi intencional?

Foi a consequência de muitas discussões. Em Norueguês, assim como nos outros países escandinavos, temos algumas variações desta palavra, com um só I antes do T. Mas depois decidimos ir mais além e pesquisar o verdadeiro cerne da palavra e descobrimos que ela existe em muitas línguas, é uma palavra intemporal. Tal como em Ruun quisemos alongar o som, desta vez decidimos que se deveria introduzir mais um I antes do T e depois para que ela ficasse mais equilibrada acrescentamos também outro I depois do T.


M.I.- Dirias que RIITIIR é uma continuação de Axioma Ethica Odini? Que começa onde esse álbum termina?

Eu diria que sim mas acho que é mais uma continuação de vários álbuns nossos. Tornamos o melódico e introspectivo ainda mais maduro e, ao mesmo tempo, agarramos nas partes mais agressivas de Axioma e misturámo-las. É como um resumo de muitas experiências em que se combinam várias direcções que tentámos anteriormente. É um dos álbuns mais completos que já fizemos pois inclui muita da história e essência da banda.


M.I.- As vossas letras lidam maioritariamente com a mitologia nórdica… também é o caso neste novo álbum?

Eu diria que a mitologia nórdica é o centro da nossa existência. Tal como no tema título, há referência às tradições do misticismo oriental e europeias pré-cristãs, assim como a várias tradições místicas de todo o mundo.


M.I.- Mas a mitologia nórdica é assim tão rica que permita escrever tantos álbuns baseados nela?

Sim… se nós só nos focássemos no básico de um ponto de vista histórico, penso que já não teríamos muito mais sobre o que escrever mas estas coisas estão interiorizadas em nós e o tópico com que lidamos vem de dentro de nós, das nossas experiências e pensamentos pessoais… é um reflexo do nosso mundo interior.


M.I.- Porque é que vocês escrevem sempre temas tão longos como “Thoughts like Hammers”?

Não faço ideia… já discutimos isso no passado, já filosofámos sobre o efeito dos temas longos e dos temas curtos, quais os que melhor transmitem a nossa energia. Decidi que, desta vez, não me iria preocupar com isso, a duração dos temas ficou fora da equação e simplesmente não interessava. Não nos preocuparmos com a duração dos temas, permite-nos melhorar e evoluir dentro do tema de modo a que ele soe bem. Talvez seja o nosso gosto musical, porque apreciamos temas que apresentam evolução e é assim que compomos para os Enslaved. As coisas saem melhor quando lhes damos espaço. Mas isto não é um princípio, é simplesmente o modo como as coisas surgem.


M.I.- “Thoughts like hammers” já está online há algum tempo. Como é que tem sido a reacção ao novo tema?

Parece ser muito boa. A maior parte do feedback que tenho é da página oficial do Facebook e talvez esse não seja o mais fidedigno porque quem nos segue lá são os nossos fãs, portanto à partida a reacção deles é boa. Estou a gostar de ver que há pessoal que gosta que o álbum tenha partes mais pesadas e há pessoal que aprecia as partes mais melódicas e suaves. As pessoas gostam dele por diferentes razões e isso é muito porreiro. Temos um fórum de uma revista aqui na Noruega e eles têm um grupo muito negativo que decidiu que o álbum é uma merda mesmo sem o ter ouvido. É divertido ver que eles já sabem isso! (risos)


M.I.- Em que critérios é que vos baseais para decidir qual o tema de apresentação do álbum?

São os mesmos em que nos baseamos para decidir qual é o tema de abertura… por ter muitos elementos que encontras ao longo do álbum, por ser uma boa introdução, por ser longo e por ter estruturas musicais muito tradicionais. Não consegues captar tudo numa vez só e espero que isso leve o pessoal a ouvir o tema repetidamente. Talvez esta não seja uma decisão comercialmente inteligente pois poderíamos optar pelo tema mais curto mas esse não daria uma visão tão abrangente e leal do conceito do álbum.


M.I.- A capa tem sido comparada com a capa do álbum “Ten” dos Pearl Jam. Conheces a capa em questão?

Sim e já ouvi esse comentário.


M.I.- Eu acho que a capa deles não é tão perfeita como a vossa mas realmente também têm mãos a tentar agarrar/alcançar algo… quem teve esta ideia? De que modo é que esta capa representa RIITIIR?

Essa é a interpretação que o artista fez da nossa visão. Nós nunca lhe dissemos que queríamos mãos ou outra cena qualquer, só falamos dos sentimentos e pensamentos do álbum e foi essa associação/interpretação que ele fez das nossas letras. Penso que seja o humano, mais primitivo ou mais moderno, a tentar alcançar algo… pode ser interpretado de muitoas formas: uma pessoa com três mãos, ou três pessoas com uma mão cada uma, enfim… conclui-se é que estão a tentar alcançar algo fora de si mesmos. A capa tem um significado muito místico e metafísico, na minha opinião. Quando a vi pela primeira vez, senti que era mesmo a ideia que pretendíamos passar com a nossa música.


M.I.- A mercadoria para o novo álbum é interessante mas não vejo muito material para as raparigas. Há duas décadas as mulheres no metal eram muito poucas mas agora há um número bem considerável e eu sei que elas apreciariam ter material mais orientado para elas!

Concordo mas não tenho informação ou noção do que temos disponível para raparigas mas vou levantar a questão. Vou sugerir isso à secção da mercadoria. Mas viste a nossa selecção de mercadoria online?


M.I.- Vi e por isso é que falo nisto!

Ok, vou verificar isso, mandar uns emails para tratar do assunto!


M.I.- Obrigada! Tu começaste a banda quando tinhas 13 anos… como a nossa perspectiva do mundo evolui com o tempo, a tua mudou assim tão pouco que se mantém a mesma ou a banda esteve em perigo por deixares de acreditar na visão que tinhas quando começaste?

Claro que mudaram e agora tenho uma diferente perspectiva do mundo. Como posso dizer isto?! Quando tens 13 anos, experimentas muito e achas que és dono do mundo, não tens muita responsabilidade e isso reflectia-se nas letras de então. A certa altura foi difícil porque a minha visão das coisas foi-se alterando… mas ainda podemos assumir de cabeça erguida tudo o que dissemos, composemos e cantamos. Ainda somos as mesmas pessoas, dentro e fora do palco. Sinto-me feliz apesar de não termos atingido o mesmo reconhecimento que outras bandas… Talvez tenhamos sido crianças muito maduras e agora sejamos adultos infantis… mas é uma boa combinação! (risos)


M.I.- És um dos principais compositores da banda… ainda tens a tua primeira guitarra?

Na verdade não. Nem me lembro bem do que lhe aconteceu. Já não a tenho e de certeza que a vendi para comprar uma melhor mas não é algo que eu lamente!


M.I.- Qual é a tua opinião sobre o álbum “Önd - A Tribute” (lançado pela Pictonian Records em Julho 2012) que celebra as duas primeiras décadas da carreira de Enslaved?

É algo especial e é uma honra! Ouvi as gravações quando foram feitas e conheço algumas das bandas que participam. Os Enslaved significaram algo para eles e isso levou-os a dispender algum tempo para fazer a sua própria interpretação da nossa música. É muito fixe e uma grande surpresa! Espero que essas bandas compreendam que nós apreciamos muito este gesto.


M.I.- Também és membro dos Trinacria e Dream Of An Opium Eater… como é que manténs três projectos activos?

Os Enslaved ocupam muito do meu tempo e são a minha prioridade. Mas isto funciona por etapas… às vezes estou muito activo e consigo escrever para diferentes bandas ao mesmo tempo. Nesta altura em que temos o lançamento do novo álbum, as coisas estão mais agitadas mas isso é bom. Eu não sou muito de relaxar!


M.I.- Tu eras um dos músicos responsáveis pelo Festival Hole In The Sky que se realizou em Bergen, no final de Agosto, desde 2000 até 2011. Já era um festival de culto para muitos metaleiros. Porque é que o ano passado foi a última edição sabendo que era um festival bem sucedido?

O meu papel no festival era mais técnico, como produtor e responsável pelo som e luzes. Nós queríamos que o festival fosse especial todos os anos mas tivemos de enfrentar muitas dificuldades, tais como o facto de não vendermos muitos bilhetes e a crise dos últimos dois anos também evitou que o festival tivesse muita audiência. Portanto preferimos abandonar o projecto enquanto ainda estava no auge do que ter que o terminar por motivos menos gloriosos. Não fizemos dinheiro nenhum mas também não perdemos, por isso estamos felizes! (risos)


M.I.- Agora há outro festival em Bergen, o Beyond the Gates… também estás envolvido neste?

Não, não! É o tipo que fazia o programa do Hole In The Sky que organiza esse. Mas este é mais underground/retro. É praticamente como o Hole In The Sky era no início.


M.I.- Os Enslaved vão ser a primeira banda de metal a receber o prémio honorário da Associação de Artistas e Compositores Noruegueses devido ao vosso empenho, dedicação e contribuição para a indústria musical norueguesa. Quão importante é este prémio?

É uma decisão da associação e é uma honra e uma surpresa. Eles pretendiam que fossemos reconhecidos como artistas noruegueses e queriam que a música comercialmente estabelecida e aceite reconhecesse que o metal não é só um grupo de gajos estranhos a tocar música! É muito porreiro!


M.I.- Recentemente estiveste em Portugal a tocar no Vagos Open Air. Qual a tua opinião sobre Portugal em geral?

Eu gosto muito de Portugal. Penso que já tocamos aí umas 3 vezes e eu já aí fui umas duas vezes. Gosto muito porque é bom para descansar e é lindo. A língua portuguesa é muito estranha mas o festival de Vagos é excelente. Há algo na audiência portuguesa que me intriga... vocês têm uma mistura de entusiasmo do sul com arrogância do norte... ou talvez fossem só as pessoas que conheci!


M.I.- Conheces bandas de metal portuguesas?

Nem por isso. Conheço os Rea:ktor e os Sirius porque vieram gravar à Noruega. Mas são basicamente estes porque quando tocamos em Portugal não havia muitas bandas portuguesas a tocar.


M.I.- Estais em tournée. Como geris a tournée com a vida pessoal?

Simplesmente funciona! É algo que sempre fizemos e já é um hábito! Mas só fazemos 2 a 3 semanas de cada vez e depois fazemos uma pausa.


M.I.- Ivar, obrigada pelo teu tempo. Partilha uma mensagem final com os leitores e os fãs.

Obrigada por seguirem os Enslaved ao longo dos anos e espero que ouçam o novo tema online pois sei que tem lá algo que agradará a todos os fãs de metal. Gostaríamos muito de voltar a Portugal para tocar... e não só em festivais!

Entrevista por Sónia Fonseca