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Reportagem: Vagos Open Air 2012 - 3 e 4 de Agosto 2012, Lagoa de Calvão, Vagos


Dia 1 ( 3 Agosto)

Os lusos Disaffected iniciaram esta quarta edição do festival Vagos Open Air. Sofreram da pior qualidade de som do festival verificando-se um desequilíbrio enorme entre o som dos teclados (demasiado altos) para os restantes instrumentos. A somar à qualidade de som sofrível esteve uma prestação algo atabalhoada.

Com a subida ao palco dos Northland notou-se de imediato que as hostes presentes sabiam o que esperar e ansiavam pelo momento mesmo tratando-se de uma banda nova na cena apenas com duas demos e um álbum de originais na bagagem. O estilo praticado é o tão apreciado e batido folk/viking metal altamente influenciado pelos Ensiferum mas que continua a causar impacto que se reflete em autênticos dançaricos. Os espanhóis assinaram uma prestação profissional e enérgica.

Os Eluveitie continuaram a festa folk desta vez num tom mais death metal sueco. Os músicos sentiram-se de imediato em casa tal foi a calorosa receção. Com o novo trabalho “Helvetius” na bagagem novas malhas e outras não tão novas proporcionaram mais um divertido espectáculo com Chrigel Glanzmann a desafiar e a puxar por um público rendido à partida.

Com o dia a escurecer, os últimos raios de sol brilharam no início da atuação dos vikings Enslaved. A qualidade de som fraca marcou os dois temas de abertura com um volume geral um pouco abaixo do esperado mas rapidamente se foi resolvendo com o decorrer do espetáculo. Aquando da interpretação de “Ground” o som já havia sido corrigido completamente e a experiência que foi ver estes veteranos intensificou-se progressivamente com o desfilar de faixas como “Return to Yggdrasil”, “Giants” e “RUNN”. Grutle Kjellson estava talvez demasiado divertido para a seriedade que a música da banda impõe mas nada que prejudicasse a apreciação geral do concerto tendo havido lugar para alguns momentos especialmente marcantes como testemunhar a interpretação de “Allfaðr Oðinn”, que trouxe por momentos, os ventos gélidos do black metal do início da década de noventa ao recinto e a cover de “Immigrant Song” dos Led Zeppelin que, por incrível que possa parecer, não destoou no meio do restante reportório da banda. Uma grande actuação e um dos (muitos) pontos altos do festival.

A actuação dos Arcturus provocou um aparente misto de reações na plateia. Talvez pela atitude pouco ortodoxa do frontman e mítico vocalista ICS Vortex ou pelos autênticos labirintos musicais a que fomos submetidos. No entanto, na apreciação deste escriba, a envolvência foi tal, a mestria de interpretação tão arrebatadora (Hellhammer e Knut Vale levaram troféus de mais impressionantes interpretes do Vagos) e uma voz tão peculiar que foi o momento mais alto do dia 1 do festival. “Shipwrecked Frontier Pioneer”, “Ad Absurdum” e “Chaos Path” foram alguns dos momentos mais altos numa actuação sem momentos menos conseguidos. Os Arcturus foram uns dignos cabeças de cartaz responsáveis pela música mais desafiadora para o ouvinte de todo o festival.

Para muitos o momento mais esperado do festival era o concerto de At The Gates e posso adiantar desde já que dificilmente alguém se sentiu deslustrado com a prestação dos suecos. A música falou mais alto desde o primeiro momento com canções de qualidade intemporal que ficaram gravadas nas memórias de gerações de headbangers. A qualidade de som esteve perfeita e os músicos assinaram uma prestação muito profissional fazendo desfilar os clássicos com a uma perfeição de interpretação invejável. Alguns dos momentos mais altos foram naturalmente “Slaughter of The Soul”, “Under a Serpent Sun” e, claro, “Blinded By Fear”, esta última provocando reações efusivas em quase toda a audiência. Fantástica actuação dos cabeças de cartaz.

Tendo uma boa parte das hostes se retirado para as suas tendas ou simplesmente dado por terminado o seu dia de concertos, os Nasum assaltaram o palco com violência atacando os resistentes com tudo o que tinham. Tratou-se da última da actuação do colectivo em território português e cada tema foi interpretado como isso mesmo… como o último. De destaque foi a prestação de Keijo, cuja voz (poderosíssima diga-se) carregava uma dose extra de ódio neste momento mais que especial. Podemos considerar todo o set dos suecos como um desfilar de clássicos recentes da música extrema. O caos instalou-se na plateia desde o primeiro cortante acorde da guitarra de Mika e durou toda a actuação numa autêntica valsa tóxica de celebração ao legado que Miezko e companhia nos deixaram. Os Nasum deixaram um sentimento misto de nostalgia e satisfação pela intensidade com que se entregaram ao público e fecharam este fabuloso primeiro dia de concertos com chave de GRIND.


Dia 2 ( 4 Agosto )

Os Mindlock abriram o segundo dia com os temas fortes do novo trabalho “Enemy of Silence”. Mesmo com uma qualidade sonora algo deficiente que acabou por prejudicar a apreciação total do espectáculo, os temas de thrash moderno e musculado foram suficientemente fortes para cativar a audiência – a muito boa interacção com o público teve também um importante papel. Um ótimo início de hostilidades.

A curiosidade para ver os Chthonic era mais que muita. Os taiwaneses foram entrando em cena com alguma pompa e indumentárias que serviram bem o espectáculo que se esperava deles. O “black” metal sinfónico parece ser a mais comum forma de os descrever mas a verdade é que vão beber das mais variadas fontes dentro do metal extremo e acabam por interpretar um estilo próprio, épico e também enérgico. O som estava de acordo, o público mostrou-se entusiasmado e reagiu com movimentação constante em frente ao palco e cânticos em uníssono de alguns dos mais conhecidos refrões da banda. Apanharam muitos de surpresa e a verdade é que surpreenderam pela positiva.

A tão aguardada actuação dos Textures teve finalmente lugar. Com um excelente novo trabalho na bagagem e um novo vocalista, apresentaram-se às hostes presentes em plena forma. Daniel de Jongh brilhou em todos os registos, a banda interpretou novos e não tão novos temas com profissionalismo, aos quais o público reagiu, não havendo muito mais a acrescentar. “Sanguine Draws the Oath” foi de tirar a respiração com os seus crescendos vocais e grooves demolidores, o mesmo se pode dizer de “Awake” e “Swandive” provocou caos generalizado na plateia com um thrash contagiante. Houve ainda espaço para wall of death e encore. Um espectáculo quase completo e marcante que fez as delícias de todos os fãs, a faltar ficou a interpretação da lindíssima “Reaching Home”, que muitos aguardavam.


Os veteranos “Coroner”, entraram em cena e interpretaram o seu set sem grandes interacções, ou movimentações em palco. Um alinhamento que cobriu a curta mas lendária discografia do colectivo com os clássicos “Masked Jackal”, “Die By My Hand” e “Semtex Revolution” como momentos mais altos. Mais uma vez a entrega do público foi total respondendo com fervor a cada pedido do vocalista/baixista Ron Roice que parecia incrédulo perante tal recepção. A interpretação do thrash metal técnico old school do coletivo foi implacável, com bons solos de guitarra, linhas complexas de baixo, vocalizações venenosas e um feeling bem retro e sério característico de outros tempos.

As espectativas podiam estar altas ou baixas para o concerto dos Overkill mas ninguém estava preparado para o que se passou. Existem poucas palavras que possam descrever a autêntica porrada a que fomos submetidos – daquelas em que poderíamos ficar com marcas visíveis de maus tratos mas o sorriso nos lábios ninguém nos conseguiria tirar. Os temas da mais recente dupla de álbuns que compuseram uma boa parte da setlist, são como se de autênticas bombas se tratassem e não devem nada ao mais antigo catálogo da banda, aliás, são algum do melhor material escrito pela banda. A energia era quase palpável. “Come and Get It” abriu com toda a força, os seus seis minutos de metal electrizante tomaram controlo de todo o público. Sem dar tréguas atiraram-nos com “Bring Me The Night” e com o restante arsenal de malhas. Ver os veteranos em palco foi também um espectáculo, a própria atitude dos músicos foi imaculada com destaque natural para o demónio responsável pelas vocalizações. Houve ainda lugar a um encore com os clássicos “Deny the Cross”, “Rotten to the Core” e a sugestiva cover dos The Subhumans, “Fuck You”. Numa das suas intervenções, o demónio que se dá pelo nome de Bobby "Blitz" Ellsworth, perguntou-nos como nos sentíamos por estar a ser espancados por um velhote… nunca nos sentimos melhor! Obrigado. Neste momento tínhamos acabado de testemunhar o melhor concerto do festival e, provavelmente, e um sério concorrente a melhor concerto de metal do ano 2012.

É injusto tocar a seguir a Overkill, mas os Arch Enemy, liderados pela sempre impressionante Angela Gossow, deram um espectáculo mais que competente e, de estandartes bem hasteados, os temas revoltosos ecoaram bem alto nas vozes e corações de todos os fãs. As atenções tendem a direccionar-se quase exclusivamente para a imponente vocalista que não se acanha em momento algum com movimentações incessantes pelo palco, headbangs intensos e com os seus característicos grunhos inumanos. Num set com aproximadamente uma hora e vinte minutos foram percorridos todos os principais temas da banda e como se os solos de cada canção não fossem suficientes, ainda fomos brindados com algum tempo de antena apenas para a talentosa dupla de guitarristas, agora sem Christopher Amott – muito sinceramente e felizmente a sua falta não foi sentida com Nick Cordle ainda um pouco retraído mas tecnicamente perfeito. Uma grande actuação de uma grande entidade do metal mundial. Com os gritos de revolta e perseverança bem cravados nos corações dos presentes, se foi esvaziando o espaço frente ao palco, já com saudade e expectativa no cartaz da próxima edição do Nosso grande Vagos Open Air.


Para mais fotografias do evento, visitar:
https://www.facebook.com/media/set/vagosopenair


Texto por David Sá Silva
Fotografias por Liliana Pinho

Agradecimentos: Prime Artists


Nota: Por ter havido necessidade de serem efectuadas entrevistas às bandas presentes na edição, não foi possível efectuar foto-reportagem em Mindlock e Coroner.
Fotografias de Coroner e Mindlock gentilmente cedidas por Craneo Metal (Victor Aguirre).