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Entrevista aos Dew-Scented

Os alemães Dew-Scented têm passado um pouco despercebidos, apesar de já por cá andarem desde os anos 90 e de já terem tocado em Portugal. Lançaram recentemente o seu nono álbum “Icarus” e provam-nos que afinal bom Death Metal não se faz só na Suécia. A Metal Imperium esteve à conversa com o simpático vocalista e único membro fundador da banda, Leif Jensen.

M.I. – É um prazer voltar a conversar contigo após tantos anos. Que saudades dos velhos tempos! Mas conta lá, os Dew-Scented enfrentaram muitas mudanças... quão é que elas contribuíram para vocês chegaram aonde estão hoje?


Olá Sónia! É bom ouvir notícias tuas após tanto tempo... Referes-te a mudanças recentes ou desde os anos 90... (risos)?! Bem, se calhar é melhor focar-me somente nas mais recentes, desde o lançamento de “Invocation”. Quando estávamos em tournée para promover esse álbum, apercebermo-nos que o line-up lentamente se estava a desintegrar. Os membros, uns atrás dos outros, estavam a abandonar a banda por razões pessoais ou musicais... por isso, basicamente, foi necessário fazer uma pausa, parar de tocar ao vivo e arranjar tempo para nos concentrarmos. Não tenho a certeza se a minha energia permitiria começar a partir do nada outra vez mas, felizmente, o meu velho amigo Marvin estava disponível para se juntar aos Dew-Scented permanentemente (ele tinha estado na banda como membro de sessão várias vezes desde os anos 90) e isso deu-me vontade de andar em frente e decidimos começar a trabalhar num novo álbum imediatamente. Durante o processo de escrita e pré-produção de “Icarus”, concluímos que os dois últimos elementos do antigo line-up não se iriam manter durante muito tempo, por isso juntamos um novo de raiz. Sinto que isso ajudou o álbum a soar mais fresco e poderoso e estou muito motivado com o modo como as coisas nos têm corrido...

M.I. – Os Dew-Scented têm um novo line-up e és o único membro fundador que ainda está na banda. Toda a responsabilidade está sobre ti... como te sentes por estar a controlar uma “máquina” tão poderosa? Quais são as maiores dificuldades que enfrentas quando o line-up sofre alterações?

Bem, qual é a novidade afinal?! Mesmo o line-up de “Invocation” era praticamente todo com elementos novos, sem membros do line-up original por isso o sentimento é-me muito familiar! Basicamente, tenho sido eu que tenho trabalhado com tudo o que é necessário para a banda desde o início, portanto estou habituado a ter essa responsabilidade depositada em mim. Tendo dito isto, friso que foi um grande choque perder o nosso baixista Alex no ano passado, que tinha estado connosco cerca de uma década. Mas as circunstâncias da vida geram mudanças... ele decidiu que estava na hora de fechar um capítulo e andar em frente. As alterações de line-up para além de stressantes também são chatas. Temos de voltar a trabalhar na união, tanto a nível musical como pessoal. Tocamos numa banda porque curtimos a música e adoramos desafios, por isso são esses factores que nos unem e exigem uma boa estrutura, energia positiva e atitude optimista para enfrentar a tempestade. A uma certa altura de 2011, não tinha a certeza que a minha energia me permitiria continuar com a banda após novo drama. Felizmente, o Marvin trouxe um novo espírito e os outros elementos foram espectaculares ao longo das sessões de “Icarus”. Desde os anos 90, esta foi a experiência em estúdio que eu achei mais interessante e inspiradora e acho que estamos em boa posição para reconstruir bem as coisas e com calma. Mas, como sempre, só o tempo o dirá...


M.I. – Os Dew-Scented pretendem dar um novo impulso à carreira com o novo line-up e o novo álbum “Icarus”. Será uma tarefa fácil?

Não, nunca é! Agora parece mais fácil porque temos um grupo de pessoas fantásticas mas esta cooperação é muito recente e penso que vamos ter de esperar para ver. Mas é o que é... eu não me escondo de desafios ou problemas. Teria sido mais fácil deixar a banda em algumas alturas (como alguns fizeram...) mas nunca fui fã de soluções fáceis. Decidi continuar a trabalhar e a lutar pelo que acredito e porque sinto que Dew-Scented ainda tem muito para dizer e “Icarus” foi uma lufada de ar fresco para a nossa motivação. Sinto-me feliz por ver reacções tão positivas ao material novo e espero que possamos seguir em frente a partir daqui com os novos elementos envolvidos na banda e com alguns concertos fixes nas próximas semanas!

M.I. – O streaming do primeiro tema do novo álbum “Sworn to Obey” já está disponível... tens ideia de quantas vezes já foi ouvido? Como é que os fãs têm reagido?

Nem por isso… mas acho que a reacção tem sido boa até ao momento! Decidimos lançar o tema de abertura do álbum “Sworn to Obey” porque é um tema muito frontal e imediato. Desde que lançámos online os temas “Thrown To The Lions” e “Storm Within”, tenho a sensação que as pessoas que gostavam do som mais antigo de Dew-Scented estão também a apreciar o novo material e isso é um novo passo na nossa missão. O lançamento do novo álbum e os próximos concertos irão abrir o caminho para o próximo passo…

M.I. – Após tantos álbuns, ainda usais títulos de álbuns com uma palavra única começada pela letra “I”. Desta vez a palavra escolhida foi “Icarus” mas acredito que a escolha seja cada vez mais difícil. Quantas vezes consultas o dicionário para pesquisar boas palavras?!

Realmente, está a ficar muito complicado, (risos)! Para os últimos álbuns tive de pedir ajuda aos outros membros da banda, por isso enquanto encontrarmos algo que soe suficientemente interessante ou intrigante, iremos continuar com este padrão. Claro que, ao início, pensávamos que faríamos 2 ou 3 álbuns... quem é que imaginaria que ainda aqui estaríamos quase 20 anos e 9 álbuns depois?! Eu não... ou então o conceito de título teria sido muito diferente, haha! Nestes últimos álbuns temos tido uma mão cheia de opções e depois seleccionamos a que se enquadra melhor com a arte e o conceito do álbum. No entanto, começamos sempre de raiz em qualquer álbum, não é que tenhamos uma lista pré-feita e a partir da qual funcionemos! Veremos para onde vamos a partir daqui... como vem sendo hábito, aceitam-se ideias, (risos)!

M.I. – Na interpretação literária, “Icarus” representa a estrutura e consequência da ambição pessoal extrema. Os Dew-Scented são uma banda ambiciosa? Estais a tentar exceder-vos a vós próprios e aos vossos anteriores lançamentos?

Bem, eu não diria que somos demasiado ambiciosos! Mas sim, temos objectivos e expectativas, apesar de já andarmos por cá há muitos anos, é tudo muito moderado e realista. Tentamos progredir e apresentar uma banda melhorada a cada novo álbum. Se eu não sentisse que éramos capazes de melhorar de algum modo, talvez não tivéssemos razões para nos continuarmos a esforçar. Eu visualizo cada álbum como uma foto da banda de um certo período e, como tal, imagino que “Icarus” seja a melhor representação do que os Dew-Scented são agora, em meados de 2012. Um artista sente sempre a sua música como um passo em frente, provavelmente por ser excitante e novidade. Eu acho que “Icarus” fala por si e apresenta a banda de um modo mais variado e divertidamente mais leve do que antes, sem perder qualquer uma das nossas marcas pessoais. Eu gosto muito do material e isso costuma ser um bom começo, (risos)!


M.I. – Icarus é o nono álbum... como é que ainda consegues arranjar ideias e ter imaginação para criar? Que temas abordas desta vez? Há uma linha de pensamento ao longo do álbum ou os temas não têm nenhum ponto comum entre eles?

Bem, é fácil porque começamos sempre do zero! Tendo em conta de onde vens e o que já criaste, é um processo natural e é lógico que queiras escrever algo novo. Eu só posso falar por mim e dizer que me inspiro no nosso passado e há boas hipóteses de fazer algo interligado mas sempre com uma onda e som diferentes. As linhas orientadoras do nosso estilo são muito claras e fechadas. Quem vem do estilo Thrash/Death Metal e verdadeiramente compreende o que estamos a fazer, talvez concorde que “Icarus” não é o mesmo que “Invocation”. Mas claro que cada um é que tem de decidir se gosta ou não. Mas não fazemos uma abordagem muito táctica com os Dew-Scented. Desta vez, o Marvin teve liberdade para criar música e ponderamos ideias para as melhorar, não para as restringir. O Marvin sabe muito bem o que os Dew-Scented significam e não foi necessário discutir linhas orientadoras. Nesta banda não há o “como fazer”, mas o nosso instinto sempre nos orienta na direcção certa...

M.I. – A capa tem uma arte muito intensa. Qual é a mensagem que tenta transmitir? É um Ícaro moderno que tenta sobreviver a todas as guerras, problemas ecológicos que o nosso planeta enfrenta?

Fico contente por teres gostado! Eu também acho que Björn / killustrations fizeram um trabalho excepcional nesta peça e é realmente uma introdução marcante para o conteúdo do álbum. Claro que o tema principal foi muito pré-determinado pela ligação à saga da mitologia grega mas queríamos um aspecto pós-apocalíptico que interagisse com algo dos nossos lançamentos anteriores. É por este motivo que é possível encontrar ligações aos elementos das capas de “Issue VI”, “Incinerate” ou também “Invocation”. A mensagem é muito frontal e simples, por isso não quero explicá-la com mais pormenores porque espero que cada um a interprete à sua maneira. A componente social é definitivamente muito relevante assim como a componente pessoal em certas partes da linha de pensamento. Tentámos usar algum do simbolismo nas letras mas este álbum NÃO é conceptual. É somente uma linha que ajuda a ligar as palavras com o título e com a parte visual. Acho que resultou muito bem, como um pacote completo que é o que pretendíamos acima de tudo!


M.I. – Em “Icarus” têm alguns convidados... como é que surgiu a ideia de convidar estes músicos? Consideras que Dan Swanö, Dennis Schneider e Rob Urbinati contribuíram com algo especial para os temas?


Foi muito espontâneo, enquanto estávamos a começar as gravações do álbum. Sentimos que o material tinha certos pontos em que seria possível convidar amigos/colegas para participar e contactamos algumas pessoas. Ficamos contentes por ter o Rob (em “Gleaming Like Silver”) e Dan (em “Reawakening”) a fazer algumas partes vocais, porque eles são uma inspiração vocal para mim, e porque têm um histórico muito bom. Talvez te lembres que os Dew-Scented andaram em tournée com Edge of Sanity (a banda do Dan) em 1996 (nessa altura já o Marvin era nosso guitarrista de sessão!) e também fizemos uma cover do tema “Apocalypse Inside” (no álbum de 1999 “Ill-Natured”) da banda do Rob, Sacrifice. O Dennis Schneider é um guitarrista muito bom e eu estava a ensaiar com ele há uns tempos e a ideia de ele fazer parte de “Icarus” surgiu. Ele participa como guitarrista principal em “The Fall Of man” e “Perpetuated”. Decidimos que estas participações eram a cereja no topo do bolo e são uma surpresa extra para o pessoal. Não queríamos tê-los só para dizer que tínhamos ou por outras razões superficiais. Acho que tudo saiu muito bem e estamos orgulhosos por ter pessoal tão talentoso a participar num álbum de Dew-Scented!

M.I. – Vocês têm convidados no álbum mas há alguma banda de sonho com a qual gostasses de colaborar vocalmente?


Uau, nunca pensei muito nisso! De facto já participei como vocalista convidado em muitos lançamentos porreiros de bandas como Holy Moses, Night In Gales, Benighted, Fall Of Serenity, Resistance, Hyems, Switchtense, Contradiction, Hurtlocker ou mesmo Necrodeath. A compilação destes nomes surpreendeu-me porque eu sempre senti que isto era algo especial mas nunca me tinha dado conta que já tinha tantas participações até ao momento! Eu acho que a minha voz não oferece muita flexibilidade no metal extremo, (riso)… por isso não há nenhuma banda de sonho… enquanto o pessoal da banda for simpático e o timing for certo, tentarei sempre passar um bom momento com este tipo de projectos!


M.I. – O álbum foi gravado no estúdio Soundlodge, tendo sido produzido por Jörg Uken e foi lançado em Julho. O que é que “Icarus” tem para oferecer aos fãs de metal e à indústria musical? Inovará o som?

Não, não inovará nada, (risos)! Não é a nossa intenção! Nós somos a favor de uma apresentação clássica e extrema da melhor mistura possível de Thrash e Death Metal/Hard porque é o que nós mais gostamos! Foi essa a direcção que os Dew-Scented escolheram há muitos anos atrás e não vejo razão para mudarmos só para podermos experimentar ou para sermos absurdamente originais. Estamos a tentar progredir ao melhorarmos o que fazemos, em vez de irmos em diferentes direcções. Felizmente haverá pessoal que aprecia o nosso estilo e o nosso esforço e concorda que “Icarus” é o passo certo para os Dew-Scented. O álbum está a surpreender-me a mim próprio e isso é muito bom. Mas para poderes ouvir e decidires o que achas, aqui fica o stream do álbum completo: http://www.invisibleoranges.com/2012/07/io-exclusive-album-stream-dew-scenteds-icarus/

M.I. – O mês de Julho foi um bom mês para lançar o novo álbum? Se não estou em erro, também é o mês do teu aniversário... estes acontecimentos estão ligados de alguma forma? São uma marca na tua vida?


Não há relação nenhuma. Por acaso foi o mês que dava mais jeito, tanto à banda como à editora, para o lançamento do álbum. Permitiu-nos preparar tudo com tempo e com calma. Sim, eu recentemente fiz 36 anos mas isso não teve nenhum efeito nos planos...

M.I. – Os Dew-Scented já por cá andam há vinte anos. Duas décadas é muito tempo... o que é que estes vinte anos trouxeram para a tua vida pessoal e profissional. Que grandes mudanças ocorreram?

Experiências muito divertidas e amizade! Os Dew-Scented permitiram-me ver partes muitos interessantes do mundo e também passar tempo muito agradável com o Metal em geral! É louco pensar que algo que era suposto ser um passatempo de adolescentes se transformou numa instituição sólida que continou a crescer comigo durante muito tempo. Se calhar teve mais impacto (bom e mau, acho…) em mim do que eu pensava antes de escrever isto mas posso dizer que apreciei a viagem e aguardo ansiosamente o que o futuro me prepara. Sinto-me demasiado jovem e motivado para ficar nostálgico a pensar sobre o passado. O que mais me interessa é o futuro…

M.I. – Durante este verão, tocarão principalmente na Alemanha. Há já uma tournée programada para promover o álbum? Tens algum cartaz de sonho para uma tournée? Que bandas incluirias?

Bem, teremos de esperar para ver que opções nos serão apresentadas para os próximos concertos. Neste momento, praticamente temos uma mão cheia de festivais fixes para arrancar com a promoção e depois temos uma mini tour com os Six Feet Under. Também iremos a Portugal para participar num festival no final de Setembro, por isso prestem atenção à informação que surgirá em breve. Nós sempre fomos uma banda que gosta de tocar ao vivo, portanto tenho a certeza que aparecerá alguma tournée mais cedo ou mais tarde, mas não estamos com pressa! Espero que, acima de tudo, 2013 seja um ano desafiante! Cartaz de sonho? Hmmm…. Tenho a certeza que nos safaríamos bem com bandas como Kreator ou Testament. Mas, no geral, estamos abertos a praticamente tudo desde que seja música extrema. Teria sido fenomenal tocar com os At The Gates quando eles se reuniram mas perdemos essa oportunidade.


M.I. – Para além das mudanças de line-up, também mudaste de agente de marcações. O que esperas que aconteça?

Finalmente, uma fácil: concertos porreiros!

M.I. – Já fizeram covers de Overkill, Sacrifice... Tendes mais alguma planeada? Alguma vez consideraste a hipótese de fazer uma cover de uma banda que não toque metal? Se sim, que banda/tema seria?

Nós temos uma longa tradição de gravar covers em cada visita ao estúdio. Só não fizemos quando gravámos a demo e o primeiro álbum, Immortelle. Deixa-me dizer-te as bandas. das quais já fizemos covers, por sessões de estúdio:
Immortelle: /
Innoscent: Overkill
Ill-Natured: Sacrifice, Discharge
Inwards: Slayer
Impact: Metallica, Turbonegro
Issue VI: Zeke
Incinerate: Bad Religion
Invocation: DRI, Powermad, Genocide Superstars
Icarus: Prong, Inside Out, Wasted Youth, Judge
Sim, divertimo-nos a gravar covers de temas/bandas que apreciamos. Já fizemos covers de bandas de Punk/Hardcore mas não sei como é que seria resultaria para nós gravar covers de bandas que não toquem metal ou não sejam extremas, portanto nunca consideramos sequer essa hipótese.


M.I. – A página oficial do Facebook dos Dew-Scented publicou uma lista com o teu actual Top 5 que inclui Amebix, Raised Fist, Angel Witch, Vektor e Tragedy. Só ouves metal? Não aprecias outros estilos de música? Nomeia a maior influência dos Dew-Scented e a tua também.

Sim, é essa a minha lista dos cinco mais. Eu também gosto de alguma música pop /softer rock / prog mas não tem nenhum efeito na banda. Gosto muito de passar algum tempo a ouvir Tori Amos, Dead Can Dance ou música atmosférica, mas depende da minha disposição. As minhas maiores influências, e as de Dew-Scented também, são as bandas mais antigas de Thrash Metal da Bay Area e a primeira onda de Death Metal do início dos anos 90. É praticamente tudo desde Slayer, Testament, Violence, Death, Morbid Angel, Demolition Hammer, Exhorder, etc.

M.I. – Ser membro de uma banda de metal deve ser fantástico. Nomeia algumas razões por que ainda estás na banda após tantos anos.

(risos) Talvez porque gosto muito?! É uma grande oportunidade para libertar energia e ficar emocionalmente são. Adoro a intensidade da música e o seu desempenho, assim como estar rodeado de pessoal simpatico e que tem o mesmo tipo de mentalidade. Não é pelas bebidas grátis ou pela comida (muito fraca a maior parte das vezes) que ainda aqui estou, (risos)! Também não é pelo dinheiro já que nem dá para pagar totalmente as nossas contas mas, pelo menos, nos últimos 20 anos tenho-me divertido e, em retrospectiva, não sei se haveria algo que pudesse ser melhor do que isto. Obrigado a todos os que têm apoiado Dew-Scented, sois muito apreciados! Confiram os detalhes sobre os planos da banda e “Icarus” em :
www.dew-scented.net ou www.facebook.com/dewscented. Keep it heavy!

Entrevista por Sónia Fonseca