
Para quem ouviu os ditos discos, irá reparar que em termos estruturais as coisas mudaram um pouco. Desta vez a banda decidiu cortar um pouco da gordura nos temas, que é como quem diz, deixarem-se de longas divagações (e repetições) com interludios ala Agalloch, para passarem a ser bem mais concisos. Não quer com isto dizer que a banda passou a fazer temas de 3 / 4 minutos, ou que tenha cortado definitivamente com passagens acústicas, longe disso, mas não contem com grandes épicos à semelhança de God ou Delay’s Progression. Ainda assim nada que faça com que a filosofia de banda se altere substancialmente. Isto porque continuamos a ter aquele black metal atmosférico, com um pé e meio no avant-garde, e cheio de nuances psicadélicas, mas lá está desta vez servido de forma bem mais dinâmica, mas mantendo ainda a crueza dos discos anteriores, o que é de louvar.
Em A Shadowplay For Yesterday instrumentos como os violinos e os teclados deixam de ter secções quase exclusivamente reservados para eles, e passam a misturar-se com o resto dos elementos, sem nunca perderem o destaque que merecem. A voz de Mister Curse continua cada vez mais lunática e desesperada, e no extremo oposto a de Katheryne, Queen of the Ghost mantém-se belíssima e suave, o que resulta como um bálsamo das poucas vezes que a ouvimos.
Fica difícil destacar uma faixa, visto que a musica dos A Forest Of Stars, mesmo com a redução do tempo dos temas vive essencialmente de momentos, agora não tão longos, mas cada vez mais diversos e incisivos, por vezes chegando mesmo a ser brilhantes. O que faz de cada música de A Shadowplay For Yesterday uma epopeia a descobrir com várias audições. Porventura, A Prophet For A Pound Of Flesh contém as melhores secções como o fantástico riff inicial, ou parte acústica final, mas não esquecer também o arrepiante violino da primeira parte de Corvus Corona, ou as partes hipnóticas de Gatherer Of The Pure.
Quase que apetece dizer que A Shadowplay for Yesterday está num ponto de equilíbrio quase perfeito. Não tão primitivo como o black metal norueguês do inicio dos anos 90, mas ainda assim bem longe do glamour dos lançamentos mais mediáticos de hoje em dia, tal como por vezes parece estar mesmo no limbo entre a demência e a sanidade. Este é um disco em que para aquilo que representa pouco há a dizer de negativo, e qualquer louvor é insuficiente. Afinal de contas quantos discos de quase 70 minutos conhecem em que no fim, os ficamos com vontade de os voltar a ouvir?
Nota: 9.3/10
Review por António Salazar Antunes