Vivem-se momentos conturbados no mundo hoje em dia, mas verdade seja dita, alguma vez existiu paz mundial desde que o homem começou a viver em civilização? Provavelmente não. Quando analisamos um dos grandes flagelos da actualidade como o conflito israelo-palestiniano, e vemos que com o passar do tempo o seu desfecho parece ainda mais utópico do que há 50 anos atrás, ou os recentes acontecimentos da Primavera Árabe, não é de todo errado afirmar que pelos lados do Medio Oriente e Magreb a coisa não anda fácil. Mas em que é que uma colectânea recheada de metal originário de alguns países dessas regiões pode servir de atenuante a estes climas de enorme tensão? Provavelmente em nada. Mas no entanto poderá servir para que muita gente passe a olhar para estes países, e suas gentes de outra forma, sem medos, preconceitos ou soberbas.Nesta colectânea, levada a cabo por Kobi Farhi dos israelitas Orphaned Land, encontramos de quase tudo, desde o mais conhecido ao mais underground, do menos provável ao mais óbvio, ou do mais pesado ao mais atmosférico. Fazendo o percurso geográfico, o ponto de partida encontra-se nos Emirados Árabes Unidos, mais concretamente o Dubai com os Nervecell, praticantes de um death/thrash técnico, aqui na forma de um instrumental denominado de The Taste of Betrayal.
Já Israel acaba por leva a maior fatia do bolo, conseguindo inscrever quatro bandas nos 11 temas contidos neste disco, neste caso Amasaffer, Almana Shchora, Melechesh, e claro está a banda do próprio Kobi, cujo nome já quase que dispensa apresentações. Descrever o som destas bandas, e de maior parte das outras contidas no disco diga-se, não é tarefa fácil, mas poderão pegar nos próprios Orphaned Land como ponto de partida para aquilo que irão ouvir em Slaves For Life ou Elohim, sendo que os conhecidos Melechesh englobam sonoridades mais extremas, perto do Black Metal e Death Metal. Como não poderia deixa de ser, no extremo oposto encontram-se os modestos Khalas, banda da Palestina, numa abordagem progressiva bem mais crua e simples, mas no entanto suficiente imprevisível para merecer o rótulo.
Seguimos em direcção norte de encontro aos turcos Pentagram, mais conhecidos por Mezarkabul, com a sua abordagem thrash/power metal, para depois voltamos a descer em direcção ao Magreb, onde a familiaridade dos acordes de Fountains Of Muses não deixam espaço para dúvidas da proveniência da banda seguinte. São egípcios e chamam-se Ahl Sina, e aqui apresentam-nos um instrumental atmosférico, com foque mais para a melodia do que a técnica dos Nervecell. Finalizamos a nossa viagem pelo medio oriente na Tunisia com os Myrath, na onda instrumental dos Orphaned Land, mas em vez dos sons hebraico, um travo mais arábico, como é natural.
Para o fim os Arkan, que como já foi referido algures no ano passado neste nosso/vosso espaço, possuem suficientes origens magrebinas para justificar a sua presença, e os norte-americanos Nile. De facto geograficamente a banda de Karl Sanders acaba por ser um elemento estranho nesta compilação, mas é impossível negar que conseguem emular as suas influências egípcias melhor do que ninguém.
Fica ao vosso cargo a apreciação qualitativa de cada banda aqui contida, no entanto é impossível não conseguir apreciar a riqueza instrumental destes colectivos, bem como a palete de idiomas que nos são servidos, desde o hebreu ao inglês passando pelo árabe. Sem dúvida uma iniciativa de louvar, visto que nenhuma das bandas foi aqui metida para encher chouriços, afinal de contas o responsável por este projecto sabe bem o que faz, e se lhe der na cabeça fazer um segundo volume, quem somos nós para dizer que não?!
Nota: N/A
Review por António Salazar Antunes
