A vida tem destas coisas, um tipo passa a vida a dizer mal do país que tem, glorificando tudo aquilo que vem de fora, e de vez em quando leva uma chapada de luva branca que o faz acordar para a feliz realidade de que em Portugal, se faz boa música, especialmente neste nosso espectro metaleiro. É só preciso estar alerta,e às vezes procurar um pouco.
O novo disco dos vila-realenses Thee Orakle, sem qualquer pingo de exagero, é um daqueles casos de uma banda nacional que, após a audição do disco, consegue arrancar aquele sorriso de orgulho lusitano. Como se não bastasse já terem lançado um bom disco em 2009, Metaphortime, onde exploravam uma sonoridade Doom/Death de contornos góticos, quiseram complicar um bocadinho mais as coisas para este "Smooth Comforts False", introduzindo novos elementos, e porque não dizê-lo, uma nova mentalidade progressiva. Convém no entanto esclarecer, que o uso desse rótulo em nada aproxima os Thee Orakle, de bandas como Dream Theater ou Symphony X, mas sim na abordagem musical descomplexada da banda, não tendo pudor em misturar géneros, que diga-se de passagem o fazem de forma subtil, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
Mas que géneros são esses? Naturalmente que continuamos a ouvir um pouco do doom do disco anterior, afinal de contas o sentimento bucólico contínua intacto e se esperam algo mais animado, ou relaxado, podem bem mudar para outro disco qualquer. No entanto não será polémico afirmar que é no death metal que reside neste momento a grande força motora da banda, chegando num ou noutro momento a fazer lembrar os Death ou até mesmo Cynic, o que mostra a técnica que estes senhores possuem, chegando mesmo a enveredar pelo campo do Jazz, inclusive com recurso a saxofone em "Rescue of Mind", cortesia de Fábio Almeida. A costela gótica manifesta-se aqui e ali na forma de teclados atmosféricos e claro, no contraste entre a bela voz de Mika Cardoso e a cavernosa de Pedrão Silva, mas que em nenhum momento resvala para qualquer tipo de lamechices pseudo dramáticas. Mas "Smooth Comforts False" não se fica por aqui em termos de ecletismo, pois conta também com a participação especial do grande Adolfo Luxuria Canibal, que emprega a sua carismática voz no excelente "Faraway Embrace", Marco Benevento dos italianos Foreshadowing, com cleans no atmosférico "Winter Threat" e Yossi Sassi dos Orphaned Land que com umas linhas de Bouzouki, consegue emprestar um exotismo a "Evil Dreams", próprio da sua banda de origem.
Talvez o mais impressionante, seja o facto de os Thee Orakle conseguirem juntar tantas influências num só disco e no entanto este manter uma homogeneidade e consistências assinaláveis, o que muito se deve à excelente produção de Daniel Cardoso (já começa a ser hábito) nos Ultrasound Studios.
E pronto, se na teoria "Smooth Comforts False" é disco mais do que suficiente para os Thee Orakle se internacionalizarem, resta esperar que o mesmo aconteça na prática, mas desde já estão de parabéns.
Nota: 8.9/10
Review por António Salazar Antunes