Lembro-me da primeira vez que ouvi falar dos Job for a Cowboy. Na
altura, eram uma daquelas bandas com muito sucesso no Myspace. Nunca se
percebeu como uma banda sem nenhum disco editado tinha mais de um milhão de
seguidores. Seria do nome estranho ou haveria mais alguma coisa? O facto é que
existia alguma validade nesse sucesso, pois o death metal / deathcore
apresentado por este quinteto americano tinha qualidade e muita margem de
progressão.
O lançamento de “Genesis” em 2007 e do seu sucessor “Ruination” em
2009 estabeleceram os Job For a Cowboy como uma banda importante no meio do
metal mais extremo internacional. No entanto, apesar de serem dois excelentes
discos do género, faltava qualquer coisa que os tornassem memoráveis. Se o
primeiro era um disco “um pouco acima do normal” de deathcore, já o segundo
abandonava um pouco esse estilo e virava-se mais para o death metal, rápido e
furioso, mas ao mesmo tempo melódico e inteligente. No entanto, faltava ali
qualquer coisa que pudesse mostrar que os Job For a Cowboy eram um pouco
diferentes dos seus pares.
“Demonocracy” apaga as dúvidas que existiam no passado sobre a
qualidade desta banda. Este terceiro disco é o álbum que define na íntegra os Job
For a Cowboy. O disco que irá definir o futuro desta jovem banda. Brutal,
rápido, com muita maturidade, sendo uma clara evolução do anterior “Ruination”,
muito mais focado e certeiro, com excelentes malhas de death metal furioso e
técnico. Muitos poderão comparar esta banda a uns Suicide Silence ou uns Trigger
the Bloodshed, mas estes Job For a Cowboy têm uma abordagem muito própria ao
death metal. Desde logo o muito tecnicismo que a banda coloca na sua música. As
recentes alterações de formação colocaram a fasquia ainda mais elevada,
mostrando que a injecção de sangue novo no seio da banda só teve efeitos
positivos. Agora a acompanhar Al Glassman na guitarra temos Tony Sannicandro, uma dupla
capaz de descarregar riffs insanos e
frenéticos sem qualquer problema. Mas talvez a alteração mais importante tem a
ver com a saída do baixista Brent Riggs e a entrada do muito talentoso Nick
Schendzielos (ex- Cephalic Carnage). No núcleo duro mantêm-se o vocalista Jonny
Davy (aqui a assinar uma prestação vocal brutal) e o baterista Jon “The Charn”
Rice. O trabalhos de Rice neste disco é absolutamente fabuloso, conseguindo dar
ainda mais peso, velocidade e diversidade à música dos Job for a Cowboy. Não é
à toa que foi ele o escolhido pelos noruegueses 1349 para ser o baterista na
tour norte-americana da banda, em substituição do mighty Frost.
A
abertura do disco com “Children of Deceit” é um tiro certeiro. Rápida e
furiosa, com um trabalhos de guitarras fantástico e logo ali o baixo de
Schendzielos a ouvir-se muito bem. Um início demolidor, mas que não tem
seguimento nas malhas seguintes. “Nourishment Through Bloodshed” e “Imperium
Wolves” são numa toada a meio tempo, mas que encaixam bem neste disco,
mostrando que os Job For a Cowboy não pretendiam mostrar que sabem tocar
rápido, mas também sabem tocar pesado. “Tongueless and Bound” apresenta-se como
um dos melhores temas do disco, seguido por uma “Black Discharge” brutal. “The
Manipulation Stream” e “The Deity Misconception” voltam novamente aos ritmos
rápidos e muito usuais nesta banda: duas guitarras em constante interacção,
completando-se uma à outra na perfeição, com solos estridentes e eficazes. Mas
se pretendem saber o que são realmente os Job For a Cowboy em 2012, isso mesmo
está mostrado nas duas últimas malhas do disco: “Fearmonger” e “Tarnished
Gluttony”. A primeira é aquele death metal típico da banda, eficaz e viciante.
Já a ultima é um pouco diferente: lenta e arrastada, quase a lembrar uns
Behemoth como no seu último disco.
“Demonocracy” é um excelente disco para aqueles que procuram um
death metal variado e extremo, mas ao mesmo tempo técnico e cerebral. Tem
todos os ingredientes para ser um dos álbuns do ano no que toca ao death metal,
mesmo sabendo que vai competir com discos dos Cannibal Corpse e Suffocation. No
entanto, é suficientemente bom para poder competir sem problemas com essas
bandas e todas as outras que aparecem pelo caminho. São discos como estes que
nos fazem gostar de death metal.
Nota: 8.7 / 10
Review por João Nascimento