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Machine Head - "Unto The Locust" Review

Não há muitas bandas capazes de marcar duas décadas diferentes com dois álbuns clássicos. Há um grupo restrito de colectivos que o conseguiu fazer, que parece estar reservado às grandes bandas e ao qual por direito próprio os Machine Head pertencem. Isto porque com 13 anos de diferença lançaram "Burn My Eyes" (1994) e "The Blackening" (2007), dois dos discos mais aclamados das respectivas épocas.

Após "Burn My Eyes", os Machine Head ainda editaram o óptimo "The More Things Change", que ainda assim estava um bocado abaixo da genialidade da estreia, mas o problema foi depois. O terceiro álbum "The Burning Red" continha alguns bons temas mas mostrava uma banda na curva descendente, algo que ainda foi acentuado pelo fraco "Supercharger", sem dúvida o mais desinspirado registo da carreira do grupo norte-americano. Estes dois álbuns, mostraram uma banda que por culpa própria, ou por pressão da editora, se agarrou demasiado ao metal mais mainstream que estava em alta nessa altura, simplificando a sua sonoridade e tornando-a mais acessível, perdendo assim qualidade musical.

Após o ponto mais baixo da carreira do grupo, "Supercharger", anos luz inferior a "Burn My Eyes", não se esperava um verdadeiro regresso à boa forma do nível de "Through The Ashes Of Empires", um excelente disco, cheio de óptimos temas. Ainda assim o melhor estava para vir. Em pleno 2007, 13 anos após o marco "Burn My Eyes", os Machine Head editaram "The Blackening", outro álbum fantástico, capaz de ombrear com essa grande estreia.

Assim sendo a fasquia para o novo "Unto The Locust" era altíssima. A primeira pergunta que se coloca é se o novo álbum está ao nível do anterior colosso do metal contemporâneo. A resposta é: "Não". O que é um pouco ingrato porque é um grande disco, um dos álbuns obrigatórios de 2011, sem sombra de dúvida. Mas não é um clássico instantâneo como "The Blackening". É um excelente conjunto de temas, mas não do mesmo nível do disco anterior. Decididamente os picos da carreira de Machine Head foram "Burn My Eyes" e "The Blackening", que são daqueles álbuns que só normalmente só acontecem uma ou duas vezes numa carreira, mesmo nas melhores bandas, momentos únicos e irrepetíveis. Tem sim qualidade para concorrer com "Through The Ashes Of Empires" para terceiro melhor álbum da banda.

O certo é que os Machine Head não quiseram repetir o disco anterior, nem viver à custa do sucesso anterior, mas sim evoluir musicalmente e fazer músicas diferentes, cada uma com a sua personalidade própria, o que é de louvar. "Unto The Locust" é um disco menos complexo, mais directo, mas também mais melódico, que ainda assim não nos ataca sem piedade à primeira audição, sendo um conjunto de temas que precisa de algumas audições para ser devidamente compreendido e assimilado. Rob Flynn teve aulas de canto e isso reflecte-se em alguns temas, nomeadamente nos refrões, em que o registo deste é mais limpo que o habitual e também na balada "Darkness Within", em que o frontman de Machine Head, mostra os seus novos dotes vocais de um modo que de início se estranha.

"I Am Hell" inicia o álbum da melhor maneira, sendo o melhor tema deste álbum, começando com Rob Flynn a cantar em Latim à capela no primeiro minuto, para no segundo minuto começa a vociferar ao som de um riff a meio tempo para a partir do terceiro explodir num festival de riffs demolidores à Machine Head tocados a alta velocidade. "Be Still And Know" tem um feeling algo clássico à la Iron Maiden, influência que os Machine Head mostram nos dois últimos álbuns. "Locust" invade-nos a cabeça pelo groove destruidor do verso e pelas envolventes melodias criadas, excelente tema! "This Is The End" começa com guitarras acústicas mas depois torna-se um tema veloz de thrash metal/melodeath versão Machine Head, com um refrão bastante melódico, sendo esta claramente uma das melhores músicas do disco. "Darkness Within" é uma balada que se estranha às primeiras audições mas depois se entranha, sendo bastante 'orelhuda', daqueles temas que ficam na cabeça. "Pearls Before The Swine" é um bom tema, aliás este disco, não tem fillers nem nada que se pareça, mas este é o menos memorável. É bem tocado e agressivo mas não tem nenhuma parte que nos invada a mente de forma efectiva. Já "Who We Are", não sendo um candidato a tema clássico dos Machine Head, é um dos mais 'catchys' da carreira do grupo norte-americano. Começa de uma forma atípica, com um coro de crianças a cantar, o que passado algumas audições já não importa, porque a dicotomia peso/melodia desta música é bastante interessante e conta com um refrão antémico, perfeito para cantar com toda a convicção num concerto da banda e que promete resultar muito bem ao vivo por isso mesmo.

Se "The Blackening" confirmou o nome dos Machine Head, como um dos maiores do metal moderno, "Unto The Locust" é um álbum que os irá manter no topo, sem dúvida alguma, o que após 19 anos de carreira e 7 álbuns é de invejar, só está ao alcance dos melhores e não é obra do acaso, nem de modas passageiras.

Nota: 9/10

"Unto The Locust" track list:

01. I Am Hell (Sonata In C#)
I) Sangre Sani
II) I Am Hell
III) Ashes To The Sky
02. Be Still And Know
03. Locust
04. This Is The End
05. Darkness Within
06. Pearls Before The Swine
07. Who We Are



Review por Mário Rodrigues