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Morbid Angel - "Illud Divinum Insanus" Review

Após oito longos anos de espera, eis que finalmente chega o novo álbum dos Morbid Angel, intitulado “Illud Divinum Insanus”. O mundo aguardava com grande expectativa este novo lançamento, muito devido ao facto de ser o primeiro disco em 15 anos com o seu antigo “frontman”, o vocalista / baixista David Vincent. Mas, após a audição deste novo trabalho, a pergunta que se coloca é: valeu a pena a espera? A resposta é sim e não. Vamos por partes.

Uma das principais características de quem faz críticas a discos é ser totalmente isento e essa é a nossa filosofia aqui na Metal Imperium. Mesmo que essa banda seja uma das suas preferidas de sempre, que tenha seguido a sua carreira desde o primeiro lançamento, é da maior importância e justiça dar a conhecer a sua opinião sobre um disco em questão, e não adoptar nunca uma abordagem de “Epá, gosto imenso desta e daquela banda, e por isso tudo o que eles lançam é bom!”. Confesso que sou um grande apreciador da música dos Morbid Angel e tenho um conhecimento profundo de todo o seu catálogo. E tenho tomado em consideração as diversas críticas que leio pelo mundo fora sobre este disco, que tem sido completamente arrasado (negativamente) nas mais diversas publicações especializadas no assunto.

Existem duas formas distintas de criticar este disco: uma é ver o seguimento do mesmo na carreira da banda, comparando com a sua história e lançamentos anteriores. A outra é encarar este disco como sendo uma banda renovada, com a vontade de introduzir um novo dinamismo no seu som, pondo um pouco de parte o conceito de como se faz death metal. Se formos pela primeira hipótese, a resposta é mais que óbvia: isto não é Morbid Angel, é diferente, muito diferente, e os fãs não irão gostar desta nova abordagem, mesmo que se faça um grande esforço (lembram-se do último disco dos canadianos Cryptopsy? Pois, é algo semelhante...). Se optarmos pela segunda hipótese, as coisas então mudam um pouco de figura. É um disco arriscado, pouco linear e consensual.

“Illud Divinum Insanus” é o oitavo disco na já longa carreira da banda e marca a introdução de diversas alterações. Desde já, e essa é a mais importante de todas, é o regresso de David Vincent ao posto de vocalista / baixista, oito anos após o seu abandono, em 1996 (regressou à banda em 2004, após a saída de Steve Tucker). O último disco com Vincent nesta posição é o referencial “Domination”, por muitos considerado o ultimo disco dos verdadeiros Morbid Angel. O regresso de Vincent gerou uma ansiedade e expectativa enorme junto da comunidade do metal, imaginando que o seu regresso iria fazer também regressar os Morbid Angel de “Covenant” e “Blessed are the Sick” e ao já referenciado “Domination”. A segunda alteração, também importante, é a ausência do baterista de sempre, Pete “The Feet” Sandoval, devido a uma cirurgia às costas, sendo aqui substituído (bem como nas actuações ao vivo) pelo também extraordinário Tim Yeung (Hate Eternal, Divine Heresy). A última alteração é a inclusão de um segundo guitarrista, tendo a escolha recaído em Thor “Destructhor” Myhren, antigo guitarrista dos Myrkskog e Zyklon, após o abandono definitivo de Erik Rutan para se dedicar em “full-time” ao seus Hate Eternal. Todos estes três elementos se juntam ao cérebro e fundador desta banda Trey Azagthoth, do já longínquo ano de 1984.

Muito se tem falado neste novo lançamento dos Morbid Angel, como sendo algo de abominável musical e liricamente, um disco totalmente estranho, uma facada nas costas na sua legião de seguidores, um ultraje ao death metal e a toda a sua história (na qual os Morbid Angel são um dos principais personagens, ao lado de bandas como os Death, Cannibal Corpse, Suffocation, Deicide entre outros) e muitos dizem que a banda morreu, que é muito difícil voltar a levantar bem alto o nome da banda. No entanto, nos tempos que correm e quando as bandas tentar inovar e dar algo que seja memorável, isso é mais que legítimo. Decididamente, e na minha opinião, Trey Azagthoth e a restante banda não enlouqueceram e o que eles aqui apresentam é a sua visão de como a banda deve soar no ano 2011.

No passado, os discos de Morbid Angel era vistos como uma referência para todo um género. Todos eles eram diferentes entre si, mas existia sempre uma linha comum que os unia a todos e dava um seguimento lógico ao progresso contínuo do grupo. O death metal da banda soava sempre um pouco diferente de disco para disco, ora alterando para um álbum mais “in your face” (“Covenant” e “Formulas Fatal to the Flesh”) para algo mais lento, arrastando e cirúrgico (“Gateways to Annihilation”), mas sempre mantendo a sua identidade. Sabíamos que era o Trey que estava ali na guitarra e o Sandoval na bateria e isso era imutável e sinal que era um disco para clássico. Confesso que ouvi este álbum bastantes vezes... mais do é normal para poder avaliar um disco. Em parte para tentar entender o porquê das críticas ferozes da imprensa especializada sobre esta nova abordagem da banda. A outra parte foi devido ao facto de, cada vez que o ouvia havia sempre algo de novo que não tinha notado na anterior audição e o que ao início se tornou uma surpresa, pois não estava nada à espera de um álbum destes se tornasse num disco interessante.

“Illud Divinum Insanus” inicia com uma peça sinfónica, “Omni Potens”, apoiada em batidas repetitivas e de cariz militar, como que a preparar o ouvinte para a grande batalha que se irá seguir. E a seguir vem logo a primeira surpresa do disco, “Too Extreme!”. Lemos por todo o lado que é uma mistura de Marilyn Manson com Rob Zombie, numa base e ritmos industriais e batidas electrónicas. Sim, parece tudo isso, mas à maneira dos Morbid Angel. Para mim, trata-se apenas de uma abordagem diferente ao metal extremo da banda, onde as duas únicas falhas são ser muito longa e repetitiva. É interessante, mas é um bom início para este disco? Talvez não e é possível que a colocação deste tema em outra posição no disco poderia ter outro impacto. Impacto esse que são os dois temas seguintes no alinhamento, “Existo Vulgoré” e “Blades for Baal”. Excelente temas, mais dentro do que a banda nos ofereceu no passado, duas boas malhas de death metal, rápido e intenso, com um excelente trabalho de guitarra e bons solos. O tema seguinte, “I Am Morbid” é um pouco atípico, iniciando num ritmo lento e compassado, com um coro de “Morbid! Morbid”, prosseguindo num ritmo muitas vezes a roçar o “mainstream”. Pouco interessante. “10 More Dead” é outro grande tema do disco, muito a lembrar “World of Shit (The Promised Land)" do album “Covenant”. Poderoso e intenso até meio do tema, rápido e viciante até ao fim. Arrasador. O tema seguinte “Destructos Vs. the Earth / Attack” é semelhante a “Too Extreme!”, mas um pouco mais abrangente, existindo diversos estilos diferentes no mesmo tema, fazendo a ponte para a melhor malha do disco, “Nevermore”. Esse tema já vem sendo rodado nas actuações ao vivo da banda e é absolutamente viciante. Uma explosão de brutalidade muito típica dos Morbid Angel, que por momentos nos leva ao seminal “Covenant”. O ultimo terço do disco veria entre o bom, o totalmente (e aqui é MESMO totalmente) estranho e desvairio completo. O bom é “Beauty Meets Beast”, outro forte tema do disco, numa toada a meio tempo. O totalmente estranho é “Radikult”. Não se percebe muito bem onde Trey e companhia desencantaram esta ideia. É um tema que não é possível descrever por palavras, apenas ouvindo... e mesmo ouvindo muitas vezes é difícil de acreditar que estamos a ouvir um disco de Morbid Angel. É preciso pegar na caixa do CD, verificar bem se é esse o disco que está no leitor de CD´s, voltar a verificar (não vá alguém ter trocado o disco por algum de rap-metal / industrial / noise). Por fim, temos a certeza: “Radikult” faz parte deste disco. Mesmo assim não acreditamos. O disco finaliza com “Profundis - Mea Culpa”, um desvairio musical, de ritmos frenéticos, que não choca, e que é uma boa forma de fechar a polémica.

Chegamos ao fim do disco. São onze temas, que variam entre o muito bom, o mediano e o fraco / estranho. Mas é assim tão mau como dizem? Na minha opinião não. É certo que é um disco fora do âmbito Morbid Angel, que o fãs vão (e estão) a odiar, pois não coincide em nada com o que conheciam da banda. Uma nova porta a abrir-se? Talvez. Talvez seja uma forma dos Morbid Angel definir o conceito de “extremo”, tal como fizeram os Mayhem em “Grand Declaration of War” e os já mencionados Cryptopsy com “The Uspoken King”, com os resultados que tiveram na sua altura.

O tempo o dirá e iremos ver se este “Illud Divinum Insanus” foi apenas um desvio temporário na estrada dos Morbid Angel ou se esse atalho se tornou a estrada principal para esta (ainda) grande banda.

NOTA: Muitos poderão perguntar o porquê de uma nota 7 em 10 para este disco, mesmo a crítica tendo sido favorável. A explicação é simples: gostei do álbum, existem bons temas, mas desta banda já ouvimos muito melhor. São temas bem construídos e executados mas não são extraordinários, conhecendo o passado da banda e do que ela já nos deu. Quando indico na críticas que são temas excelentes, refiro-me apenas ao contexto deste disco. O restante é o resultado dos temas menos conseguidos e dos temas fora do contexto habitual da banda.

Nota: 7.0/10
"Illud Divinum Insanus" track list:

1.Omni Potens
2.Too Extreme!
3.Existo Vulgoré
4.Blades for Baal
5.I Am Morbid
6.10 More Dead
7.Destructos Vs. the Earth / Attack
8.Nevermore
9.Beauty Meets Beast
10.Radikult
11.Profundis - Mea Culpa


Review por João Nascimento