Os Grimlet são autores de um dos melhores álbuns nacionais lançados em 2010. Com uma sonoridade muito própria e um conjunto de grandes temas, "Grim Perceptions" é um trabalho que coloca a banda de Figueira da Foz na primeira linha do metal nacional.
Podem ler abaixo a entrevista realizada ao baterista da banda Luís Filipe.
M.I. -Depois de 11 anos a batalhar no underground nacional e de um EP lançado em 2004 os Grimlet lançaram finalmente o seu álbum de estreia. Como te sentes agora ao ter o álbum cá fora?
Sentimos acima de tudo um grande orgulho, por termos o novo álbum finalmente nas lojas.
Era um objectivo muito importante este álbum de estreia, demorou mas viu a luz do dia e estamos muito satisfeitos com o resultado final, na medida em que tudo correspondeu às nossas expectativas. É com ainda maior satisfação que recebemos o óptimo feedback por parte da imprensa e público em geral em relação ao álbum, não só a nível nacional mas internacional também.
M.I. -O vosso álbum foi lançado também no Brasil. Como está a ser a reacção ao álbum por lá?
O caso do Brasil foi curioso, porque na altura em que lançámos o EP “Darkness Shrouds the Hidden” estabelecemos alguns contactos de distribuição e o feedback de reviews (Kerrang, Roadie Crew) foi muito bom. Anos depois, antes ainda do novo álbum ser lançado recebemos contactos por parte de uma editora e de uma distribuidora brasileiras, interessados em promover o novo trabalho, havendo inclusivamente ainda bastante procura do EP e bastante expectativa e interesse em relação ao novo trabalho. Avançámos então para uma parceria com a Guillotine Records e Turbulation Productions e pelo que sabemos o feedback está a ser muito bom. Atravessar o Atlântico era um sonho..(risos) vamos ver o que acontece..
M.I. -E noutros países, nomeadamente da Europa. Há planos para a edição do álbum?
Na Europa ainda não conseguimos distribuidor, mas o novo álbum chegará brevemente a países como a Austrália, Estados Unidos e China. Por outro lado, para quem queira adquirir o novo álbum, ele está disponível nas lojas um pouco por todo o país pela Recital Records, incluindo FNAC’s e lojas online nacionais, ou então podem também adquiri-lo através da própria banda.
M.I. -Tivemos oportunidade de assistir a um concerto vosso, pouco tempo antes do lançamento do vosso álbum. Talvez por não conhecerem os temas, a reacção do público não foi condizente à qualidade dos mesmos. Pretendem promover muito o álbum para o público ficar mais familiarizado com as vossas músicas e a vossa sonoridade?
É normal (risos), estes temas ainda não são conhecidos da maior parte das pessoas e também temos a noção de que as sonoridades que fazemos não são muito fáceis de digerir á primeira audição, embora já tenhamos tido também autênticas “batalhas campais” (risos) em concertos de promoção deste novo trabalho, depende sempre muito do público e da zona do país em que tocas.
M.I. -A vossa sonoridade é um pouco complexa e talvez não seja fácil de 'digerir' à primeira audição. Isso não poderá infelizmente afastar por vezes os ouvintes? Pergunto isto pois estamos num tempo em que a música é considerada tão 'descartável' e em que muita gente não ouve os álbuns com tempo e atenção devida...
Sim, como te disse, temos a perfeita noção que a nossa sonoridade não é de fácil digestão (risos), mas também é isso que na nossa opinião nos torna minimamente originais e nunca foi nem nunca será objectivo dos Grimlet fazer metal que esteja na “moda”, fazemos a música que gostamos. Não creio que isso afaste os ouvintes, antes pelo contrário, mas o nosso objectivo também não é sermos comerciais, o público dos Grimlet é aquele que gosta de ouvir metal diferente do habitual e, felizmente, não somos os únicos a nível nacional a apostar na diferença.
M.I. -Achas que é mais fácil para uma banda atingir visibilidade quando pratica um sub-género que está na moda? Ao contrário dos Grimlet que têm uma sonoridade que não está colada a nada...
Sim, não penso que seja necessariamente mais fácil, mas algumas portas abrem-se muito mais facilmente porque conseguem desde logo atingir muito mais público e serão mais facilmente comercializáveis, independentemente da crise da era digital… mas como referi na pergunta anterior, definitivamente não é esse o nosso objectivo.
Encaramos a música como um território de liberdade criativa por excelência no qual também vamos evoluindo continuamente como músicos e tendo em conta a multiplicidade de influências e interesses musicais que cada membro desta banda tem, seria um desperdício fazer metal da “moda” (risos).
M.I. -Que temas são abordados nas letras dos Grimlet?
Em termos líricos, o novo álbum aborda o conceito da manipulação do ser humano por parte do sistema dominante. São oito temas ou oito percepções distintas da realidade que nos rodeia e sufoca. Demonstramos como essas oito percepções espelham diferentes aspectos da mesma realidade, em que supostamente nos julgamos livres quando na verdade somos manipulados e continuamos a alimentar um sistema que lentamente nos vai escravizando a todos.
O tema “Chaoscope”, em termos líricos, resume na perfeição o conceito de todo o álbum.
M.I. -Os Grimlet não têm actuado muito desde o lançamento de "Grim Perceptions". Isso deve-se à saída do guitarrista Rui?
Sim, o Rui Todo Bom que foi membro durante praticamente 5 anos, devido a complicações na sua vida profissional teve de abandonar a banda pouco tempo antes do lançamento do novo álbum. Entrou para o lugar dele o guitarrista Luís de Sousa (KillerKarma) e desde então já passámos por Lisboa, Moita, Pombal, Figueira da Foz, Ílhavo e Aveiro e fomos sempre muito bem recebidos e vamos rumar brevemente a Norte, as datas serão anunciadas á medida que forem confirmadas.
M.I. -Quais foram os momentos altos e as maiores dificuldades com que se depararam os Grimlet nestes 11 anos de carreira?
Podemos dizer que em 11 anos de banda já nos aconteceu um pouco de tudo e certamente que para nós momentos marcantes foram, pisar os palcos de alguns dos principais festivais nacionais, partilhar o palco com bandas como Benediction(UK), Dew Scented (DE) Ramp entre outras, e conseguir lançar o EP e o novo álbum no mercado nacional. As dificuldades com que nos deparámos são as que todas as bandas passam, se bem que não nos podemos queixar do movimento Underground onde estamos inseridos, que tem mostrado que o metal português não fica nada a dever ao que se faz lá por fora e continua a crescer e a afirmar-se cada vez mais.10-O álbum de estreia foi com certeza um objectivo que os Grimlet à muito tempo perseguiam. Quais são as metas que a banda ambiciona atingir daqui em diante?
M. I -O álbum de estreia foi com certeza um objectivo que os Grimlet à muito tempo perseguiam. Quais são as metas que a banda ambiciona atingir daqui em diante?
Os objectivos a curto prazo são promover este novo álbum ao vivo o máximo que pudermos e se possível avançar com algumas datas em Espanha também, algo que ambicionamos há bastante tempo e ainda não se proporcionou.
Um objectivo a médio prazo é gravar um segundo álbum, isto porque muito trabalho tem sido feito em termos de composição e temos já bastante material novo que nos está a entusiasmar muito nesse sentido, por isso não terão de esperar mais cinco anos até ao próximo álbum certamente (risos).
Entrevista por Mário Rodrigues