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Entrevista aos Burned Blood


Entrevistámos João Artilheiro, o vocalista dos Burned Blood, banda de Sintra formada em 2008 que lançou o ano passado o seu primeiro trabalho, o EP "Hanged By The Hands Of Perfection". O frontman deste grupo nacional falou-nos dos planos de lançarem o seu longa duração de estreia, as influências da banda entre muitas outras coisas a descobrir nesta entrevista.

M.I.- Conta-nos como os Burned Blood se formaram...

Burned Blood formaram-se a partir do momento em que o Prim resolveu juntar três amigos no Verão de 2008, com gostos musicais em comum, e com uma ideia no que se queria seguir. Logo a partir do primeiro ensaio começou-se a ver nascer a 1ª música. Ao fim de umas semanas o Prim, a convite de um amigo, teve a 'ousadia' de nos pôr a abrir um concerto que iria acontecer ao fim de 2 meses (risos). Isto, "obrigou-nos" a compor 5 músicas para poder apresentar no concerto. Na semana a seguir demos mais um concerto e a partir daí, felizmente, foi quase sem parar.


M.I. - Como descreves a sonoridade dos Burned Blood, para quem não vos conhece?

Há sempre aquela ideia inicial, em que quando se começa um projecto musical, pensamos em seguir esta ou aquela linha daquela ou de outra banda. E penso que acabou por ser isso mesmo, uma mistura de gostos e influências. Mistura essa que converge para o Deathmetal e os seus subgéneros, como o Deathcore e Death Metal Melódico. Penso que vai ser a partir do novo material que vai haver uma melhor definição daquilo que fazemos, e daquilo que queremos seguir. Neste momento, e como opinião pessoal, descrevo Burned Blood exactamente dessa forma, como uma banda de Death Metal Melódico, com uma pitada de Deathcore.


M.I. - Como decorreu o vosso processo de composição do EP?

O nosso EP acaba por ser uma espécie de 'souvenir' do material de Burned Blood na altura. Foi à pouco mais de um ano as gravações, tínhamos por isso cerca de 10 meses de existência. Juntámos o material que tínhamos na altura, houve um melhoramento dos temas e decidimos meter mãos à obra, e lançar o EP. Não houve por isso uma composição específica para o EP e a pensar nele. Fomos compondo, na altura em que descrevi na 1ª pergunta, e ao longo do resto dos meses enquanto dávamos concertos.

M.I. - O que te inspira para escrever as letras para os temas de Burned Blood?

Eles deram-me a liberdade de o fazer como entendesse melhor e por isso, acabei por seguir a mesma linha que sempre me guiei para o fazer e o qual me identifico. Acabo por me focar mais nos problemas a nível pessoal e a nível social. Abordo também temas como a morte, Apocalipse e até um tema que não gosto nem costumo abordar, mas acaba por vir à tona, como o caso da religião.


M.I. - Podes contar-nos algumas das bandas que mais fortemente influenciaram a sonoridade da banda?

É difícil encontrar algo especifico e único que nos tenha influenciado, porque realmente foi um pouco de tudo do que a gente gosta. Mas se tivesse de dizer bandas que acabámos por 'filtrar' para Burned Blood de alguma forma, diria The Black Dahlia Murder, Carnifex, Lamb of God, Children of Bodom, Neaera, etc... Ou artistas a solo como Pavarotti, Zé Cabra ou Amália (risos).


M.I. -Como têm decorrido os concertos de promoção do vosso EP?

Têm corrido bem, e arrisco-me a dizer que são cada vez melhores. Penso que apesar de em alguns concertos em que os estilos das bandas envolvidas são um pouco mais diferenciados, e acredito que haja pessoal a torcer o nariz, acaba sempre por haver uma aceitação positiva. Acho que Burned Blood é mais para ser ouvido ao vivo do que ouvido na EP, e apesar de um bater de palmas ser sempre bom e gratificante, nos nossos concertos dou tanto ou mais valor aos que fazem um headbang a acompanhar ou que participam no mosh. É difícil a adesão, mas o pessoal vai perdendo a vergonha aos poucos (risos).


M.I. - Ficaste completamente satisfeito com o resultado final do EP? Mudarias algo?

Penso que mudaríamos uma coisa ou outra, isto dentro da realidade e das possibilidades que temos, faríamos algumas coisas de diferente modo. Isto foi a nossa primeira experiência, e há que aprender com os erros, o que é normal. Mas acaba por ser um resultado muito agradável, tendo em conta o orçamento e os recursos, até porque o nosso EP é um trabalho caseiro, tanto a nível de gravação, como físico, e ficou com uma qualidade muito aceitável.


M.I. - Há planos para um novo trabalho? Pergunto isto porque já passou um bom tempo desde o lançamento de "Hanged By The Hands Of Perfection".

Vamos compor temas novos, mas desta vez, além de ser a pensar nos concertos, será a pensar num futuro longa duração, sim. Não sei para quando será, e desta vez, como os temas irão ter a atenção devida, mais tempo irá demorar. Mas espero que seja ainda no decorrer/final deste ano que possamos apresentar uma boa novidade.


M.I. - Que objectivos têm os Burned Blood?

Num futuro mais próximo os objectivos são exactamente esses, novos temas, e um album. Cada vez é mais difícil vingar, porque aparecem cada vez mais bandas e com grande qualidade, mas vamos esperar que façamos algo muito bom de forma a poder ter a ajuda de editoras e distribuidoras, ajuda sempre. E a partir daí ter a possibilidade de umas aventuras lá fora também se possível. Penso que todas as bandas ou projectos que pensam em algo um pouco mais sério tem estas ideias, e nós não somos excepção. Mas acima de tudo há que ter a cabeça no lugar e dar um passo de cada vez.

M.I. - Ambicionam futuramente pisar palcos maiores?

Sim claro. Quem anda nisto, tem de ser por gosto, e dá mais gosto poder tocar e divertir 500 ou 1000 pessoas do que 30. Por isso espero lá chegar. No final do ano passado estávamos no cartaz do Vimaranes, onde estiveram presentes bandas como Nile, e é certamente um passo na direcção correcta. Infelizmente fiquei doente e não podemos participar na festa. Mas é um caminho que queremos seguir, e quando falei nos palcos estrangeiros, se for algo em grande melhor ainda claro.

M.I. - Qual a tua opinião acerca do Metal Nacional?

Sub-valorizado, devido ao talento bastante visível no underground mas, ou que não é aproveitado, ou que não tem atenção suficiente. Sinceramente já não sei é quem está de fora que não olha para nós, se é quem cá está dentro, vive na esperança que as coisas aconteçam sozinhas e venham ter connosco, se é sub-valorização que nos damos a nós próprios. O povo português é realmente um povo com a mentalidade fadista, pessimista, etc., e se calhar muitas das vezes não aposta em si próprio e não envia, p.ex. a demo para uma editora com mais capacidades. Há que apoiar mas também não esperar que o apoio caia do céu. Penso que o Metal cá, tem muita qualidade, e se se quer mais visibilidade temos de ser nós a apostar em nós próprios primeiro. Daí ser preciso muito também o apoio, e principalmente, de cá. Infelizmente o nosso país é assim mesmo, não só no Metal mas em tudo, só damos valor ao que é nosso quando tem visibilidade lá fora...


M.I. - Sentes-te motivado para fazer a tua banda singrar num país em que muita gente não dá valor ao que é Nacional?

Eu sinto-me motivado para fazer aquilo que gosto, acima de tudo. Eu não sei nadar muito bem, e quando é contra a maré não ajuda em nada. Mas é aí que tenho de me auto-motivar em primeiro lugar. O que é nacional é bom, mas ninguém, ou quase ninguém dá valor, é verdade. Há que ter os pés assentes no chão, fazer o que se gosta, e com gosto. Eu já estou há muito tempo mentalizado que o nosso país é difícil neste aspecto, e por isso faço-o por gosto e amor à camisola, mas se por acaso tiver oportunidade de mais qualquer coisa...


M.I. - Tens algo que queiras acrescentar a esta entrevista?

Gostava de sublinhar o desejo de muita gente, que o pessoal continue, e façam para que o apoio ao Metal nacional seja cada vez maior para podermos todos crescer. Um obrigado a quem já o faz, a comparecer nos concertos, na divulgação das bandas, ou a ajudar no merch!
Obrigado a vocês, Metal Imperium, pela entrevista. E claro pelo apoio que vocês dão às bandas nacionais. Continuem!




Entrevista por Mário Rodrigues