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Entrevista aos Pitch Black


Entrevistámos Álvaro Fernandes, guitarrista e líder dos Pitch Black, uma banda que dispensa apresentações e que devido à sua grande qualidade e longevidade podemos considera-la uma das mais importantes do nosso País. Álvaro respondeu-nos a várias questões, sobre os mais variados assuntos acerca dos Pitch Black, o Metal Nacional e o Thrash Metal.

M.I. -Antes de mais Álvaro, deixa-me agradecer a oportunidade de realizar esta entrevista.
Tenho curiosidade em saber a origem e o porquê da escolha do nome Pitch Black. Podes-me revelar?

Nós é que agradecemos pelo apoio e divulgação. O nome surgiu numa altura em que estavamos à procura de uma nova designação para a banda, dado os mais de dois anos que estivemos sem tocar ao vivo, mudanças de line-up e por querermos assinalar uma nova fase na carreira da banda. Foi por essa altura que vi pela primeira vez o trailer do filme “Pitch Black” do David Twohy. Como qualquer trailer (o objectivo é esse mesmo) tem o seu impacto, no final quando surge o nome do filme, despertou-me logo a atenção. Tratei imediatamente de ver o filme e como gostei bastante sugeri esse nome. Todos aceitaram e assim foi... A expressão pitch black (escuridão total), pelo próprio significado que tem, também se enquadrou bem na sonoridade e género musical da banda.

M.I. -Sentem-se de alguma forma uma banda importante e influente no Metal Nacional?

De certa forma penso que sim. Já temos 15 anos de rodagem e o simples facto de ainda cá andarmos pode ser, já por si, uma influência para outras bandas. Aliás, desde o início que sempre tive o hábito de dizer que a persistência é a melhor qualidade para se atingir os nossos objectivos. E no mundo da música e do Metal isso é determinante. Mas mais do que isso, não sei até que ponto possamos ser influentes. Já ouvimos bons elogios ao nosso trabalho de pessoas que nos disseram que fomos um dos motivos para começarem uma banda. Isso é gratificante mas lá está, terias de perguntar às pessoas se nos acham uma banda influente. Para mim é um pouco difícil ter essa perspectiva.


M.I. -Têm aparecido nos últimos anos várias novas bandas de Thrash Metal em Portugal, tanto na vertente mais old school como na vertente mais moderna. Pensas que se pode falar de uma cena Portuguesa de Thrash Metal?

Claro que sim. Já houve alturas em que o Thrash Metal era o género mais prolífero da nossa cena e até eram essas bandas que tinham mais sucesso. Mas na mesma altura, também tínhamos uma cena forte no que diz respeito a Death Metal. Contudo, hoje em dia, se juntares as bandas mais old-school com as que usam mais groove e peso no Thrash, penso que temos uma cena boa. Mas ainda falta muita coisa. Em Portugal, o Thrash nunca voltou em força desde que o Death Metal começou a ser moda (e já vão uns largos anos). Logo, mesmo tendo uma cena boa dentro deste estilo, ainda não temos bandas suficientes. Mas também, se formos a ver, até é um género em Portugal onde, em menor quantidade, tem um grande número de bandas com grande qualidade. Basta pensarmos nos Headstone, Prayers of Sanity, Angriff, Revolution Within, Switchtense, Web, Buried Alive, Atomik Destruktor, etc, etc


M.I. -A meu ver vocês têm qualidade para fazer sucesso fora de portas. Já ambicionaram ter algum reconhecimento além fronteiras e terem um álbum vosso lançado lá fora?

Sim, claro. Mas para isso acontecer temos de deixar os nossos empregos e não ter casas para pagar (risos). Digo isto porque se for para fazer uma coisa, é para fazer logo tudo! Ou seja, não gostava de estar a trabalhar para conseguir um contrato com uma boa editora internacional, para depois nem sequer poder promover o nosso trabalho lá fora, dar concertos, etc... A vida em Portugal não é fácil e todos temos responsabilidades. Não temos propriamente 20 anos... Mas um dia, nunca se sabe! Basta trabalharmos para isso!


M.I. -Têm uma música no último álbum chamada "Thrash Metal Elite". Consideram estar na elite deste sub-género? Pensas que se os Pitch Black tivessem num País com outras tradições no estilo seriam uma banda de maior dimensão?

Sim, porque não? 15 anos a tocar Thrash merecem algum reconhecimento e num outro país talvez já tivessemos outro tipo de projecção mas não sei... E o nome dessa música reflecte até o estado do género no nosso país. Somos tão poucos que quase poderíamos ser considerados uma elite (risos). Quero dizer, muita gente gosta de Thrash... mas o que é certo é que álbuns novos de grandes bandas como Onslaught, Exodus, Death Angel, Bonded By Blood, etc não vendem grande coisa por cá. MAS toda a gente gosta de Slayer e Metallica, certo? Não sei, não percebo muito bem isso... Mas no fundo, esse tema fala essencialmente de nós e do género em geral.


M.I. -Quais pensas que foram as maiores diferenças e semelhanças entre "Thrash Killing Machine" e "Hate Division"?

O "Thrash Killing Machine" é um álbum que, muito devido à produção, tem uma sonoridade muito mais old-school. A voz também ajuda bastante nisso. No entanto, o "Hate Division" tem uma abordagem mais técnica, mais rápida, uma voz mais pesada e uma produção mais “cheia”. E essas são mesmo as maiores diferenças. Penso que um tema como o “Enemy Siege” ou “And the Killing Ends” são mais old-school que muitos temas do primeiro. E até a “Unleash the Hate” tem bastantes semelhanças na sonoridade e estilo com a “Disturbing the Peace”, por exemplo.


M.I. -Penso que Slayer e Exodus são duas das influências mais notórias na vossa sonoridade, apesar de já terem o vosso próprio som. Não as negarás certamente... São boas influências...

Bem, os Slayer criaram a sequência de 3 álbuns mais devastadora da história do Metal. Como poderia eu ser indiferente a isso? E os Exodus têm o álbum mais in your face e que ajudou, em muito, a definir esta sonoridade. O “Bonded By Blood” é um clássico com uma sequência de temas que me arrepio quando ouço do início ao fim. E depois há outras coisas que admiro bastante e que servem, inevitavelmente, como referências e influências para mim: Death Angel, Sepultura antigo, Onslaught, Sodom, Kreator, Death, entre muitas outras!


M.I. -Já têm planos para o sucessor de "Hate Division", ou para já pensam apenas promover bastante este trabalho ao vivo?

Para já apenas estamos preocupados em promover o nosso trabalho com os concertos. Até ao final deste ano não nos vamos concentrar num próximo trabalho até porque não temos tempos para tudo. Depois logo se vê...


M.I. -Num terceiro álbum pensam introduzir algumas alterações no vosso som ou continuar na mesma linha?

Vamos continuar na mesma linha. Ora mais pesado, ora mais rápido mas sempre dentro do mesmo género. Queremos experimentar outras abordagens dentro do estilo mas o essencial é que as coisas resultem da maneira que queremos, que as pessoas se identifiquem com os novos temas e que continuem a soar a Pitch Black.


M.I. -Foi fácil a integração do vocalista Tiago Albernaz nas vossas fileiras?

Ao início foi complicado porque o Tiago entrou numa altura em que já tínhamos concertos agendados, a data de lançamento do álbum marcada e muitos planos para o ano de 2009. Logo, o tempo que a banda teve para se preparar e o tempo que o Tiago teve para se integrar foi de apenas uns meses. Quando começaram os concertos, começamos a evoluir e as coisas correram melhor daí para a frente.


M.I. -Os Pitch Black têm tido muitas mudanças de formação ao longo da sua carreira. Pensas que esta é a vossa formação mais sólida?

Possívelmente sim. Ter um line-up estável é das melhores ferramentas que uma banda tem para evoluir e trabalhar. Quando se está constantemente a mudar, dão-se sempre uns passos para trás e todo o processo evolutivo é posto em causa devido a essa instabilidade.


M.I. -Vocês tiveram o privilégio de tocar ao longo dos anos com excelentes bandas internacionais. Com quais te deu mais gozo tocar?

Definitivamente com os Exodus, Onslaught, Tankard, Dew-Scented, Nuclear Assault, Prostitute Disfigurement, Contradiction e Hatesphere.


M.I. -Tens vários anos de música sempre dedicados à mesma banda. Nunca sentiste vontade ou necessidade de formar ou participar num projecto paralelo, para poderes fazer algo diferente daquilo que fazes nos Pitch Black?

Claro que sim! E planos e ideias não faltam. O que falta é tempo! Mas isso é natural. Qualquer músico sente sempre a necessidade de experimentar outras abordagens criativas com o passar dos anos. E mais tarde ou mais cedo vou fazer isso. Não sei é quando!


M.I. -Que diferenças vês no Underground Nacional de há 15 anos atrás para hoje em dia?

As coisas eram diferentes antes. Umas melhores, outras piores. Antes não existiam tantos perconceitos e as pessoas gostavam tanto de Tiamat como de Bad Religion. Como havia menos concertos, havia mais adesão e não existiam tantas bandas, tantas editoras, tantos lançamentos. Logo, podias prestar mais atenção ao que acontecia. Agora saem álbuns todas as semanas, aparecem novas bandas todos os dias e para além de não ser essa a realidade em Portugal, naturalmente que sendo uma realidade a nível mundial também se sente o efeito por cá. A cena evoluiu, apareceram mais bandas, tudo muito devido aos meios de divulgação que surgiram como a internet, estúdios de gravação, salas de espectáculos, etc... É apenas um reflexo da evolução natural da sociedade. O tape-trading evoluiu para a partilha na internet e as fanzines evoluíram para as webzines, só para citar dois exemplos. Tudo isso é natural e não vale a pena pensarmos muito nisso. Apenas temo-nos que adaptar. O maior problema prende-se ao facto de antes haver muito menos fans de Metal mas os que haviam e apoiavam a cena não se dividiam. Hoje em dia temos muita mais gente que ouve Metal mas está tudo dividido... só ouvem algumas bandas, só vão a alguns concertos e isto torna muito mais árduo o trabalho de divulgação para uma banda de Metal que quer destacar o seu trabalho.





Entrevista por Mário Rodrigues