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Entrevista aos Fantasy Opus


Os Nacionais Fantasy Opus lançaram já no ano de 2008 o seu álbum de estreia "Beyond Eternity", um trabalho de grande nível, mostrando que em Portugal também se pode fazer Power Metal de qualidade. Entrevistámos Marcos Carvalho, guitarrista e principal compositor do grupo, que nos deu a conhecer um pouco mais da realidade da banda.

M.I. - Vocês iniciaram a carreira em 1999 e só em 2008 lançaram o vosso álbum de estreia. Isso deveu-se à instabilidade de formação na banda e à dificuldade que com certeza tiveram em arranjar um vocalista para o estilo de som que praticam?

MC - Sim. Em 1999 o som da banda era mais na onda Thrash, um pouco baseados nos
Megadeth, que foi uma banda que teve um papel importante na minha formação como guitarrista autodidacta.
Era um “Power Trio” do qual só resto eu e o Baterista Paulo Santos, não tínhamos baixista, e era uma coisa muito embrionária, as músicas um pouco cruas, mas acabou por contribuir para o que somos hoje. Depois disso entraram e sairam pessoas, e aos poucos fomos expurgando a mediocridade e a falta de seriedade musical e pessoal, e ficando só com a “nata” dos músicos que fomos encontrando. Hoje em dia temos um colectivo muito forte tanto em termos musicais como em termos pessoais, na minha opinião.


M.I. - Como foi o processo de gravação de "Beyond Eternity"? Presumo que tenha sido longo e duro devido ás alterações na formação do grupo.

MC- O processo de gravação foi separado em duas fases;
A primeira fase decorreu por volta de Abril de 2004, altura em que decidimos arriscar e seguir o
nosso instinto; na altura tínhamos um lineup completo menos o vocalista, que neste tipo de bandas é sempre um elemento determinante. Gravámos quase tudo o que era instrumental (menos alguns teclados que estavam inicialmente previstos) e pensámos que com uma “amostra” de qualidade, mais vocalistas se interessassem em participar. Vimos até vocalistas fora de Portugal, mas as coisas nunca aconteceram porque ou queriam dinheiro para cantar no álbum ou preferiam dedicar o seu tempo ás suas próprias bandas. Entretanto o tempo foi passando, o teclista deixou a banda e recusou-se a gravar a parte dele, que deixou alguns buracos, e na incerteza do vocalista pensámos várias vezes em decidir cancelar a gravação e a própria banda. Mas por algum motivo aqui e ali pensámos sempre em continuar. Ainda fiz algumas viagens a Valadares para gravar acrescentos de guitarra necessários para partes que tinham teclados inicialmente. Depois só em 2007 descobrimos o Pedro Arroja e o Cláudio Shiver e começámos a ensaiar com ambos. Já estava tudo gravado a nível de guitarras por isso só faltava o Pedro. Finalmente pudemos ver o trabalho finalizado e temos muito orgulho no que fizemos.

M.I. - A meu ver fizeram um álbum de grande qualidade, variado e sem pontos baixos. Essa variedade e o padrão de qualidade elevado foram algo intencional da vossa parte?

MC - Sim, acho que no que respeita á qualidade, qualquer banda tenta sempre fazer o melhor
possível. Quanto á variedade, todos na banda somos fãs da variedade entre claro e escuro, rápido e lento, calmo e raivoso. Eu sou particularmente adepto da variedade porque acho que a falta dela é que arruinou o mercado para as bandas de Power Metal. Neste momento é muito raro eu ouvir Power Metal, porque muito poucas bandas fazem algo de interessante no género, são sempre os mesmos riffs, os mesmos vibratos na voz, o mesmo pedal duplo em compasso quaternário, já aborrece. Sempre ouvi vários estilos diferentes, e hoje em dia oiço de practicamente tudo, e isso acabou por se reflectir na diversidade e variedade que falam.


M.I. - Quando o vocalista Pedro Arroja entrou na banda já tinham todo o instrumental gravado. Arroja foi de facto uma mais valia para a banda sendo um vocalista muito talentoso. Era a peça que faltava e encaixou na perfeição na vossa sonoridade. Concordas?

É um dos melhores vocalistas do Metal Português a nível do Metal mais tradicional...


MC - Sim concordo com ambas as observações. E depois também é uma excelente pessoa
(quem tem ou teve uma banda compreende a importância disto) e compreende a banda. Muitos
vocalistas acotovelam toda a gente quando chegam a uma banda para serem os “protagonistas”.
Mas o Pedro compreende a banda e percebe que a sonoridade é variada e que há muitas camadas e partes instrumentais, e que dificilmente alguma vez faremos musiquinhas de 3 minutos do la-la-la (alusão á questão das bandas de Power Metal que saturaram o mercado). Aqui, como resultado disso, o único protagonista em Fantasy Opus é a música.


M.I. - Estão satisfeitos com a reacção do público ao álbum?

MC - Estamos bastante satisfeitos, diria que a reacção ultrapassou as expectativas. Vendemos
centenas de álbuns mesmo antes de termos editora, um pouco por todo o mundo. Em países
distantes como o Japão tivemos mais de uma centena de cd's vendidos de lojas que nos
encomendaram, tudo via myspace. Estamos em contacto com essas lojas e duas delas já nos
disseram que já esgotaram os nossos cd's ou que estão prestes a esgotar. Isso é excelente. O apoio da malta a nível nacional tem sido óptimo, agora só esperamos que apareçam mais bandas de Heavy e Power para que se possa criar por cá uma cena semelhante á cena que existe em Espanha.

M.I. - Os Fantasy Opus assinaram recentemente por uma editora Norte Americana, a Highway 36 Entertainment. Isso significa que "Beyond Eternity" irá ser lançado Internacionalmente. Em que mercados será lançado? O contrato abrange o lançamento de futuros álbuns?

MC - Neste momento estamos em fase de definição sobre esses assuntos, visto que tanto
quanto sei, a editora está a passar por algumas dificuldades financeiras e em subsistir. Vamos ver no que dá.

M.I. - A meu ver os Fantasy Opus têm muito mais qualidade do que bastantes bandas do género a nível Internacional. No entanto o mercado está saturado com tantas bandas no mesmo estilo. Pensas que isso poderá ser um empecilho para o sucesso da banda lá fora?

MC - Sim, o mercado está claramente saturado, e as pessoas estão saturadas do estilo, daí eu
achar que nós temos algo de interessante a dar ao estilo pela variedade que falámos anteriormente.
Para já o único empecilho á expansão da banda lá fora tem sido a relutância de agências de booking e de management estrangeiras em lidar com uma banda pouco conhecida. Temos feito inúmeros contactos nesse sentido, mas por uma razão ou outra, nunca se concretizam. Agora até há viagens de avião low-cost, não percebo porque a relutância em fazerem booking a bandas pouco conhecidas. A conclusão que estamos neste momento a chegar é que a única forma de uma banda “pequena”, se expôr, é pagar para ir em digressão com uma banda maior.
Isso é triste porque desvirtua o principio da meritocracia, que diria que as melhores bandas tocam mais. Mas não, as bandas com dinheiro para investir é que chegam lá, se tiverem qualidade e estofo para isso. No entanto da nossa parte continuaremos a trabalhar e apenas o futuro nos dirá o que vai acontecer.

M.I. - Penso que vocês se enquadram numa sonoridade Power Metal mas com Heavy Metal e outros estilos à mistura. Achas que esses sub-géneros têm potencial para vingar em Portugal, país à partida sem muitas tradições nesses estilos?

MC - O género e sub-géneros que mencionaste em termos teóricos tem sempre potencial
para vingar... mas não creio que se torne um estilo predominante na cena Metal Nacional num
futuro próximo. Acho que a cena vai-se manter mais ou menos inalterada, mas cada vez com mais bandas a fazerem sons que desafiam rótulos. Da nossa parte, podemos apenas continuar a trabalhar e a tentar ganhar o máximo de exposição possível.

M.I. - Qual a tua opinião acerca da cena Power Metal actual a nível Internacional?

MC - Bem, eu lembro-me das primeiras bandas que ouvi a fazerem o que na altura era
novidade para mim, o “Power Metal”, que não é mais do que uma mistura de Speed Metal com os elementos melódicos do Heavy Tradicional; ouvia Hammerfall, Gamma Ray, Edguy e Rhapsody. E adorei a potência, velocidade, melodia, qualidade de produção, coros e todos esses elementos. Muito mais gente gostou do estilo e como tal, essas bandas venderam muitos discos. Milhares de bandas surgiram, cópias umas das outras, e pior, sem substância musical, parecia que queriam tornar isto num fenómeno Pop, e claro, isto não é Pop, e que tudo o que é demais enjoa. Resultado; arruinaram o mercado, porque há menos publico (que procura agora coisas mais diversificadas) e agora as bandas que se aguentam melhor neste campo, na minha opinião, a nível de aceitação, são as de heavy tradicional, por alguma razão os últimos albuns de bandas como Gamma Ray estão muito mais tradicionais, e os Edguy, aquilo para mim é Hard Rock, que eu adoro, mas é Hard Rock. A cena actual é sustentada por alguns nichos. Acho que o desafio para uma banda que queira fazer Power Metal é não cair demasiado nos estereótipos do género. Foi assim que bandas como Kamelot prosperaram. Tentar introduzir elementos mais distintos, mais do que banda x tocar um estilo, creio que o que interessa é banda x ter o seu próprio estilo dentro do “bolo”, que se chama Power Metal.
Sou um pouco suspeito em falar disto, mas acho que Fantasy Opus tem já um estilo vincado que
pretendemos prosseguir, e portanto teremos sempre algum nicho que nos servirá de suporte. O
futuro o dirá.


M.I. - Recentemente deram um excelente concerto no Revolver Bar em Cacilhas ao qual tivemos a oportunidade de assistir. É em palco que vocês se sentem melhor ou sentem-se melhor em estúdio?

MC - Isso depende a que elemento da banda tu perguntas isso... Creio que eu e o Pedro
Arroja somos mais animais de estúdio, embora gostemos também bastante de tocar ao vivo.. Nos
casos do Nilson, do Cláudio e do Paulo Santos, essa diferença parece-me muito mais vincada e
tende claramente para tocar ao vivo.


M.I. - Vocês não têm dado muitos concertos ultimamente. Onde e quando o público poderá assistir amais concertos de Fantasy Opus?

MC - Pois não... acho que circula por aí que somos os “Bad Boys” e que impomos estas e
aquelas condições e que somos refilões. Aproveito para confirmar que sim, somos todos maus como as cobras e temos orgulho nisso (risos). Apenas impomos condições mínimas de dignidade para qualquer banda tocar. Houve um promotor no Norte que se recusou a pôr 100 euros na mão da banda para o jantar e despesas de deslocação (íamos gastar bem mais que isso), por ser “muito arriscado”. A partir daí está tudo dito.
Nós temos a filosofia de não pagar para tocar. A partir daí, infelizmente, isso restringe a quantidade de sitios onde uma banda de originais pode tocar em Portugal. Portanto respondendo á tua questão, só temos um concerto marcado neste momento, em Julho no Festival Saramaga Rock em Alenquer, estamos a preparar algumas coisas especiais para que esse seja um grande concerto. Temos algumas coisas a serem vistas para datas em Espanha, e a abertura de algumas bandas estrangeiras cá, mas não está nada confirmado, portanto falar nisso é mera especulação.

M.I. - Já há planos para começar a compôr um novo álbum?

MC - A composição é sempre ongoing. Desde a gravação do Beyond Eternity tem sido
especialmente lenta porque andamos sempre atarefados com alguma coisa, eu em particular, já não sei o que é ter um dia de folga há muitos meses. Mas neste momento temos uma música quase terminada e mais ideias para 4-5 mas ainda precisam de muito trabalho. Depois disso, devemos começar a trabalhar num épico estilo “warrior's call”, com muito trabalho acústico, muitas secções diferentes e um tema lírico consistente.
Tenho ideia que ainda vai demorar pelo menos mais 1-2 anos até termos tudo composto e pronto a gravar, não sei, não temos deadlines a cumprir e só vamos gravar quando olharmos para o que
temos em mãos e acharmos que é pelo menos de qualidade semelhante ao “Beyond Eternity”.


M.I. - A que objectivos os Fantasy Opus se propõem a nível Nacional e Internacional?

MC - A nível nacional vamos trabalhar para sermos considerados cada vez mais uma das
melhores bandas deste país. Vamos continuar a escolher a dedo os concertos onde tocamos e os
promotores com quem trabalhamos. O mercado aqui é muito pequeno e na zona da grande Lisboa, já tocámos na maior parte dos sítios. Gostávamos sinceramente de tocar no Norte de Portugal, não só porque as pessoas delá são espetaculares, mas também pelo excelente feedback de pessoas do Norte que nos enviaram email a dar-nos os parabéns pelo nosso som. A nível internacional, vamos continuar a lutar por ter exposição, falar com os media, revistas, blogs, podcasts, talvez arranjemos algumas datas lá fora. Uma fanbase constrói-se aos poucos e vamos trabalhar para isso.


M.I. - Como nasceu o teu gosto pela guitarra?

MC - O meu gosto pela guitarra começou meio inesperadamente, porque quando eu era puto
não ligava nada a música, queria era fazer desporto, que alias, continuo a practicar avidamente até aos dias de hoje. Tinha um colega meu de escola que tocava, e a primeira vez que o vi tocar fiquei completamente fascinado pelo som da distorção... o som que ele tocava era mais rock/blues e pronto, começou daí, ao mesmo tempo comecei a interessar-me mais por música, Rock, trabalhos Instrumentais, Grunge, e derivados... comecei a melgar os meus pais para me comprarem uma guitarra em segunda mão e pronto, quando eles me puderam comprar uma, comecei a trabalhar para me tornar num “rato de laboratório”, como me chama o Cláudio (risos), a praticar muito e a procurar ouvir muita música como forma de melhorar a minha capacidade como músico.

M.I. - Sabemos que tens estado a gravar o teu álbum a solo. Fala-nos um pouco do mesmo e de como estão a decorrer as gravações?

MC - Bem... o mínimo que posso dizer é que estão a ser sofridas... para termo de
comparação gravei o álbum todo de Fantasy Opus, guitarras Ritmo e solo em 4,5 dias. Neste
momento vou com 10 dias de gravação e apenas tenho gravadas as guitarras ritmo do álbum todo e a guitarra solo da única música completamente acústica do álbum. Este é um álbum que vai realmente testar a minha capacidade como músico, mas principalmente a minha capacidade técnica, porque existem frases e secções diabolicamente complexas e brutalmente técnicas. Posso dizer que se o conseguir gravar tal e qual como o tenho na minha mente ficarei extremamente orgulhoso. Quanto ao conteúdo do álbum, é um álbum conceptual, que retrata a vida de um personagem fictício desde o seu nascimento até este ter cerca de 25 anos de idade. O que tentei fazer foi uma coisa do tipo “soundtrack”, tentar pintar quadros com música. Cada música é feita a pensar em transmitir ao ouvinte como esse personagem se sentiu o como pensou nesse momento, portanto acho que é justo,no meu entender, classificar o álbum muito mais emocional do que outro rótulo qualquer que lhe queiram pôr. O Baixista será o David Santos, e o Baterista será o Bobby Jarzombek. Acho que o resultado final ainda está muito longe de poder ser visto, estimo pelo menos 6 meses a um ano de produção, mistura, e etc.
Para mim, acima de tudo, será o realizar de um sonho que tenho desde os primeiros álbuns
Instrumentais que ouvi como o “Surfing with the Alien”, o “Dragon's Kiss”, ou o “Rising Force”.
Mas a sua conclusão será ainda demorada, e sofrida, e por isso mesmo, dará muito mais gozo.




Entrevista por Mário Rodrigues